A
convite de amigos, visitei Três Lagoas. É uma cidade
média, no Mato Grosso do Sul, muito simpática, pertinho
da divisa com São Paulo, que teve a sorte e a competência
de atrair, nos últimos anos, indústrias de vários
setores.
As fábricas são empreendimentos de médio porte,
com investimentos da ordem de R$ 30 milhões. Cada um deles
abriu, em média, cerca 250 empregos diretos. Ao todo, surgiram
ali 1.500 novos postos de trabalho. Para uma cidade de aproximadamente
80 mil habitantes, trata-se de um número nada desprezível.
Se cada trabalhador tiver quatro dependentes, significa que as fábricas
proporcionaram alguma renda para quase 10% da população
da cidade.
Voltei de Três Lagoas com esses números na cabeça
e, mais do que isso, impressionado com a alegria que as pessoas simples
do interior demonstram nos olhos pelo fato de poder trabalhar. Não
é difícil entender isso. Depois da doença, o
desemprego é talvez a maior desgraça que se pode abater
sobre um ser humano adulto. O desempregado, no Brasil, é um
desamparado. Sente-se como um pária da sociedade, perde a dignidade,
deixa de ser cidadão, vê deteriorar seu ambiente familiar,
afasta-se dos amigos e, muitas vezes, se entrega ao alcoolismo. É
bom lembrar que só em São Paulo temos 1,7 milhão
de pessoas nessa condição de desempregados.
Três Lagoas me trouxe à lembrança que é
possível combater o desemprego com uma política de incentivo
aos empreendedores, sejam eles micro, pequenos, médios ou grandes.
Algumas regrinhas práticas, se aplicadas com perseverança,
poderiam ter efeitos muito rápidos. Por que, afinal, não
se adota no Brasil uma política de incentivo aos empreendedores
que empregam mão-de-obra intensiva? O peso dos encargos que
incidem sobre os salários é absurdamente alto. Alguns
economistas estimam que, em média, para um salário de
R$ 200, o trabalhador recebe R$ 160 e a empresa gasta cerca de R$
440. Ou seja, o trabalhador custa para a empresa quase três
vezes aquilo que leva para casa.
Os empreendedores também precisam ser estimulados com a redução
de impostos à medida que absorvam mais mão-de-obra.
No contexto atual, eles recolhem, sem nenhum privilégio, um
conjunto enorme de tributos, alguns deles cumulativos ou em cascata,
como o PIS e a Cofins.
A terceira regrinha prática seria livrar os empreendedores,
principalmente os micro, pequenos e médios, do calvário
burocrático, velho conhecido dos brasileiros, exigido para
abrir uma empresa no país ou para o pagamento de impostos,
mesmo depois da criação de sistemas como o Simples.
Adotar uma política conscientemente voltada para o estímulo
aos empreendedores poderia representar um salto fantástico
para o Brasil. Já existe no país um trabalho eficiente
das chamadas incubadoras de empresas -a maior parte delas ligadas
a universidades e estimuladas pela ação do Sebrae-,
que procuram orientar a abertura de negócios. Essa ação,
entretanto, não terá muito efeito sem que as três
regras citadas sejam observadas: o incentivo à contratação
de mão-de-obra, a desoneração de impostos e a
desburocratização. Há ainda uma quarta, também
fundamental, que é a oferta de crédito com juros e prazos
civilizados.
Qualquer medida, porém, terá impacto zero se persistir
a atual frieza no trato com os problemas reais da população,
como o desemprego. Recuperar a capacidade de indignação
com as mazelas sociais e com as políticas que levam ao desamparo
faria muito bem ao país.
Benjamin
Steinbruch,
47, empresário, é Presidente do Conselho de Administração
da Companhia Siderúrgica Nacional.