CRESCER SEM EMPREGAR

 


A economia americana praticamente não gerou postos de trabalho no mês passado. De acordo com o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos, foram criadas apenas mil novas vagas. Em média, os analistas esperavam 130 mil. Essa tem sido a tendência predominante no mercado de trabalho dos Estados Unidos. Entre agosto e dezembro de 2003, foram gerados 278 mil postos de trabalho, número bastante inferior aos registrados em outros períodos de recuperação econômica.
A totalidade dessas novas vagas concentrou-se em três setores: emprego temporário (trabalhadores especializados, com bons salários, mas mediante contratos de duração limitada e sem benefícios sociais), educação e saúde. Em dezembro, o setor industrial reduziu o número de trabalhadores pelo 41º mês consecutivo, fechando 26 mil vagas. Durante o ano de 2003, as fábricas eliminaram cerca de 500 mil postos de trabalho. Processo semelhante se verifica nos serviços financeiros e de informações ("call centers" e "back offices") e nos negócios varejistas.
Aparentemente, o espírito empreendedor dos empresários americanos ainda permanece ausente do atual ciclo de recuperação da economia. O fato de que a taxa de desemprego tenha caído de 5,9% em
novembro para 5,7% em dezembro não deve criar ilusões: isso não ocorreu graças a um aumento substantivo no número de empregos, mas devido à desistência por parte de 309 mil trabalhadores de procurar vagas no período.
Desde o início do governo de George W. Bush, em janeiro de 2001, o mercado de trabalho fechou 2,3 milhões de vagas. O tema deverá dominar a campanha eleitoral em 2004, uma vez que a baixa geração de empregos tem sido acompanhada pela queda no poder de compra real dos salários, estimada em US$ 350 bilhões nos últimos dois anos. São várias as hipóteses para tentar explicar esse cenário de crescimento sem emprego. Além do acelerado processo de introdução do progresso técnico ocorrido nos anos 90, há um deslocamento de parte das cadeias produtivas de bens e serviços
americanos para países com menores custos de mão-de-obra, sobretudo para a China e a Índia.
Essa dinâmica do mercado de trabalho pode, por um lado, aumentar as fricções comerciais internacionais, fazendo crescer o risco de adoção de medidas protecionistas unilaterais pelos EUA. Por outro lado, pode ampliar a possibilidade de o Fed (banco central dos EUA) manter a taxa de juro básica em 1% ao ano por um prazo mais longo, a despeito da euforia predominante nos principais mercados financeiros mundiais.
Especula-se que o Fed somente elevará a taxa de juro quando houver sinais consistentes de criação de emprego, uma vez que as pressões inflacionárias permanecem contidas. O índice de variação dos preços ao consumidor foi de 0,2% em dezembro, acumulando 1,9% em 12 meses. O núcleo do índice, que exclui alimentos e energia, foi de apenas 1,1%. Mais uma vez, uma das explicações está na Ásia, de onde os EUA importam insumos manufaturados produzidos por suas próprias empresas.

 



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