Os
dados trazidos pelo IBGE sobre o avanço do PIB no primeiro trimestre
de 2004 são animadores, mas longe do que o Brasil pode e necessita
produzir. É preciso considerar que a base de comparação
utilizada é das mais precárias, pois o ano de 2003 foi
marcado por um recuo do PIB brasileiro da ordem de -0,2%. Por sua vez,
o avanço do PIB nos países mais desenvolvidos, e até
mesmo nos países de igual ou pior desenvolvimento do que o Brasil,
foi superior ao nosso.
Em 2003, tivemos um PIB de R$ 1,515 trilhão, o que corresponde
a aproximadamente US$ 493 bilhões usando-se um valor do dólar
médio no ano de R$ 3,07.
Já foi o tempo em que nos vangloriávamos de ser a sétima
ou a oitava economia do mundo. Com o fraco desempenho de 2003, o Brasil
caiu da 12ª para a 15ª posição no ranking mundial.
E, em termos do PIB per capita, ocupamos o 78º lugar.
Em 2003, a renda per capita dos brasileiros -marcada por sua terrível
e conhecida má distribuição- foi de apenas US$
2.789. A Jamaica teve desempenho melhor, com uma renda per capita de
US$ 2.962. A Argentina, que foi destroçada por sucessivas crises
financeiras e finalmente pela aventura da moratória, tem renda
per capita de US$ 3.322.
É um absurdo que, com tanta riqueza espalhada em um grande continente,
o Brasil gere menos de 1% do PIB mundial e, em termos de renda per capita,
fique atrás de países como o Líbano, o Panamá,
a República Dominicana e Barbados!
Se formos nos comparar com os países ricos, então as diferenças
são brutais. Enquanto um brasileiro tem uma renda per capita
de US$ 2.789, um americano tem de US$ 37.312!
A nossa caminhada é longa. E será penosa. Afinal, ficamos
patinando nas últimas três décadas e, com isso,
recuando no ranking mundial.
Felizmente, a lavoura continua sendo a salvação nacional.
Só entre 2002 e 2003, o PIB da agropecuária avançou
20%. A participação relativa da indústria e dos
serviços caiu 1% e 2%, respectivamente, e a demanda das famílias
despencou 3,3%! Não fosse a agropecuária, estaríamos
pior.
Ou seja, os dados positivos do primeiro trimestre de 2004 estão
sendo comparados com uma situação muito precária,
tanto do ponto de vista interno como externo. O fato concreto é
que, em 2003, o Brasil encolheu seu PIB, derrubou a renda e estrangulou
o consumo.
Daqui para a frente, o sucesso na caminhada vai depender de medidas
corajosas. Não é possível continuarmos com juros
estratosféricos e impostos intoleráveis. Não é
viável assistir impunemente à explosão da informalidade.
Na informalidade, as pessoas ficam desprotegidas, e a concorrência
torna-se desleal. Não seria melhor fazer um esforço para
baixar os juros e os impostos em troca da incorporação
de mais pagadores? Essa é a proposta que todos fazem, mas que
até hoje nenhum governo se dispôs a realizar. Para eles,
no final do ano, foi sempre mais fácil aumentar os impostos e
elevar os juros. Precisamos reverter essa tendência.
|