O
problema do governo Lula não é a falta de ritmo atual. Apenas o mercado,
com sua infinita superficialidade, poderia supor um partido, recém-chegado
ao poder, conseguir pique operacional no primeiro ano. O problema
do PT é que foram muito altas as expectativas com a eleição de Lula.
Nesses processos, a virada do pêndulo também costuma ser muito rápida.
E o que apresentar quando terminar a lua-de-mel? Nessa hora ficarão
mais claras imprudências cometidas no período. O PT agiu de forma
prudente ao manter os rumos da política econômica, ao evitar retaliações
ao governo que passou e ao disciplinar as declarações dos ministros
e da sua militância.
Mas cochilou ao não determinar regras de atuação dos novos ministros.
Em muitas áreas ocorreu uma limpa geral em cargos de segundo e terceiro
escalões. Não se tratou meramente de mudar comando, mas de limpar
imprudentemente os escalões burocráticos.
Essa imprudência está provocando a virtual paralisia de muitas áreas
e ministérios e vai dispersar energias que deveriam estar concentradas
na definição de planos de ação para a solução dos enormes problemas
legados pela gestão Fernando Henrique Cardoso. A herança, ainda que
pesada, não poderá indefinidamente servir de desculpa para a não-ação.
Há uma longa e relevante lista de tarefas a serem realizadas neste
ano, só que não se sabe onde estão os formuladores. Exemplos:
1) Política de desenvolvimento - Até agora o BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social) formulou um conceito de atuação
-investir na inclusão social- que está longe de se constituir em uma
política desenvolvimentista. O Ministério do Desenvolvimento está
mais preocupado em criar ferramentas operacionais. O governo Lula
continua devendo a agenda positiva.
2) Mercado de capitais - Na campanha foi anunciado como prioridade,
como única saída para a capitalização das empresas. Depois, a única
coisa que se ouviu foram declarações contrárias ao uso do BNDES para
estimular o setor.
3) Saneamento básico - O governo Fernando Henrique Cardoso produziu
não só o apagão de energia como o de saneamento. E agora, o que está
sendo pensado para revitalizar o setor?
4) Modelo elétrico - A ministra Dilma Rousseff (Minas e Energia) agiu
com firmeza, ao impedir que muitos autores se apropriassem do tema
reforma do setor elétrico. Mas qual o projeto que garante a manutenção
dos investimentos?
5) Política científico-tecnológica - Não se espere nada da equipe
do ministro Roberto Amaral (Ciência e Tecnologia). Mas quem vai formular
a proposta?
6) Indicadores educacionais - O Ministério da Educação ameaçou acabar
com o Provão, mais visível indicador do setor. Recuou ante as pressões.
Mas o Idep tem adotado posições dúbias em relação ao tema, como organizar
seminários para avaliar os indicadores e não convidar as universidades
que são avaliadas. Além disso, o ministro Cristovam Buarque andou
acenando com a ampliação da participação de funcionários e alunos
na escolha de reitores de universidades federais.
Enfim, há um longo caminho de reconstrução aguardando projetos de
governo. A saída é um choque de gestão. Mas aparentemente Lula e FHC
têm algo em comum: o gosto pela retórica, mais do que pela realização.
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