RODRIGUES PREVÊ QUEDA AINDA MAIOR DA SAFRA

 

Cláudia Trevisan

A safra brasileira de grãos deste ano deverá ficar em 115 milhões de toneladas, 17 milhões de toneladas a menos que o previsto, o que representa a maior queda de produção por questões climáticas das últimas décadas. O anúncio foi feito ontem pelo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, que reivindica a liberação de pelo menos R$ 4,3 bilhões dos cofres públicos para socorro dos agricultores em dificuldade.
A previsão inicial do governo era de uma colheita de 132 milhões de toneladas de grãos. Em março, a estimativa foi reduzida a 119,5 milhões, número semelhante ao colhido no ano passado. Hoje será anunciado o novo cálculo do governo, que ficará próximo de 115 milhões de toneladas. A diferença levará a queda de R$ 10 bilhões na receita dos agricultores.
Rodrigues apontou três razões para a queda: seca na região sul, aumento dos custos de produção, com redução da renda do setor, e queda dos preços mundiais pelo excesso de oferta. A situação é agravada pela precariedade da infra-estrutura do país e a recente valorização do real perante o dólar, acrescentou o ministro.
"Os agricultores compraram adubo, defensivos e equipamentos agrícolas no ano passado, quando o dólar estava pouco acima de R$ 3, e agora estão vendendo seus produtos com um dólar a R$ 2,40", observou. Isso significa que gastaram mais para investir do que conseguirão obter na comercialização da produção.
O efeito da valorização do real sobre o setor agrícola foi um dos principais pontos de discussão na manhã de ontem no 17º Fórum Nacional, no Rio, do qual Rodrigues participou. O consenso entre os especialistas é que a cotação atual do dólar, próxima de R$ 2,40, impedirá a expansão da área cultivada no próximo ano. Como estão perdendo dinheiro pela diferença de câmbio entre 2004 e 2005, os agricultores terão menor disposição de investir neste ano.
Na opinião de Rodrigues, a valorização do real tem "terríveis reflexos" na agricultura. Somado aos outros fatores que afetaram a rentabilidade do setor, o câmbio poderá limitar o tamanho da área plantada e reduzir o seu padrão tecnológico, avaliou o ministro.
O economista José Roberto Mendonça de Barros e o ex-ministro da Agricultura Marcus Vinícius Pratini de Moraes sustentaram que a cotação do real no atual patamar irá reduzir as exportações do setor agropecuário nos próximo meses. "Assim como o juro real em algum momento afeta a atividade econômica, o câmbio valorizado reduz as exportações; é inevitável", afirmou Mendonça de Barros.
Pratini destacou que já há queda de 15% nas vendas de máquinas agrícolas, em uma indicação de que a área plantada poderá diminuir na próxima safra.
Neste quadro, o setor deverá enfrentar uma crise de crédito neste ano, com o aumento da inadimplência, avaliou o ministro da Agricultura. Para possibilitar a manutenção dos investimentos, Rodrigues defende a renegociação de débitos e a concessão de capital de giro para os produtores.
Segundo ele, o Banco do Brasil já decidiu refinanciar dívidas de cerca de R$ 3 bilhões dos agricultores do Sul afetados pela seca. Agora, diz, é necessário encontrar outras fontes que garantam recursos em valor semelhante para financiar a próxima safra.
Rodrigues quer mais R$ 1 bilhão para intervenções do governo no mercado, por ações como a compra de excedente de produção ou a concessão de créditos para transporte de produtos.

 



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