PRODUTOR BUSCA ALTERNATIVA AO MILHO E À SOJA

 

Mauro Zafalon

O Brasil não é só milho e soja. Ao mesmo tempo em que novas áreas são incorporadas à agricultura, os produtores começam a optar por novos produtos ou a voltar ao plantio de outros que estavam praticamente esquecidos.
Amendoim, girassol, canola e sorgo são alguns desses produtos que começam a ganhar espaço. Os dados de área plantada a serem divulgados hoje pela Conab devem confirmar o avanço.
Alguns desses produtos aparecem como uma opção de rotação de cultura. Outros são incorporados ao sistema de produção porque substituem culturas de maior custo e menos adequadas para determinados períodos do ano.
É o caso do girassol no sudoeste goiano, que ganha espaço do milho safrinha. Outros produtos são incorporados à lista de opções de produção por agricultores que querem diversificação. O amendoim rouba espaço da soja em áreas de Mato Grosso.
A soja, que nos últimos três anos roubou espaço de todas as outras culturas devido aos elevados preços da oleaginosa, já não mostra um cenário tão atraente.
Alguns produtores começam a substituir a oleaginosa. Vanderlei Reck, de Campo Novo do Parecis (MT), partiu para o amendoim para não ficar só na dependência da soja. Reck diz que pretende pôr os pés em várias canoas: reduziu a área de soja e planta amendoim e algodão.
O amendoim foi uma cultura tradicional até a década de 70, mas, por problemas de produtividade e de qualidade, o produto praticamente foi esquecido. Hoje, com a introdução de novas variedades e controle de qualidade, a produção volta a tomar fôlego, principalmente em São Paulo.
Inácio Godoy, pesquisador e especialista em melhoramento genético do Instituto Agronômico de Campinas, diz que a área plantada, que cresceu de 15% a 20% em 2003, volta a ter aumento de 25% a 30% neste ano. A área de plantio já supera 100 mil hectares.
Godoy alerta, no entanto, que o amendoim não é uma cultura de larga escala. É preciso um controle contínuo desde a lavoura, no transporte e na armazenagem. A qualidade é um fator essencial.
Até há poucos anos, o produto brasileiro era estigmatizado pela má qualidade, o que não ocorre mais. Outro empecilho, a baixa produtividade, foi resolvido com a utilização de novas variedades. Até 1999, os produtores conseguiam 2.000 quilos por hectare. A produção atual já está entre 2.500 e 3.000 quilos, diz Godoy.

Girassol
Outro produto que ganha a preferência dos produtores, principalmente em Goiás, é o girassol. As vantagens dessa cultura na safrinha são grandes em relação ao milho, diz Tasso Torres, engenheiro agrônomo da fazenda Barra Bonita, localizada em Chapadão do Céu, no sudoeste de Goiás.
O lucro desse produto supera o do milho. Além disso, o plantio de girassol promove uma reciclagem de nutrientes, favorecendo a cultura seguinte. Torres acrescenta à lista dos benefícios do girassol o fato de a cultura não ser concorrente com o milho e a baixa inadimplência dos compradores.
Quanto aos compradores, o produtor Arcides Scopel, de Jataí (GO), diz que os contratos antecipados feitos com a Caramuru Alimentos são lucros certos. Ele recebeu US$ 11 por saca neste ano e teve gasto de US$ 6 a US$ 7 na produção.
O engenheiro agrônomo Eurípedes Barsanulfo de Souza, da região de Jataí, diz que o fato de o girassol dar maior rentabilidade do que o milho e o sorgo faz a área crescer na região. Em 2005, a área será de 5.000 hectares, bem acima dos 1.800 de 2003.
Torres, Scopel e Barsanulfo concordam em uma coisa: a área de plantio vai continuar crescendo. Decidido o plantio de verão, os produtores já começam a ser procurados pelas empresas para acertos de contratos para a safrinha do próximo ano. O plantio ocorrerá em fevereiro e as indústrias oferecem R$ 28 (US$ 10,13 segundo a cotação de ontem) por saca de girassol para os contratos do próximo ano.
Osvaldo Vasconcellos Vieira, pesquisador da Embrapa Soja, diz que a área de girassol do país já atinge 100 mil hectares e a tendência é de avanço ainda maior com a aprovação do biodiesel.

