ALEGRIA EM TRÊS LAGOAS


Benjamin Steinbruch

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A convite de amigos, visitei Três Lagoas. É uma cidade média, no Mato Grosso do Sul, muito simpática, pertinho da divisa com São Paulo, que teve a sorte e a competência de atrair, nos últimos anos, indústrias de vários setores.
As fábricas são empreendimentos de médio porte, com investimentos da ordem de R$ 30 milhões. Cada um deles abriu, em média, cerca 250 empregos diretos. Ao todo, surgiram ali 1.500 novos postos de trabalho. Para uma cidade de aproximadamente 80 mil habitantes, trata-se de um número nada desprezível. Se cada trabalhador tiver quatro dependentes, significa que as fábricas proporcionaram alguma renda para quase 10% da população da cidade.
Voltei de Três Lagoas com esses números na cabeça e, mais do que isso, impressionado com a alegria que as pessoas simples do interior demonstram nos olhos pelo fato de poder trabalhar. Não é difícil entender isso. Depois da doença, o desemprego é talvez a maior desgraça que se pode abater sobre um ser humano adulto. O desempregado, no Brasil, é um desamparado. Sente-se como um pária da sociedade, perde a dignidade, deixa de ser cidadão, vê deteriorar seu ambiente familiar, afasta-se dos amigos e, muitas vezes, se entrega ao alcoolismo. É bom lembrar que só em São Paulo temos 1,7 milhão de pessoas nessa condição de desempregados.
Três Lagoas me trouxe à lembrança que é possível combater o desemprego com uma política de incentivo aos empreendedores, sejam eles micro, pequenos, médios ou grandes.
Algumas regrinhas práticas, se aplicadas com perseverança, poderiam ter efeitos muito rápidos. Por que, afinal, não se adota no Brasil uma política de incentivo aos empreendedores que empregam mão-de-obra intensiva? O peso dos encargos que incidem sobre os salários é absurdamente alto. Alguns economistas estimam que, em média, para um salário de R$ 200, o trabalhador recebe R$ 160 e a empresa gasta cerca de R$ 440. Ou seja, o trabalhador custa para a empresa quase três vezes aquilo que leva para casa.
Os empreendedores também precisam ser estimulados com a redução de impostos à medida que absorvam mais mão-de-obra. No contexto atual, eles recolhem, sem nenhum privilégio, um conjunto enorme de tributos, alguns deles cumulativos ou em cascata, como o PIS e a Cofins.
A terceira regrinha prática seria livrar os empreendedores, principalmente os micro, pequenos e médios, do calvário burocrático, velho conhecido dos brasileiros, exigido para abrir uma empresa no país ou para o pagamento de impostos, mesmo depois da criação de sistemas como o Simples.
Adotar uma política conscientemente voltada para o estímulo aos empreendedores poderia representar um salto fantástico para o Brasil. Já existe no país um trabalho eficiente das chamadas incubadoras de empresas -a maior parte delas ligadas a universidades e estimuladas pela ação do Sebrae-, que procuram orientar a abertura de negócios. Essa ação, entretanto, não terá muito efeito sem que as três regras citadas sejam observadas: o incentivo à contratação de mão-de-obra, a desoneração de impostos e a desburocratização. Há ainda uma quarta, também fundamental, que é a oferta de crédito com juros e prazos civilizados.
Qualquer medida, porém, terá impacto zero se persistir a atual frieza no trato com os problemas reais da população, como o desemprego. Recuperar a capacidade de indignação com as mazelas sociais e com as políticas que levam ao desamparo faria muito bem ao país.

Benjamin Steinbruch, 47, empresário, é Presidente do Conselho de Administração da Companhia Siderúrgica Nacional.

 Folha de São Paulo, 16 de abril de 2002, p. B2.



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