PARA EXECUTIVO, TRABALHO GERA FELICIDADE

UNESP Ilha Solteira - Área de Hidráulica e Irrigação

Cassio Aoqui e Mariana Desimone

Dinheiro traz, sim, felicidade. Melhor ainda se acompanhado de poder e mimos, como viagens, sala própria e carro com motorista. Pelo menos é isso o que atestam executivos de algumas das principais corporações brasileiras.

Levantamento realizado durante dois meses pela reportagem da Folha com 75 executivos de grandes empresas aponta que, para os condutores dessas companhias, nada melhor do que o sucesso na vida profissional para ser feliz.

Quase 81% dos respondentes se dizem satisfeitos ou plenamente satisfeitos em relação à felicidade. Esse percentual foi fortemente influenciado pelo excelente panorama profissional: 92% estão contentes com a realização de seu trabalho; 84%, com as perspectivas de ascensão na carreira.

Paradoxalmente, o alto índice dos que se consideram felizes esconde um cenário bem diferente da porta da empresa para fora. A cada 10 executivos, 4 não estão satisfeitos em relação à vida pessoal. Quase 43% não consideram satisfatório o equilíbrio entre trabalho e atividades como o contato com os amigos e a prática de esportes. E 1 em 5 profissionais de alto escalão sugere que o contato com a família não é dos mais freqüentes.

Os números são um sinal de que executivos de empresas privilegiam o sucesso profissional em detrimento da vida pessoal na hora de avaliar o quão felizes estão.

Essa "vontade de ser feliz" é, na avaliação do "headhunter" Simon Franco, quase uma obrigação. "Ele tem de se mostrar bem para dar exemplo de motivação para seus funcionários".

O presidente-executivo da Rede Othon no Brasil, Paulo Brito, é um exemplo de quem se considera "extremamente feliz". "Faço de tudo para tornar meu ambiente de trabalho agradável. Assim, minimizo o efeito da competição", diz Brito, que elenca algumas das vantagens que tem: "Viajo muito e tenho amigos no trabalho".

O executivo conta que a saúde é seu maior ponto fraco. "Só me exercito em fins de semana, caminhando com a minha mulher, se ela me obriga", conta, contrariando recomendações médicas --há cinco anos, enfartou e teve de colocar três pontes de safena.

Problemas de saúde, aliás, não são exclusividade de Brito: 41% dos executivos afirmaram não estar satisfeitos com a saúde.

Equilíbrio

Mas há quem se esforce para privilegiar o tempo casa e trabalho, como o diretor-executivo da Câmara e-net Cid Torquato, 43.

Até se casar, ele não se preocupava em equilibrar vida pessoal e profissional. "Ficava até as 22h na firma, inclusive nos feriados."

Nos últimos três anos, porém, Torquato vem tentando dividir o tempo melhor com a família. "Acordo cedo para tomar café da manhã com meu filho e procuro chegar em casa antes das 19h." Mas a carga de trabalho continua a mesma. "Depois que as crianças vão dormir, trabalho mais um pouco. Ao todo, são cerca de 12 horas por dia. Sei que é um pouco exagerado", avalia.


 
Folha de São Paulo, 16 de abril de 2006, pag F-1


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