IDH DO BRASIL MELHORA, MAS PAÍS CAI UMA POSIÇÃO EM RANKING DA ONU

UNESP Ilha Solteira - Área de Hidráulica e Irrigação

Antônio Gois e Luciana Constantino

IDH do Brasil melhora, mas país cai uma posição em ranking da ONU
Relatório traz estatísticas referentes a 2004 e indica aumento da renda e redução da desigualdade no país

O IDH do Brasil variou de 2003 para 2004 de 0,788 para 0,792, o que o mantém no grupo das 83 nações de desenvolvimento médio

O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil melhorou entre 2003 e 2004, mas o país caiu uma posição, de 68º para 69º, no ranking da ONU que compara indicadores sociais e econômicos de 177 países e territórios. Esses dados foram divulgados ontem pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) em seu Relatório de Desenvolvimento Humano de 2006.

O documento traz estatísticas referentes principalmente ao ano de 2004, quando o Brasil registrou um crescimento de 4,9% do PIB (Produto Interno Bruto), o melhor do governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Diferentemente do que ocorreu em anos anteriores, desta vez foi a renda, aliada ao avanço na expectativa de vida, o principal fator a contribuir para a melhoria do índice brasileiro. A educação, que nos últimos anos contribuiu positivamente, desta vez ficou quase estagnada.

Isso ocorreu em parte devido a uma mudança na metodologia de cálculo do índice e em parte por causa dos tímidos avanços na alfabetização de adultos.

O IDH do Brasil variou de 2003 para 2004 de 0,788 para 0,792, o que mantém o país no grupo das 83 nações de desenvolvimento humano médio (IDH entre 0,500 e 0,800).

Quanto mais próximo de 1, melhor é a situação do desenvolvimento humano. O país com melhores indicadores sociais no relatório foi mais uma vez a Noruega, com IDH de 0,965, enquanto o pior país foi também mais uma vez Níger, com índice de 0,311. Apesar do avanço brasileiro no IDH, o país perdeu uma posição porque Belarus (67º lugar) melhorou em um ritmo melhor. Acima do Brasil, na posição 68, está Dominica.

Na América Latina, 13 países tiveram desempenho superior ao do brasileiro, entre eles México, Cuba e Chile. Na expansão média anual, o Brasil teve avanços mais rápidos na segunda metade dos anos 80 e na segunda metade dos anos 90. Além da renda, um dos aspectos positivos levantados no relatório a respeito do Brasil foi a queda na desigualdade. Apesar de o Brasil ainda ostentar a 10ª maior desigualdade de renda entre 126 países para os quais há essa informação, o Brasil deixou de ser o mais desigual da América do Sul: foi superado por Bolívia e Colômbia.

Para obter esse avanço, o relatório diz que Brasil combinou forte performance econômica com o declínio da desigualdade e pobreza, elogiando o Bolsa Família, criado em outubro de 2003 para unificar os programas de transferência de renda. O desempenho brasileiro é avaliado pelo indicador de desigualdade de renda conhecido como Gini, que varia de 0 a 1 (o mais desigual). Nesse indicador, o Brasil tem 0,580. Ainda assim, continua um pouco mais desigual que África do Sul e Paraguai, ambos com 0,578.

Para o pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Sergei Soares, é preciso ter cuidado ao comparar indicadores de desigualdade de países muito diferentes porque, em muitos casos, as estatísticas não são de qualidade ou a renda não é o melhor critério. Ele diz, porém, que entre nações com informações relativamente confiáveis e comparáveis já está claro que o Brasil tem indicadores de desigualdade nos mesmos patamares de Chile e Colômbia, e que a África do Sul está roubando a "coroa" brasileira nesse ranking.

"O relatório traz excelentes notícias pelo lado da desigualdade, mas não fomos bem na educação. Durante a década de 90 tivemos excelentes notícias nessa área. A partir de 2000, no entanto, não houve quase nenhum avanço e a educação passou a jogar contra. Esse tem sido um ponto fraco do governo Lula, já que ainda não conseguimos aprovar o Fundeb e estamos com um sério gargalo no ensino médio", diz Soares.

O secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC, Ricardo Henriques, diz que a exclusão da matrícula de adultos no cálculo da taxa bruta de escolarização pesou no ranking: "A taxa de alfabetização de adultos está mantendo seu nível histórico de aumento. É uma pena que não esteja melhor e estamos trabalhando para acelerar isso, mas esse indicador influencia pouco no curto prazo o cálculo final. O que de fato prejudicou a posição do Brasil no ranking foi a exclusão de jovens e adultos no cálculo da taxa bruta de matrícula [razão entre o número de estudantes nos três níveis de ensino sobre a população de 7 a 24 anos]." Segundo Henriques, essa exclusão prejudicou o país: "O Brasil foi um dos mais prejudicados com a mudança porque fizemos um esforço grande no setor e que não aparecerá no cálculo do IDH".


 


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