JUNTAS, FIRMAS GANHAM COMPETITIVIDADE

 

Clovis Castelo Junior

Interagir, colaborar, compartilhar. A receita não é nova, mas pode ser uma boa oportunidade para pequenos e médios empresários romperem com o círculo vicioso da falta de acesso às condições para o crescimento.
Desde 2000, ganham impulso no país os arranjos produtivos locais (APLs). Segundo dados do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), hoje, no Brasil, existem 230 arranjos. Apenas no Estado de São Paulo, estão localizadas pelo menos 30 iniciativas em formação ou já em funcionamento.
Também conhecidos como "clusters", os APLs são aglomerados de firmas (principalmente pequenas e médias) com produtos similares e que agem de forma articulada para ampliar a competitividade e alcançar em grupo o que é difícil de conseguir sozinhas.
Por meio dos arranjos, as coligadas ganham poder de barganha nas negociações com fornecedores, formam fundos de aval para instituições de crédito (para investimentos em equipamentos e capacitação de RH), dividem custos de participação em feiras nacionais e internacionais, têm acesso a pesquisas de mercado e obtêm certificações de qualidade, por exemplo.
"As empresas devem estabelecer metas conjuntas de melhoria da qualidade e da produtividade", analisa Maria Cristina Cacciamali, professora da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo).

Resultados
No APL de Vargem Grande do Sul (246 km ao norte de São Paulo), direcionado à produção de peças de cerâmica, por exemplo, nos primeiros seis meses, registraram-se, em média, aumento de 24% na produtividade e redução de 20% no consumo de energia, segundo monitoramento da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Para o especialista da Escola Politécnica da USP, Renato Garcia, a essência para o sucesso de um APL é a chamada "cooperação pragmática". Segundo ele, a atuação integrada não significa necessariamente que as empresas deixem de ser concorrentes.
Também não significa que os segredos do negócio devam ser revelados para o grupo. O que realmente interessa é compartilhar e identificar os problemas e as ineficiências comuns a todos os participantes e, a partir daí, articular coletivamente as soluções.
O gerente de desenvolvimento local do Sebrae-SP, Paulo Tebaldi, alerta que quem optar por fazer parte de um arranjo deve estar ciente de que o êxito depende de seu envolvimento e que os frutos serão colhidos no médio prazo. "Quem tiver uma visão imediatista pode se decepcionar", afirma.
Por estimularem o desenvolvimento regional pelo potencial de geração de emprego e renda, os APLs são apoiados por entidades de classe e pelo poder público.

Parcerias
De acordo com o secretário de desenvolvimento econômico de São Paulo, Luigi Giavina, o governo estadual realiza articulações e parcerias para suprir as demandas dos aglomerados. Giavina cita como exemplo a instalação de escolas do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) para capacitação de mão-de-obra.
O Sebrae, em parceria com a Fiesp, presta assessoria na montagem, na capacitação gerencial de gestores e na construção das estratégias de exportação. Já o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) oferece uma linha de crédito para empresas "arranjadas" com necessidades de capital de giro.

 
BID VAI LIBERAR ATÉ US$ 20 MI PARA AÇÕES DE FOMENTO

O BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) anunciou na semana passada um convênio para liberar linhas de crédito para ações de fomento e formação de arranjos produtivos em quatro Estados: Bahia, Minas Gerais, Pernambuco e São Paulo.
Os recursos disponibilizados serão usados ao longo de três anos na capacitação de gestores, na implantação de metodologia para formação de arranjos e na realização de estudos de viabilidade econômica e de inteligência de mercado.
O acordo teve a participação do Instituto Euvaldo Lodi, entidade ligada à CNI (Confederação Nacional da Indústria), que monitora a evolução dos projetos por meio de indicadores.
De acordo com o superintendente da entidade, Carlos Cavalcante, os acordos variam de US$ 10 milhões a 20 milhões e foram desenhados a partir das necessidades de cada Estado. Segundo o Sebrae-SP, o Estado receberá US$ 10 milhões pelo convênio. (CCJr)

 
 
