Colocar
o pé na terra e mãos à obra. Essa é a filosofia
de profissões que compõem a base do agronegócio
no país e que vêm encontrando terreno fértil no
mercado de trabalho com a expansão desse setor da economia. São
engenheiros agrônomos, zootecnistas, veterinários e agrimensores,
que, responsáveis pelo manuseio da terra, nos últimos
tempos têm ganhado outras tarefas: administrar e gerenciar o negócio
de maneira mais global.
Esse novo perfil dos profissionais, aliado a fatores como a mecanização
no campo, tem ajudado o agronegócio brasileiro a bater recordes.
Em 2003, as exportações do setor somaram US$ 30,639 bilhões,
segundo o Ministério da Agricultura. O total supera em 23,3%
as exportações no ano anterior -o recorde até então.
Com esse cenário, o agronegócio foi um dos responsáveis
pelo superávit de US$ 24,824 bilhões na balança
comercial brasileira.
E as expectativas para este ano não poderiam ser mais positivas.
O setor tende a gerar mais empregos e a exigir cada vez mais mão-de-obra
especializada. Atualmente, o mercado de agronegócios é
responsável por 37% dos postos de trabalho no país. Como
conseqüência da globalização, a atividade ganha
novas proporções. Aos profissionais cabe, agora, não
só cuidar do cultivo mas também de todo o processo produtivo
-e, nesse caso, abre-se um leque bem maior.
Inseminações
e satélites
A regra é a interdisciplinariedade, que alia as especialidades
a um único objetivo -o de melhorar e maximizar a produção.
"Tudo isso é conseqüência do mundo globalizado
em que vivemos. Atualmente, os profissionais precisam ter responsabilidade
com o que acontece no ambiente", diz Roberto Parra, diretor da
Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), em Piracicaba
(162 km da capital).
Exemplos não faltam. Sendo o Brasil o segundo maior produtor
de carne bovina -atrás dos EUA-, veterinários e zootecnistas
trabalham em conjunto para garantir o nível internacional de
qualidade. "Como parte desse processo, criadores monitoram também,
dia a dia, a qualidade da ração", diz Mônika
Bergamaschi, 34, diretora da Abagrp (Associação Brasileira
do Agronegócio da Região de Ribeirão Preto, SP).
Outro recurso que tem tido cada vez mais espaço na pecuária
é a inseminação artificial. "O produtor consegue
maximizar a produção, fazendo com que os animais que são
bons produtores de óvulos [as matrizes] o façam com mais
freqüência", afirma. Nesse processo, em vez de deixar
que o animal siga o fluxo normal de reprodução (que leva
nove meses e meio mais o tempo de amamentação), produtores
utilizam os óvulos produzidos pelas matrizes, mas transferem
a tarefa da gestação para outros animais.
O agrônomo também tem ganhado atividades mais amplas, que
incluem o gerenciamento da produção e do solo. Ganham
força atividades como o georreferenciamento, que consiste na
medição via satélite das áreas produtivas.
"Com isso, o controle sobre o aproveitamento das áreas é
muito maior", explica Bergamaschi.
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A evolução do mercado
de agronegócios no Brasil tem aberto campo para especialistas
de diferentes áreas de atuação, ligados não
só ao manejo da produção mas também ao planejamento.
Com isso, profissionais que antes atuavam longe da zona rural têm
a oportunidade de ir a campo e conhecer o funcionamento de todo o ciclo
produtivo.
"É o caso dos negociadores de produtos. Para atuar, eles
precisam ter um vasto conhecimento do mercado, da produção,
da sazonalidade", afirma Cláudio Brisolara, do Departamento
de Economia da Federação Agrícola do Estado de
São Paulo. Para José Sidnei Gonçalves, pesquisador
científico e coordenador da Apta (Agência Paulista de Tecnologia
dos Agronegócios), uma das profissões que ganham força
com as mudanças no perfil do agronegócio brasileiro é
a engenharia de produção. "Estamos passando por um
período de grandes ajustes", analisa.
O engenheiro agrônomo Marcos Ravagnani, 37, é um exemplo
do perfil procurado pelo mercado. Para impulsionar os negócios
da família -a cultura de tomates- na região de Campinas
(SP), ele montou um sistema integrado de produção e distribuição.
"Hoje damos consultoria a outros produtores da região",
afirma.
Mudanças
Como no mundo dos negócios a estratégia é tudo,
áreas como as de mecanização, de biotecnologia
e de logística também ganham vez. A mecanização
garante às lavouras o aproveitamento máximo da produção,
com um prejuízo mínimo à terra. A biotecnologia
colabora para a elevação do padrão de qualidade
dos produtos. E a logística, por sua vez, é a chave no
escoamento da produção. "Mas a atuação
não é para qualquer profissional de logística.
Ele precisa estar antenado com as particularidades do setor", diz
Mônica Bergamaschi, da Associação Brasileira do
Agronegócio da Região de Ribeirão Preto (SP).
Além dessas particularidades, o mercado de agronegócios
passa por mudanças a todo momento. Para acompanhar todas essas
alterações, o veterinário Marco Aurélio
Bergamaschi, 32, formado há 12 anos e que trabalha com bovinocultura,
cursa hoje um doutorado. "Nessa área não dá
para deixar o tempo passar."
Cooperação
Outro indício da "onda verde" está nas pequenas
cooperativas, que têm se tornado uma ponte para o intercâmbio
de informações entre produtores e profissionais que planejam
a produção. "É a partir das cooperativas que
o pequeno produtor tem acesso ao mercado exportador, e isso abre espaço
para vários profissionais atuarem", avalia Iris Dinis, da
consultoria de RH Manager.
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