A
safra brasileira de grãos deste ano deverá ficar em 115
milhões de toneladas, 17 milhões de toneladas a menos
que o previsto, o que representa a maior queda de produção
por questões climáticas das últimas décadas.
O anúncio foi feito ontem pelo ministro da Agricultura, Roberto
Rodrigues, que reivindica a liberação de pelo menos R$
4,3 bilhões dos cofres públicos para socorro dos agricultores
em dificuldade.
A previsão inicial do governo era de uma colheita de 132 milhões
de toneladas de grãos. Em março, a estimativa foi reduzida
a 119,5 milhões, número semelhante ao colhido no ano passado.
Hoje será anunciado o novo cálculo do governo, que ficará
próximo de 115 milhões de toneladas. A diferença
levará a queda de R$ 10 bilhões na receita dos agricultores.
Rodrigues apontou três razões para a queda: seca na região
sul, aumento dos custos de produção, com redução
da renda do setor, e queda dos preços mundiais pelo excesso de
oferta. A situação é agravada pela precariedade
da infra-estrutura do país e a recente valorização
do real perante o dólar, acrescentou o ministro.
"Os agricultores compraram adubo, defensivos e equipamentos agrícolas
no ano passado, quando o dólar estava pouco acima de R$ 3, e
agora estão vendendo seus produtos com um dólar a R$ 2,40",
observou. Isso significa que gastaram mais para investir do que conseguirão
obter na comercialização da produção.
O efeito da valorização do real sobre o setor agrícola
foi um dos principais pontos de discussão na manhã de
ontem no 17º Fórum Nacional, no Rio, do qual Rodrigues participou.
O consenso entre os especialistas é que a cotação
atual do dólar, próxima de R$ 2,40, impedirá a
expansão da área cultivada no próximo ano. Como
estão perdendo dinheiro pela diferença de câmbio
entre 2004 e 2005, os agricultores terão menor disposição
de investir neste ano.
Na opinião de Rodrigues, a valorização do real
tem "terríveis reflexos" na agricultura. Somado aos
outros fatores que afetaram a rentabilidade do setor, o câmbio
poderá limitar o tamanho da área plantada e reduzir o
seu padrão tecnológico, avaliou o ministro.
O economista José Roberto Mendonça de Barros e o ex-ministro
da Agricultura Marcus Vinícius Pratini de Moraes sustentaram
que a cotação do real no atual patamar irá reduzir
as exportações do setor agropecuário nos próximo
meses. "Assim como o juro real em algum momento afeta a atividade
econômica, o câmbio valorizado reduz as exportações;
é inevitável", afirmou Mendonça de Barros.
Pratini destacou que já há queda de 15% nas vendas de
máquinas agrícolas, em uma indicação de
que a área plantada poderá diminuir na próxima
safra.
Neste quadro, o setor deverá enfrentar uma crise de crédito
neste ano, com o aumento da inadimplência, avaliou o ministro
da Agricultura. Para possibilitar a manutenção dos investimentos,
Rodrigues defende a renegociação de débitos e a
concessão de capital de giro para os produtores.
Segundo ele, o Banco do Brasil já decidiu refinanciar dívidas
de cerca de R$ 3 bilhões dos agricultores do Sul afetados pela
seca. Agora, diz, é necessário encontrar outras fontes
que garantam recursos em valor semelhante para financiar a próxima
safra.
Rodrigues quer mais R$ 1 bilhão para intervenções
do governo no mercado, por ações como a compra de excedente
de produção ou a concessão de créditos para
transporte de produtos.
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