Canola
Outra cultura que começa a atrair os produtores do Centro-Oeste é a canola. Também rentável e com contratos de compra antecipados, essa cultura tem algumas desvantagens em relação ao girassol.
"A logística da colheita é mais complicada", diz Torres. São necessárias adaptações nas colheitadeiras de soja e nos caminhões para o transporte devido ao tamanho reduzido do grão.
O ciclo curto da produção e a exigência da utilização de pouco herbicida acabam sendo fatores positivos, diz Torres.

 
O VAIVÉM DAS COMMODITIES
China volta
A China voltou ao mercado de soja e provocou alta de 2,5% ontem nos contratos de maio. Os chineses compraram 4,1 milhões de toneladas de soja da safra 2004/5 dos norte-americanos, volume superior ao 1,5 milhão do mesmo período da safra 2003/4.

Pior para o Brasil
Os chineses haviam pisado no freio nas compras de soja em maio, bem no momento em que o Brasil terminava a colheita. As importações de soja feita pelos chineses somam 18 milhões de toneladas de janeiro a novembro, volume 6% inferior ao do mesmo período de 2003.

Fundos compram
A posição dos fundos de investimento pode dar sustentação aos preços da soja, por ora. Fernando Muraro, da Agência Rural, diz que, há uma semana, os fundos tinham 50 mil contratos vendidos. Agora só têm 30 mil. Além disso, nos dois últimos pregões compraram 15 mil.

Brasil vai à China
Uma missão brasileira vai à China para discutir aspectos técnicos na importação de soja em grãos e de óleo de soja pelo país asiático, informou ontem Gilson Cosenza, assessor de assuntos internacionais do Departamento de Defesa e Inspeção Vegetal do Ministério da Agricultura, segundo a Reuters.

Devagar
Os registros de exportação de soja brasileira da safra nova somavam apenas 734 mil toneladas até o final do mês passado, segundo dados da Abiove e da Secex. Esse volume representa queda de 86% em relação ao do mesmo período do ano anterior.

Ritmo menor
As exportações de carnes mantêm tendência de alta. Até o dia 12, as exportações médias diárias deste mês atingiram US$ 29 milhões, ritmo que, se for mantido até o final do mês (o que pode não ocorrer devido aos feriados), elevaria o total do mês para cerca de US$ 650 milhões. O volume já exportado deste mês supera em 47% o do mesmo período de 2003.

Leite desaquecido
Os dados desta semana da Secex mostram o bom desempenho do setor lácteo. Após ter atingido o primeiro superávit da história nesse setor em novembro, as importações de leite mostram forte desaceleração neste mês. Estão 99% abaixo das de dezembro de 2003.

Preços agrícolas
A primeira quadrissemana deste mês foi de forte aceleração nos preços agrícolas, que subiram 5,34%, segundo acompanhamento do Instituto de Economia Agrícola. Em novembro, os preços tinham subido 3,94%.

O que sobe
Nelson Martin, coordenador da pesquisa do IEA, destaca os reajustes de preços: aves (28%), café (19%) e ovos (16%). A carne suína (13%) e a laranja (10%) completam a lista dos produtos que mais subiram. Soja (8%) e trigo (7%) estiveram entre as quedas.

Vendas fracas
O preço do quilo do frango vivo na granja recuou para R$ 1,80 ontem, 5,3% abaixo do de sexta-feira. As vendas fracas provocaram o recuo dos preços.
 
ANÁLISE DE MERCADOS
O preço do algodão voltou a apresentar redução nas principais regiões produtoras. O excesso de mercadoria existente no Estado do Mato Grosso derrubou o preço da fibra no mercado interno.

O bom volume de arroz nas cooperativas do Rio Grande do Sul e as chuvas das últimas semanas derrubaram o preço do cereal nas praças de negociação. A saca de 50 kg do tipo agulhinha recuou para até R$ 23.
 



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