 
APLs INVESTEM EM CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL

Iniciados há, em média, um ano e meio, os projetos piloto de arranjos produtivos já apresentam resultados do trabalho desenvolvido pelos empresários locais e pelas entidades de apoio e fomento do Estado de São Paulo.
O balanço é positivo levando-se em conta não só os números e os índices preliminares mas também as melhorias e o nível de entrosamento dos participantes.
No arranjo de confecção e bordados de Ibitinga (347 km a noroeste de São Paulo), composto por 21 empresas do projeto piloto, obteve-se um ganho de 30,5% de produtividade. Um dos fatores foi a abertura de uma escola especializada do Senai com o apoio dos próprios empresários, que cederam máquinas para a capacitação da mão-de-obra. A recuperação das vendas em empresas "arranjadas" chegou a até 30%.
Em Mirassol (453 km a noroeste de São Paulo), foi obtido um ganho de 13,4% na produtividade do APL de móveis de madeira, com 18 empresas associadas. Numa iniciativa da prefeitura e do sindicato patronal da região, busca-se trazer o telecurso para elevar o nível de escolaridade dos trabalhadores do pólo. (CCJr)

 
CONFLITOS SÃO OBSTÁCULOS À INTEGRAÇÃO

Confiança. Sem ela, não há cooperação. Empresários, consultores e especialistas concordam que falhas na construção do arranjo ou descuidos em sua manutenção podem gerar uma crise ou até baixas importantes no projeto.
Segundo Renato Corona, gerente da área de projetos e competitividade da Fiesp, a confiança se sedimenta na própria convivência entre os empresários e na consciência de que novas e até maiores oportunidades de negócio podem ser aproveitadas pelo compartilhamento dos custos e das competências. "Assim começam a ser desarmados os espíritos e a ser estabelecido o ambiente de cooperação", diz.
Entretanto, trabalhar em grupo quase sempre é difícil e exige paciência e negociação. Empresários ouvidos pela Folha desistiram de seus APLs, justificando-se pela falta de diálogo, de cooperação e até mesmo de comprometimento real de outros colegas com os objetivos do projeto.
Caso de André Gallo, sócio da Godoy e Gallo, confecção de moda bebê que fez parte do APL de Amparo (130 km ao norte de São Paulo). A empresa deixou de participar, pois os sócios consideravam precipitado o início da exportação num momento em que eram, a seu ver, ainda necessárias providências que integrassem e preparassem os "arranjados".
Para Paulo Tebaldi, do Sebrae-SP, "é preciso fortalecer as estruturas, as práticas de governança corporativa e o espírito de trabalho em grupo", para que sejam resolvidos os conflitos e as diferenças entre os participantes.
Waldir Cavalieri, sócio da Cavim (indústria de móveis da região de Mirassol), afastou-se porque "não houve o balanceamento ideal entre os participantes devido à presença de empresas de diferentes portes".
Cavalieri avalia que a coordenação do arranjo não levou em conta as diferentes estruturas e necessidades dos empreendimentos envolvidos, como na questão referente à capacitação da mão-de-obra e de gestão. Apesar da desistência, o empresário diz que ainda considera promissora a idéia dos APLs. (CCJr)

 
MARCA ÚNICA VIRA ESTRATÉGIA DE EXPORTAÇÃO

Crescimento de 15%, exportação para 20 países e estimativa de expansão de 40% para 2005. Esses são alguns dos resultados apresentados pelo consórcio de exportação Vida Brazil em três anos de operações.
Fundado em 2001, o grupo reúne oito empresas de confecção situadas na Baixada Santista e no interior de São Paulo, todas especializadas nos segmentos de moda praia, lingerie e fitness.
Segundo Adécio Virgínio, um dos gestores profissionais contratados pelo consórcio, os associados exportam seus produtos sob uma marca única -Vida Brazil-, sendo cada um responsável pela fabricação do item de sua especialidade.
Em troca do pagamento de uma taxa de adesão e de uma mensalidade, as empresas realizam ações para o mercado externo, rateando custos de promoção, como a participação em feiras internacionais, confecção de catálogo e site na internet.
Uma das participantes é a HPIO Lingerie, da cidade de São Vicente, associada há cerca de um ano. De acordo com seu proprietário, Benedito Agapio, a adesão ao consórcio valeu a pena. Ele diz esperar um acréscimo de, no mínimo, 30% nos pedidos para exportação.
Agapio aconselha aos interessados em aderir a um arranjo buscar capacitação específica, preparar-se para trabalhar eficientemente em grupo e conscientizar-se sobre a questão da qualidade da produção, "algo fundamental para vencer no mercado exterior". (CCJr)

 



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