Encontro
mundial sobre crise de recursos hídricos começa com divergência
entre ONGs e órgãos de financiamento
O
Terceiro Fórum Mundial da Água começou ontem em
Kyoto, no Japão, já sob divergência. De um lado
estão as agencias multilaterais de financiamento, que estimulam
investimentos privados para atender a mais de 1,1 bilhão de pessoas
sem água potável e 2,4 bilhões sem saneamento em
todo
o mundo. De outro, ficam as organizações não-governamentais
que defendem que o acesso a uma cota mínima de 50 litros de água
por dia seja declarado como um direito de todos os seres humanos.
"Água potável é um direito humano e não
apenas uma necessidade", ressalta a advogada Maude Barlow, diretora
da ONG canadense Conselho de Cidadãos e uma das líderes
do movimento por uma
nova ordem mundial dos recursos hídricos. "Essa não
é somente uma diferença semântica. Necessidades
podem ser supridas por empresas privadas que cobram caro pela prestação
desse serviço. Mas direitos são inegociáveis. Precisam
ser respeitados." O Brasil vai defender no Fórum uma terceira
posição, segundo o secretario de Recursos Hídricos
do Ministério do Meio Ambiente, João Bosco Senra. O país
sustenta que o líquido é um "bem social", sobre
o qual as nações devem exercer sua soberania. Ontem, o
presidente da Agência Nacional das Águas, Jerson Kelman,
recebeu o Prêmio Rei Hassan 2º por sua contribuição
na restauração de bacias hidrográficas e pelas
políticas brasileiras na área de recursos hídricos.
A terceira edição do fórum, da qual participam
10 mil delegados de 160 países, se debruça sobre as Metas
de Desenvolvimento do Milênio, adotadas pela ONU em 2000 para
reduzir a miséria até 2025, e no fato de a organização
ter declarado 2003 o Ano
Internacional da Água Potável. Em paralelo, aprofundou-se
a chamada "crise global da água", uma
complexa e trágica combinação de poluição
dos mananciais, desperdício na distribuição e uso
final e privatização. A crise levou ecologistas a afirmarem
que a questão hídrica é um problema ambiental tão
grave quanto o das mudanças climáticas. Segundo o presidente
do Conselho Mundial da Água, Mahmud Abu-Zeid, a crise hídrica
é "um dos maiores desafios do século 21". Ele
pediu o estabelecimento de um novo sistema de financiamento para os
países "mais sedentos" e pobres.
A ONU avalia que os 50 litros de água é o mínimo
que atende às exigências diárias de cada ser humano:
cinco litros para ingestão direta, 20 para higiene e saneamento,
15 para banho e dez para
preparação dos alimentos. As organização
quer reduzir pela metade, até 2015, o percentual da população
do globo que não tem acesso a esse volume diário. Um dos
alvos das críticas das ONGs, o Banco Mundial divulga hoje a sua
nova política para financiamento de empreendimentos hídricos.
Ian Johnson, vice-presidente do banco para desenvolvimento sustentável,
vai anunciar que a entidade aumentará o volume de recursos destinados
a projetos relacionados à água, como geração
de energia, saneamento e irrigação, que já tomam
17% do orçamento do banco.
|