Dois
setores mais comunicações foram os segmentos mais dinâmicos
do país nos últimos 10 anos, afirma IBGE
A indústria extrativa mineral (basicamente petróleo),
a agropecuária e o setor de comunicações foram
os segmentos mais dinâmicos da economia brasileira no período
de 1992 a 2002. Cresceram a taxas
expressivas e ajudaram a alavancar o PIB (Produto Interno Bruto) durante
o período. Em contrapartida, a indústria de transformação,
considerada por especialistas como o "termômetro" do
nível de atividade econômica, teve um desempenho ruim,
com uma expansão menor do que a média. Esse é o
cenário apontado por dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística), obtidos pela Folha, sobre a evolução
do PIB (soma de toda a produção de bens e serviços
do país) por setores.
O PIB da agropecuária teve um crescimento acumulado de 47,43%
no período. Ao ano, a expansão média chegou a 4,31%.
O setor teve, no entanto, desempenho negativo em dois anos -1993 e 1997.
No ano da desvalorização do real, 1999, a agropecuária
registrou seu melhor resultado: 8,33%. Foi ajudada, em parte, pelo aumento
das exportações. O efeito positivo, dizem especialistas,
se fez
presente nos anos seguintes, quando o setor manteve trajetória
ascendente. "O setor ganhou em produtividade e área plantada.
O câmbio, a partir de 1999, favoreceu e fez com que a cada ano
os
investimentos fossem maiores", afirmou Luiz Afonso Lima, economista
do BBV. Tanto para Odair Abate, economista-chefe do LloydsTSB, como
para Juan Pedro Janssen, da Tendências Consultoria, o setor vai
manter nos próximos anos taxas expressivas de crescimento. Citam
a oportunidade que a Alca (Área de Livre Comércio das
Américas) pode representar, dependendo da proposta norte-americana.
O único entrave, dizem, é o protecionismo agrícola,
sobretudo da Europa. A oferta inicial dos EUA para a Alca, porém,
desagrada ao governo brasileiro, pois exclui vários produtos
chamados sensíveis -inclusive agrícolas- nos quais o Brasil
tem interesse. Já a indústria extrativa mineral cresceu
desde 1993 sem interrupção. Acumulou alta de 66,54%, com
uma média anual 6,05% ao ano. No período, a maior marca
foi em 2002: 10,39%. A atividade foi beneficiada, segundo especialistas,
pelo aumento da produção de óleo da Petrobras,
puxada pelos investimentos para atingir a auto-suficiência em
2005. O ramo, afirmam, ainda deve sustentar uma boa expansão
nos próximos anos por causa dos investimentos já programados
pela estatal. De 1992 a 2002, a produção de óleo
no país mais que triplicou: subiu de 407 mil barris/ dia para
1,5 milhão de barris/dia.
Contramão
Na contramão, a indústria de transformação
(que modifica matérias-primas em produtos mais elaborados) patinou:
teve expansão de apenas 2,07% em média por ano de 1992
a 2002, enquanto o PIB médio do período subiu 2,87%. Somou,
nesses dez anos, um crescimento de 22,82%. Retraiu-se, porém,
em três anos. No acumulado do período, o PIB geral subiu
31,62%. Durante toda a década de 90 e o início dos anos
2000, o setor foi afetado por choques externos, como as crises russa
e asiática. É o que afirma Francisco Pessoa, da consultoria
LCA. Abate, do Lloyds, acrescenta que os altos juros do país,
o câmbio fixo do primeiro mandato do ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso e a queda da renda dos trabalhadores também reduziram
o potencial de crescimento do setor. Dependendo do grau de abertura
comercial, Abate vê na Alca também uma possibilidade para
a indústria de transformação, pois muitos ramos
conseguiram se tornar competitivos nos últimos anos.
É o caso da siderurgia e da indústria de papel e celulose,
de acordo com o analista. Um crescimento considerado bom para o segmento
-capaz de gerar empregos e incrementar o PIB geral- é de 3% a
4% ao ano, dizem os especialistas. Em serviços, o destaque ficou
com o segmento de comunicações. O PIB do ramo saltou 214,22%
no período -19,47% na média anual. Só em 1995 a
expansão foi de 22,92%. Foi a época em que as teles estavam
sendo preparadas para a privatização. |