Ao
longo de todo o governo passado, sempre considerei o Avança Brasil
a melhor contribuição conceitual à inovação
da gestão pública. O modelo foi estendido ao Plano Plurianual,
ajudando a organizar o Orçamento.
Na prática, o Avança Brasil falhou, um ótimo conceito,
mas que se perdeu por erros de formulação estratégica.
A opinião é de Eliezer Batista, autor do trabalho original
no qual o plano se inspirou. É importante ouvir sua avaliação,
para as devidas correções de rumo.
Em seus trabalhos, Eliezer privilegiava a integração do
país em eixos de infra-estrutura, mas sob a ótica econômica.
Era suficientemente pragmático para focar nos recursos já
disponíveis, naquilo de que o país já dispunha,
e tratar de atrair rapidamente investimentos para acelerar o desenvolvimento.
No Avança Brasil, privilegiou-se uma visão geoeconômica,
com erros de avaliação que, segundo Eliezer, comprometeram
o trabalho. Pai do programa, José Paulo Silveira é dos
maiores especialistas do país em ferramentas de gestão
e de planejamento. É o supergerente. Mas acabou tocando também
a parte estratégica -por falta de formuladores no governo.
O primeiro erro, segundo Eliezer, foi trocar a visão federativa
pela visão regionalizada -pensar regiões em vez de Estados-
e a visão econômica pela visão interdisciplinar
-tentando focar simultaneamente aspectos econômicos, sociais,
tecnológicos. No papel, a idéia era ganhar sinergia, e
aqui mesmo se louvou essa intenção. Na prática,
por desconhecimento das peculiaridades do federalismo brasileiro, criou-se
um imbróglio monumental que tornou impossível a gestão
do projeto.
Outro erro, segundo Eliezer, foi amarrar os investimentos privados à
perspectiva de novos investimentos públicos, e não ao
que já existia. O projeto foi montado em cima de uma enorme vulnerabilidade
estratégica -a crise financeira do setor público.
Finalmente, na integração da infra-estrutura latino-americana,
segundo Eliezer, o programa acabou esbarrando em uma visão de
Fernando Henrique Cardoso alienada da realidade do continente e na pouca
experiência de política internacional dos formuladores
do plano.
No começo a idéia era envolver o BNDES e a CAF -o banco
de desenvolvimento do bloco andino, considerado muito eficiente. Permitiu-se
a entrada do BID, no qual a influência norte-americana é
muito forte.
Depois, juntaram-se os países do continente e solicitaram-se
dois projetos de cada um, sem atentar para as diferenças entre
os países e para a lógica econômica dos projetos.
Há países sem condições de sequer apresentar
um projeto. Todos esses alertas foram feitos ao governo Fernando Henrique
Cardoso, mas em vão.
Auto-sustentado
Sugestão de Eliezer para a reforma ministerial: criar um Ministério
do Desenvolvimento Sustentado, que tenha debaixo de si não apenas
os temas de desenvolvimento mas também os ambientais. Do modo
como as ações estão dispersas hoje em dia, diz
ele, o Ibama e os ambientalistas vão paralisar o país.
Eliezer é o pai do primeiro projeto de desenvolvimento auto-sustentado
do mundo -o Carajás.
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