DE QUEM MESMO É A POLÍTICA

Clóvis Rossi

Diz o presidente Luiz Inácio Lula da Silva: "Não tem política do Palocci, não tem política do Lula, não tem política de governo. Portanto a política econômica não é a do Palocci, não é a do Meirelles (Henrique Meirelles), Presidente do Banco Central). A política econômica é a que nós, do governo, entendemos que seria possível fazer".
Será mesmo que a política econômica é do governo? Examinemos com vagar os fatos:
1 - Lula não entende de economia, pelo menos não o suficiente para elaborar uma política econômica com começo, meio e fim.
2 - Palocci admite que entende apenas o macro, aprendido no tranco, como prefeito de Ribeirão Preto, primeiro, e como membro da Comissão dos Deputados, depois.
Não é o suficiente para propor, ele próprio uma política acabada ou pelo menos semipronta.
Palocci consulta (ou cosultava) regularmente um punhado de economistas, do Brasil e do exterior. Mas há um excesso de heterogeneidade entre os consultados, que incluem, por exemplo, Delfim Neto e Maria da Conceição Tavares, para citar só os antípodas.
A heterogeneidade é boa, mas para corrigir pontos de uma política, jamais para elaborá-la do berço. Fica, portanto, difícil aceitar que haja uma política de governo. Parece mais correto copiar o que escreve o jornalista J. Carlos de Assis para o mais recente número de revista "insight-Inteligência":
"Se o patriotismo costuma ser o refúgio dos canalhas, a ortodoxia e o coservadorismo são o refúgio dos economistas inseguros - e mais ainda dos não-economistas que se colocam diante de decisões econômicas de destino. Onde há dúvida, aposta-se no caminho sancionado pela sabedoria econômica convencional". Lula continua, pois, devendo a sua política econômica.

 
Folha de São Paulo, Folha Opinião, 20 de Dezembro de 2003, p. A2.



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