Há
uma grande notícia e um grande problema envolvendo a agricultura
brasileira. A notícia é que, em alguns anos, o Brasil
será o maior exportador agrícola do mundo e terá
papel-chave na produção de combustíveis renováveis.
Além disso, dentro de pouco tempo, passará a comandar
os mercados de algodão e frutas tropicais, além de soja,
açúcar, frango, suínos e café.
O problema será como financiar essa expansão - algo que
será facílimo assim que as taxas de juros internas convergirem
para patamares civilizados.
O desafio estratégico é dos maiores da história
do país. As previsões apontam para o esgotamento das fontes
fósseis de energia nos próximos 40 anos. Ainda não
foram viabilizadas fontes alternativas. Mesmo se se viabilizarem, o
motor a combustão ainda dominará o cenário nesse
período. Por isso mesmo, a energia será o novo paradigma
para a agricultura do século 21, criando uma janela inédita
de oportunidade para o álcool brasileiro. Já há
tecnologia, preço, cadeia produtiva trabalhando de forma integrada.
E a própria indústria do petróleo percebe que o
etanol será a maneira de dar sobrevida ao seu próprio
negócio.
Embora teoricamente todo país possa produzir energia renovável,
a tendência natural será convergir para países tropicais
em desenvolvimento, que têm sol e disponibilidade de terra, constata
o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.
Hoje em dia, o Brasil consome 14 milhões de litros de etanol
para a frota de automóveis bicombustíveis -750 mil veículos
produzidos em pouco tempo. De maio para cá, a venda desse tipo
de carro superou a dos veículos convencionais. Estima-se em 2013
uma frota de 8 milhões de veículos bicombustíveis.
Só para atender o mercado interno, haverá a demanda de
mais 1,8 milhão de hectares, além do 1,3 milhão
atual.
Há um conjunto de desafios para consolidar o programa. O primeiro
é transformar o etanol em commodity, com parâmetros definidos
internacionalmente -elemento fundamental para a criação
de um mercado internacional. O segundo desafio será acelerar
os avanços tecnológicos. Foram criados um pólo
de agroenergia na Embrapa e um consórcio envolvendo faculdades
de agronomia. O terceiro será o financiamento. O custo de um
hectare de cana plantada é de US$ 1.000. Para atender a demanda,
serão necessários US$ 3 bilhões.
Pecuária
As razões por que a pecuária brasileira se livrou da grande
crise de inadimplência do início do Plano Real foram reveladas
ontem pelo vice-presidente de Agronegócios do Banco do Brasil,
Ricardo Conceição.
Em pleno Plano Cruzado, ocorreu o famoso episódio de caçar
bois no pasto, ordenado pelo então ministro da Fazenda, Dilson
Funaro. Os pecuaristas se recusavam a vender carne aos preços
de tabela. Funaro ordenou a Conceição que mandasse um
fax ao Banco Central, cortando todo o crédito ao setor.
Cortou-se, acabou o plano, passaram os anos e se esqueceu de revogar
a proibição. Só uns três ou quatro anos atrás
se percebeu o cochilo. Graças a ele, a pecuária brasileira
logrou um salto sem precedentes.
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