O GOVERNO ELETRÔNICO
DE MÁRIO COVAS 

Luís Nassif



 
          Um governo sério exige um executivo sério, mas exige boa tecnologia de informações para garantir o controle sobre a administração. A gestão financeira de Mário Covas foi possível graças ao governo eletrônico implantado no Estado. E o governo eletrônico surgiu porque, como grande executivo, Covas sempre demandou informações gerenciais.
          No início, queria relação de companhias terceirizadas, não tinha. Com as demandas do governador, começaram a ser organizados todos os bancos de dados, especialmente das empresas públicas, que eram caixas pretas. No caso dos contratos, todos foram colocados no banco de dados e classificados. A partir daí foram identificados os absurdos, diferenças de preços. Na comparação do setor de vigilância, por exemplo, havia diferenças de preços de um para dez na mesma empresa.
          De posse desse levantamento, Covas deu início ao grande ajuste fiscal de seu governo. Os contratos eram divididos em quartis. Os 25% mais caros exigiam que o órgão contratante explicasse a razão e negociasse. Seis meses depois, procedia-se a novo levantamento. Com a renegociação dos 25% mais caros, o valor médio caía e apareciam nossos contratos no quarto quartil. Exigia-se nova rodada de negociações para reduzir os valores. E assim por diante.
          Com o banco de dados estruturado, o passo seguinte foi definir valores de referência, levando em conta preço da mão-de-obra, encargos sociais, material utilizado, beneficio de despesa indireta (margem de lucro), baseados em estudos referenciais da FGV e da Fipe.
          Se se fosse corrigir o preço da alimentação em presídios dos tempos do governo Luiz Antonio Fleury, hoje estaria em R$ 15,00. Com o preço de referência, o valor ficou em R$ 5,81. Foi esse preço de referência que permitiu ao Rio de Janeiro identificar o sobrepreço do chamado "rei das quentinhas".
Hoje todos os contratos de alimentação de preços saem por R$ 5,81. Se alguma unidade de compra assinar por um centavo a mais, o preço dele sai na página de Internet em vermelho. Vai ter que apresentar uma boa justificativa, senão a Corregedoria vai atrás.
          Com os levantamentos de dados e comparação de contratos, foi possível identificar vários tipos de golpes contra o Estado. Em um deles, em lavagem de roupa em hospital, descobriu-se que o sujeito que pesava as roupas (o pagamento era por quilo) as molhava antes de pesar. Com isso, aumentava o preço em 30%.
          Com as informações sob controle, foram ministrados cursos de treinamento para gestores de contrato. Antes, o gestor raramente havia visto um contrato nem sabia o que medir. Na maioria das vezes se pagava o máximo previsto no contrato, independentemente da medição.
          Segundo os dados da Secretaria de Estudos Estratégicos, esse monitoramento de contratos permitiu uma economia de R$ 3,9 bilhões de 1995 a 2000, ou 27,1% sobre os contratos medidos.
          Ponto relevante do modelo Covas era o da responsabilização do chefe. Com os dados, Covas fazia reuniões com o secretariado no Salão dos Pratos e mostrava os gráficos de dispersão. Clicando no pontinho, aparecia o nome da empresa que estava pagando mais. Então chamava o secretário ou dirigente da empresa para explicar na frente de todo mundo. Na primeira reunião, ninguém sabia. Nas seguintes, todos trataram de se informar sobre os contratos de sua área.
          Uma das grandes polêmicas do governo Covas foi sobre salários de professores. Covas tinha dois assessores com um notebook que era diariamente atualizado, com todos os dados do Estado. Certa vez, na frente de um professor irado, levantou o quanto ganhava e o quanto havia tido de aumento nos últimos anos.
          Além disso, todas as demandas de prefeitos e deputadas eram arquivadas e acompanhadas. Certa feita um prefeito criticou o fato de não se ter tomado determinada previdência, e o notebook do assessor de Covas indicou que a falha era do prefeito, que não havia providenciado determinada documentação.



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