A
declaração de Luiz Inácio Lula da Silva no Oriente,
de que em economia "não dá para inventar", é
errada. Se não reinventar, não vai dar. É só
conferir a volta do rombo da Previdência. Há enorme desgaste
político, cortam-se benefícios, inventa-se o tal "fator
previdenciário", e o desequilíbrio retorna no momento
seguinte, justamente porque a recessão e a alta carga tributária
-consequências diretas desse modelo- reduzem a receita da Previdência,
por meio do aumento do desemprego e da informalidade. O que Lula precisa
é definir um plano de vôo a ser alcançado, sonhar
alto. Depois, incumbir técnicos de correr atrás da solução,
de analisar todas as hipóteses e apresentar a ele, Lula, vantagens
e desvantagens de cada uma. A decisão é de presidente,
a não ser que Lula queira repetir o padrão verborrágico-burocrático
do governo Fernando Henrique Cardoso. Para decidir, há que conhecer
todas as alternativas, e não apenas o prato pronto entregue pelos
burocratas da Fazenda.
O primeiro passo é clarear as intenções, definir
pontos-chave. O objetivo da nova estratégia será criar
ambiente econômico competitivo, capaz de estimular novamente o
investimento no país. Uma das pernas desse modelo é a
redução da carga tributária. Avança-se nessa
direção com um choque de gestão, de redução
consistente das despesas correntes. Lula precisa pedir ao Planejamento
trabalho nessa direção, com metas de redução
de despesas correntes, de redução da burocracia etc.
Mas não haverá choque capaz de compensar o custo da dívida
hoje em dia. A redução dos juros não é tarefa
simples, mas terá que ser enfrentada sob pena de o país
afundar sob o peso da dívida. Aí, a tarefa se desdobra
em duas. Uma, em como reduzir o tamanho da dívida pública,
direcionando os recursos para atividades produtivas. Essa indução
à mudança no portfólio dos fundos exige imaginação
financeira. Passa pela criação de alternativas de investimento,
por uma engenharia financeira que permita trabalhar com passivos existentes,
com fluxos de recebíveis (seja de projetos PPP, seja de transferências
constitucionais), com empresas endividadas, com negociação
da dívida ativa da União e outras formas criativas.
No campo do serviço da dívida, há que testar, sim,
o piso dos juros internos, as formas de cortar os canais de transmissão
com o risco Brasil e -em última instância- até mesmo
a concordata. Nessas análises, nenhuma hipótese pode ficar
de fora. Quem tem de decidir sobre a melhor alternativa é o presidente,
e não Joaquim Levy. Enquanto isso, identificar setores capazes
de obter taxas de retorno superiores a esse inacreditável "custo
Brasil". E aí se terá que avaliar com honestidade
a necessidade de preparar uma desvalorização cambial robusta,
tratando antecipadamente de montar estratégias para amenizar
o impacto sobre empresas endividadas em dólares e sobre o Tesouro.
É essa a discussão que terá que ser encarada, a
não ser que se pretenda, daqui a 10 ou 15 anos, entregar de vez
o país para a economia informal e para o crime organizado.
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