Nada
pode ser mais catastrófico para uma sociedade do que deixar de
educar as crianças e os jovens. No Brasil, estamos festejando
o fato de o país ter conseguido matricular todas as crianças
na rede escolar. Mas isso não é suficiente. O importante
é entrar na escola, ficar nela e dela sair com uma boa educação.
É triste verificar que, das 12.506 vagas que sobraram no vestibular
das universidades públicas em 2002, 6.641 foram na área
da educação. Nas universidades particulares deu-se o mesmo.
A profissão de professor está em baixa. Os jovens brasileiros
não querem mais saber do magistério. E não é
para menos. Sua remuneração é ridícula.
A média salarial de um professor de nível médio
é de R$ 866 por mês -com uma enorme variação
de região para região do país, sabendo-se que,
no Norte e no Nordeste, não chega a R$ 400. No ensino fundamental,
há milhares de professores que ganham apenas o salário
mínimo -R$ 240- ou até menos.
Ademais, as condições de trabalho, na maioria das escolas,
são simplesmente massacrantes. Além de longas jornadas
(muitos mestres chegam a dar 60 aulas por semana!), o apoio didático
é deficiente e as bibliotecas são mal equipadas -tudo
isso regado por uma incontrolável indisciplina da maioria dos
adolescentes, que levam para a sala de aula a generalizada confusão
entre liberdade e liberalidade.
O problema da falta de docentes é grave. Só na rede pública,
há um déficit de 250 mil professores para lecionar na
5ª, 6ª, 7ª e 8ª séries do ensino fundamental.
No ensino médio, a escassez de professores de matemática,
de química e de física é assustadora. As escolas
não conseguem recrutá-los porque os poucos formados procuram
outras atividades e não querem saber de ensinar. Eles foram vencidos
pela desilusão de educar neste pobre país. Tudo isso seria
puro catastrofismo se não houvesse solução. Mas
há. No campo da educação, as distorções
falam mais alto do que a falta de recursos. É um absurdo que,
até hoje, a maior parte dos recursos vá para as universidades
públicas, onde uma grande maioria de alunos bem aquinhoados e
que frequentaram colégios e cursinhos particulares caríssimos
goza, no ensino superior, do privilégio de ali estudar sem nada
pagar.
Na maioria dos países mais ricos do mundo, as universidades públicas
são pagas, e bem pagas. Quem tem mais, paga mais. Quem tem menos,
paga menos. Quem nada tem, recebe bolsa de estudos. Uma política
desse tipo, no Brasil, poderia canalizar para o ensino fundamental e
médio uma grande quantidade de recursos para, com isso, remunerar
melhor os professores, oferecer um bom apoio didático e equipar
bem as bibliotecas. Sob tais condições, os jovens voltariam
a se interessar pela educação e a preencher as vagas ociosas.
Isso precisa ser feito com urgência se quisermos inverter o quadro
atual e garantir o professorado de amanhã. Do contrário,
condenaremos a juventude ao fracasso e a nação ao subdesenvolvimento. |