'EMBARGO' AMBIENTAL AMEAÇA EXPORTÇÕES DO AGRONEGÓCIO

UNESP Ilha Solteira - Área de Hidráulica e Irrigação

Mauro Zafalon

Brasil estará cada vez mais na mira dos concorrentes, diz o Ministério da Agricultura

Governo encomenda estudo sobre devastação florestal no mundo; Brasil ainda tem 69% das florestas originais; a Europa tem apenas 0,3%

O avanço do Brasil na produção de grãos, carnes e, agora, produtos agroenergéticos coloca o país ainda mais na mira dos concorrentes e dos importadores. O cerco aumenta e, além das tradicionais barreiras tarifárias e sanitárias, o país vai enfrentar, cada vez mais, a barreira ambiental. A avaliação é do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Preocupado com essa nova pressão, o ministro da Agricultura, Luis Carlos Guedes Pinto, encomendou à Embrapa Monitoramento por Satélite um estudo sobre a devastação de florestas primárias no mundo.

O estudo toma como ponto de partida 8.000 anos atrás e mostra que o Brasil ainda tem 69,4% das florestas originais. A Europa tem apenas 0,3%.

Olhando os números, o ministro diz: "Temos problemas, mas não podemos aceitar que aqueles que destruíram os recursos naturais do planeta venham a nos dar lição de moral e dizer o que fazer". E acrescenta: "Se a Amazônia tivesse sido ocupada pelas potências européias, dificilmente o país teria esses 69,4% [de florestas]".

Para o ministro, essa discussão sobre o avanço da agricultura brasileira estar calcada na derrubada de florestas precisa ser mais bem definida. "Não podemos aceitar passivamente a acusação de campeões do desmatamento, embora o fato de o país ainda manter a maior área de florestas não justifica e nem é necessária a derrubada de uma única árvore para esse avanço [da agricultura]."

O país pode triplicar a produção de grãos, de carnes e de produtos energéticos utilizando as áreas já existentes e aplicando tecnologias adquiridas nos últimos anos, diz Guedes.

Vantagens
Dois fatores jogam a favor do Brasil, diz o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues: produtividade e novas áreas a serem incorporadas.

O ex-ministro diz que a expansão da agropecuária não vai avançar sobre florestas e muito menos reduzir a oferta de alimentos em troca de produtos agroenergéticos. "Essa discussão é uma falácia."

O presidente da Monsanto no Brasil, Alfonso Alba, compartilha da idéia de que o avanço da produção pode ser feito em áreas menores. Com o foco em novas tecnologias de produção, a empresa aposta em uma geração de plantas que trará bom ganho de produtividade. No caso da soja, a alta poderá ser de até 20% em dez anos.

No setor energético, Rodrigues diz que as novas variedades de cana devem duplicar a produtividade em dez anos. O país utiliza hoje 3 milhões de hectares para a produção dos 14 bilhões de litros de álcool consumidos internamente.

Em dez anos, o consumo deve atingir 25 bilhões de litros e exigirá, nos patamares atuais de produtividade, área de 5 milhões de hectares. Com as novas variedades de cana, a área poderá ser reduzida para 2,5 milhões.

Mesmo que o Brasil tenha de abastecer o mercado externo, a produção será feita em áreas de pastagens. Uma média de mistura de 5% de álcool à gasolina exigirá 15 milhões de hectares de cana. O país tem à disposição 22 milhões de hectares apropriados para esse plantio.

Do lado da pecuária, há dez anos um boi era abatido com quatro anos e 20 arrobas. Hoje, o abate ocorre com um ano e meio e peso de 16 a 17 arrobas, afirma o ex-ministro.

 


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