CAMPO FÉRTIL: "AGROPROFISSÕES"
COLHEM MERCADO EM ALTA

Danielle Borges


Colocar o pé na terra e mãos à obra. Essa é a filosofia de profissões que compõem a base do agronegócio no país e que vêm encontrando terreno fértil no mercado de trabalho com a expansão desse setor da economia. São engenheiros agrônomos, zootecnistas, veterinários e agrimensores, que, responsáveis pelo manuseio da terra, nos últimos tempos têm ganhado outras tarefas: administrar e gerenciar o negócio de maneira mais global.
Esse novo perfil dos profissionais, aliado a fatores como a mecanização no campo, tem ajudado o agronegócio brasileiro a bater recordes. Em 2003, as exportações do setor somaram US$ 30,639 bilhões, segundo o Ministério da Agricultura. O total supera em 23,3% as exportações no ano anterior -o recorde até então. Com esse cenário, o agronegócio foi um dos responsáveis pelo superávit de US$ 24,824 bilhões na balança comercial brasileira.
E as expectativas para este ano não poderiam ser mais positivas. O setor tende a gerar mais empregos e a exigir cada vez mais mão-de-obra especializada. Atualmente, o mercado de agronegócios é responsável por 37% dos postos de trabalho no país. Como conseqüência da globalização, a atividade ganha novas proporções. Aos profissionais cabe, agora, não só cuidar do cultivo mas também de todo o processo produtivo -e, nesse caso, abre-se um leque bem maior.

Inseminações e satélites
A regra é a interdisciplinariedade, que alia as especialidades a um único objetivo -o de melhorar e maximizar a produção. "Tudo isso é conseqüência do mundo globalizado em que vivemos. Atualmente, os profissionais precisam ter responsabilidade com o que acontece no ambiente", diz Roberto Parra, diretor da Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), em Piracicaba (162 km da capital).
Exemplos não faltam. Sendo o Brasil o segundo maior produtor de carne bovina -atrás dos EUA-, veterinários e zootecnistas trabalham em conjunto para garantir o nível internacional de qualidade. "Como parte desse processo, criadores monitoram também, dia a dia, a qualidade da ração", diz Mônika Bergamaschi, 34, diretora da Abagrp (Associação Brasileira do Agronegócio da Região de Ribeirão Preto, SP).
Outro recurso que tem tido cada vez mais espaço na pecuária é a inseminação artificial. "O produtor consegue maximizar a produção, fazendo com que os animais que são bons produtores de óvulos [as matrizes] o façam com mais freqüência", afirma. Nesse processo, em vez de deixar que o animal siga o fluxo normal de reprodução (que leva nove meses e meio mais o tempo de amamentação), produtores utilizam os óvulos produzidos pelas matrizes, mas transferem a tarefa da gestação para outros animais.
O agrônomo também tem ganhado atividades mais amplas, que incluem o gerenciamento da produção e do solo. Ganham força atividades como o georreferenciamento, que consiste na medição via satélite das áreas produtivas. "Com isso, o controle sobre o aproveitamento das áreas é muito maior", explica Bergamaschi.

 
Carreiras migram para desbravar terreno

A evolução do mercado de agronegócios no Brasil tem aberto campo para especialistas de diferentes áreas de atuação, ligados não só ao manejo da produção mas também ao planejamento. Com isso, profissionais que antes atuavam longe da zona rural têm a oportunidade de ir a campo e conhecer o funcionamento de todo o ciclo produtivo.
"É o caso dos negociadores de produtos. Para atuar, eles precisam ter um vasto conhecimento do mercado, da produção, da sazonalidade", afirma Cláudio Brisolara, do Departamento de Economia da Federação Agrícola do Estado de São Paulo. Para José Sidnei Gonçalves, pesquisador científico e coordenador da Apta (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios), uma das profissões que ganham força com as mudanças no perfil do agronegócio brasileiro é a engenharia de produção. "Estamos passando por um período de grandes ajustes", analisa.
O engenheiro agrônomo Marcos Ravagnani, 37, é um exemplo do perfil procurado pelo mercado. Para impulsionar os negócios da família -a cultura de tomates- na região de Campinas (SP), ele montou um sistema integrado de produção e distribuição. "Hoje damos consultoria a outros produtores da região", afirma.
Mudanças
Como no mundo dos negócios a estratégia é tudo, áreas como as de mecanização, de biotecnologia e de logística também ganham vez. A mecanização garante às lavouras o aproveitamento máximo da produção, com um prejuízo mínimo à terra. A biotecnologia colabora para a elevação do padrão de qualidade dos produtos. E a logística, por sua vez, é a chave no escoamento da produção. "Mas a atuação não é para qualquer profissional de logística. Ele precisa estar antenado com as particularidades do setor", diz Mônica Bergamaschi, da Associação Brasileira do Agronegócio da Região de Ribeirão Preto (SP).
Além dessas particularidades, o mercado de agronegócios passa por mudanças a todo momento. Para acompanhar todas essas alterações, o veterinário Marco Aurélio Bergamaschi, 32, formado há 12 anos e que trabalha com bovinocultura, cursa hoje um doutorado. "Nessa área não dá para deixar o tempo passar."
Cooperação
Outro indício da "onda verde" está nas pequenas cooperativas, que têm se tornado uma ponte para o intercâmbio de informações entre produtores e profissionais que planejam a produção. "É a partir das cooperativas que o pequeno produtor tem acesso ao mercado exportador, e isso abre espaço para vários profissionais atuarem", avalia Iris Dinis, da consultoria de RH Manager.

 



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