PROPOSTAS PARA UM NOVO GOVERNO Luís Nassif |
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Há muitos anos venho defendendo que a nova etapa das ações públicas de governo deve incorporar ferramentas gerenciais modernas, especialmente utilizando os novos sistemas de comunicação. No episódio com o Canadá, no ano passado, por exemplo, chamei a atenção para o fato de que, nos países desenvolvidos, a opinião pública é heterogênea e que o uso de estratégias de comunicação ajudaria a conquistar apoio para causas brasileiras da mesma maneira que fazem as empresas em suas ações de "lobby". A ofensiva do Ministério da Saúde nos EUA, em torno do programa da Aids, comprovou pioneiramente o potencial desse tipo de atuação. O passo que antecede essas ações são os programas de qualidade total, a definição de planejamento estratégico, a criação de indicadores de acompanhamento, que passam a conferir ao gestor enorme capacidade para diagnosticar problemas e coordenar soluções. Em geral, essas propostas esbarram em vários tipos de preconceito, daqueles que consideram que tratar o Estado como empresa significa abrir mão de sua missão social. É evidente que não significa. A diferença entre o Estado e a empresa é sua missão. Empresas visam o lucro, Estados buscam o bem-estar de seus cidadãos. As ferramentas de gestão visam permitir a cada qual cumprir da melhor maneira sua missão. O segundo tipo de preconceito é dos macroeconomistas, que acham que tudo se resolve com o manejo de ferramentas tipo câmbio, juros e tributos. Entra governo, sai governo e a discussão não consegue sair desse terreno pobre, primário e reducionista. Agora, os economistas do PT em boa hora explicitam o que pode vir a ser o programa econômico do partido, mas com ênfase única na macroeconomia. Quando a ala racional do PT terminar de desbastar seu plano econômico, as diferenças macroeconômicas em relação à atual fase do governo FHC serão de mera ênfase, especialmente depois que foram corrigidos os erros clamorosos nas políticas monetária e cambial do primeiro governo. Essa indiferenciação será complicada, porque na campanha colidirá com a retórica do "nada-será-como-antes", que caracteriza toda campanha de oposição. A revolução que está para ser feita, o corte, o avanço, é de ordem gerencial, seja com Lula, Ciro ou Serra (de Itamar, é exigir demais). É esse o tema que tem que ser incluído na agenda de quem pretender ser um avanço, não um rompimento, com o que aí está. O "plano de racionamento" é o exemplo concreto do que se poderá conseguir com o uso planejado dessas ferramentas gerenciais. O primeiro passo é definir claramente o objetivo -no caso, economia de energia. O segundo, montar indicadores claros -as metas quantitativas de redução de consumo. Depois, planejar uma operação articulada, organizando todas as ações que poderão contribuir para alcançar a meta proposta. Em todo o processo, há a necessidade de comunicar claramente o objetivo aos cidadãos, para obter sua adesão. Finalmente, proceder a balanços periódicos e à revisão e ao aprimoramento permanente das ações propostas. Se não fosse um governo tão elitista, essas ações seriam completadas com concursos para as melhores idéias, premiação para os melhores resultados. O "plano do racionamento" não foi uma ação deliberada de governo, foi um ato de desespero, mas que demonstrou, na prática, o potencial extraordinário desse tipo de mobilização popular. Ora, o PT tem se notabilizado pelas experiências com orçamento participativo, com organizações sociais, com articulação de grupos sociais. O que o partido deveria fazer, desde já -e não apenas ele, mas o PSDB de Serra e o PPS de Ciro e Freire-, é selecionar seus melhores quadros e matriculá-los imediatamente em um curso de qualidade total, para que absorvam seus princípios, aprendam suas ferramentas e saibam como adaptá-las criativamente para buscar resultados na gestão pública. Com essas ferramentas de planejamento e gestão, comecem desde já a desenhar de maneira concreta seu plano de governo. Mostrem como irão atuar para resolver o problema das exportações, da inclusão social, dos avanços tecnológicos, tudo desenhado em torno de planejamento, planos quinquenais, metas anuais, respeitando os recursos existentes e alavancando o país com idéias criativas e mobilizadoras. |
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