LUÍS
NASSIF
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Em
dezembro de 1994, véspera da posse de FHC, alertei daqui que o FHC
vaidoso venceria o inteligente. Lembrava que não fazia parte da
formação de FHC a gerência, atividade que exigia disciplina,
senso de detalhe, comando. A vocação de FHC era a das grandes
formulações típicas de um presidente de conselho,
que exigem imaginação criadora, o oposto da disciplina
gerencial. Se o inteligente prevalecesse -alertei-, FHC colocaria abaixo de si um CEO, um superministro capaz de gerenciar e colocar as idéias em prática. Mas o vaidoso jamais admitiria dividir os louros da vitória, assim como não admitiria sua fraqueza para a gestão. Na época, FHC respondeu publicamente que o inteligente era inteligente o suficiente para impedir que o vaidoso prevalecesse. Pensei com meus botões e escrevi: pela resposta, o vaidoso já venceu. Infelizmente, estava certo. Para Sérgio Motta, FHC jactou-se de que iria mostrar a todos que não só era melhor intelectual como seria melhor gestor do que eles. Deu no que deu. Agora, com a crise de energia, o inteligente tem um ano e meio para a revanche. Não há modelo mais eficiente que a economia de guerra. Na guerra as prioridades são claras, os recursos, escassos, há mobilização popular em torno de objetivos nacionais, tudo a exigir planejamento adequado para organizar os meios. É por isso que o pós-guerra, no final dos anos 40, mudou a face das organizações e dos países -e mudou o país. O Brasil moderno foi gerado ali, em torno de conceitos que nada tinham a ver com planificação, mas com pensamento organizado, identificação de problemas, de recursos e de processos e mobilização dos agentes econômicos. Por paradoxal que seja, a crise energética proporciona ao governo FHC a última chance de alterar definitivamente seu estilo passivo, a mesma chance que ele poderia ter aproveitado após a reeleição e após a mudança de câmbio e jogou fora. Naquelas oportunidades, o gol ficou escancarado esperando o chute, mas a inércia venceu. Agora não há espaço para a inércia: é pegar ou "sarneyzar". Um grande empresário paulista, extremamente crítico da inércia fernandista, observava que, pela primeira vez, o governo se envolve em um programa de gestão: o tal "ministério do apagão". Há objetivos claros nessa ação -aumento da oferta de energia, mudança da matriz energética, mudança de hábitos de consumo-, um comando claro, supraministerial, definição de ações, tomada diária de medidas, mobilização dos consumidores e fornecedores e vontade de resolver a questão. Estão sendo agregadas a esse esforço experiências de planejamento do setor privado, por meio da Fundação de Desenvolvimento Gerencial, mobilização dos governos estaduais, divulgação das ações, identificação dos empecilhos, busca de alternativas junto à sociedade, criação simultânea de facilidades tarifárias, fiscais e financeiras etc. Consegue-se até a presença de FHC em inauguração de termelétricas, passando ao cidadão a sensação de que, finalmente, o presidente se diz presente em tema de interesse geral. Observava esse empresário que, se quiser escapar da "sarneyzação", deveria FHC aprender com esse novo estilo de gestão (fruto do desespero) e aplicá-lo em mais dois temas fundamentais: a questão das exportações e um tema social. Monte-se a mesma estrutura, confira a seus executores o mesmo poder e a mesma urgência, definam-se as metas e as ações e as apresente claramente à opinião pública, como um compromisso a ser cobrado daqui a um ano e meio. E mande brasa! Nos próximos 18 meses, em vez de tertúlias sociológicas e viagens ao exterior, se verá o presidente empenhado até a medula em acompanhar pessoalmente esses três itens, cobrar resultados, incorporar o tema semanalmente a seus discursos, premiar as melhores ações, demitir quem não funcionar. Enfim, agir como um executivo. Sendo bem-sucedido, conseguirá salvar parte de sua biografia e, principalmente, incutir definitivamente os valores da gerência ao governo, amarrando todos os seus sucessores a esse compromisso de identificar problemas e buscar resultados. |
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