Começaremos
a próxima semana com o horário de verão. O objetivo
é economizar energia. Dentro de alguns dias, enfrentaremos restrições
no abastecimento de água. O objetivo é o mesmo -poupar
o precioso líquido. É incrível que um país
como o Brasil, abundante em água (que dá para abastecer
a população, irrigar a agricultura, sustentar as indústrias
e fazer girar as turbinas de hidroelétricas), tenha de racionar
os dois componentes mais fundamentais do crescimento econômico
e do progresso social -a eletricidade e a água.
Na verdade, a propalada abundância de água é relativa,
especialmente quando se consideram os hábitos perdulários
de grande parte de nossa população. Gente que esbanja
e desperdiça esses dois componentes, exagerando no tempo de banho
no chuveiro elétrico, na iluminação de cômodos
vazios, na lavagem de calçadas com o jato do esguicho, no embelezamento
dos carros e no uso de bacias de privadas propelidas a água potável.
Um abuso!
É urgente intensificar nos currículos escolares e nos
programas de televisão informações que levem os
gastadores a controlar os maus hábitos. Cerca de 77% do planeta
Terra é recoberto por água. Mas apenas 0,3% dessa cobertura
pode ser aproveitada pelo homem. Portanto a referida abundância
é enganosa.
Nossas crianças e adolescentes precisam saber disso e interiorizar
esse conhecimento de modo a moldar comportamentos comedidos. E as águas
subterrâneas? O aquífero Guarani, com área predominante
no Brasil, possui aproximadamente 37 mil quilômetros cúbicos
dessas águas (estudo das secretarias de Meio Ambiente dos Estados
de São Paulo e da Bavária, Alemanha, 2001). Mas isso não
é infinito. Tem seus limites. Hoje, já existem cerca de
300 mil poços profundos em plena operação, abastecendo
indústrias, hospitais, condomínios, hotéis etc.
A cada ano, são perfurados 10 mil adicionais. O ritmo é
frenético. Segundo a Cetesb, 72% dos municípios de São
Paulo são parcialmente abastecidos por essas águas.
Nos próximos anos, a exploração subterrânea
deverá aumentar, pois as águas superficiais dos mananciais
vêm sendo ameaçadas por habitações irregulares
e pelo despejo de dejetos nos rios e represas -o que, mais uma vez,
retrata a falta de educação de quem assim age. Ou seja,
as águas profundas também devem ser consumidas com responsabilidade,
mesmo porque não se conhece ainda a velocidade de reenchimento
dos aquíferos.
O resumo dessa trágica ópera é que falta água
porque falta educação. Países como Israel e todo
o Oriente Médio, que sofrem com a escassez de água, ou
como a China, que tem o lençol freático rebaixado de forma
pavorosa a cada ano, ensinaram seus povos a usar a água com inteligência.
Será que teremos de chegar ao "fundo do poço"
para, então, aprendermos a economizar o precioso líquido?
Não. A geração mais velha precisa ensinar a geração
mais nova a usar a água com zelo para que este país possa
progredir. Temos de agir já e de maneira firme e solidária.
|