Durante
oito anos, o professor Fernando Henrique Cardoso mostrou ao país
que era capaz de uma mágica. As crises entravam no Alvorada,
barulhentas, terríveis e ameaçadoras. Quando saíam,
estavam menores. Não houve caso de crise que tenha saído
maior do que entrou. Agora que Lula e o PT-Federal vivem a sua primeira
grande encrenca, pode ter serventia a divulgação de algumas
idéias colecionadas a partir de conversas e lembranças
de FFHH. Nada a ver com conselhos a Lula.
A crise tem
dono
O presidente deve saber onde está o buraco e qual o seu tamanho.
Muitas vezes, só o presidente sabe por que aquele buraco está
ali. Não adianta pensar que essa tarefa pode ser delegada.
Não
brigue em crise
Em época de crise o governante deve buscar aliados e evitar brigas.
O pior conselheiro nessas horas é aquele grande amigo que quer
ver o sangue dos adversários. Pior que uma crise, só duas
crises.
A imprensa
não é a crise
É necessário distinguir sempre as forças que fazem
parte da crise daquelas que se alimentam dela. Parecem ser a mesma coisa,
mas não são. A imprensa, por exemplo, pode estimular a
crise e até dar
a impressão de que é a própria crise. Isso é
falso. Quando a encrenca perde sua energia interna, a imprensa muda
de assunto.
O perigo
das idéias
Ao contrário do que sucede nos períodos de calma, as pessoas
que têm muitas idéias não são bem-vindas
num cenário de adversidade. Tem gente que é capaz de propor
uma coisa de manhã e o oposto à tarde, pelo simples prazer
de se sentir importante.
Os palpites
são infelizes
As pessoas sentem-se bem dando palpites. Fazem isso com a melhor das
intenções. Cabe ao presidente fazê-los sentir-se
bem, mas só. Segredo dura 72 horas Numa hora dessas, o núcleo
de pessoas com quem o presidente conversa tem que ser pequeno. Talvez
umas cinco. O presidente deve saber quais são os conselheiros
que vazam informações em 48 horas e quais são os
de grande confiança, que vazam em 72 horas. Palácio sem
vazamento é fantasia.
A turma da
platéia
Tendo-se que conviver com os vazamentos, é preciso distinguir
quais são as pessoas que cometem inconfidências, ora por
compulsão, ora por pura vaidade, e quais são as que estão
dentro da crise, jogando para a platéia. Essas, o presidente
tem que cortar rapidamente.
O dono do
urso
Numa situação dessas, o tipo mais perigoso é aquele
que se credencia como intérprete do pensamento do rei. Ele é
capaz de soltar leviandades que podem até alterar o curso dos
acontecimentos.
Toda crise
tem um custo
Desde a primeira hora o presidente sabe que a crise terá um custo.
Trata-se de saber que ele deverá ser pago. Olhando-se para trás,
vê-se que toda tentativa de regatear acaba aumentando o tamanho
do prejuízo.
O
rei tem a cara da crise
Diante da primeira visão do buraco, o presidente precisa de uma
idéia fixa: para onde eu vou quando tiver resolvido esse problema.
Uma dificuldade pode ser pequena, mas torna-se crítica se consegue
influenciar o rumo do governo. Já uma crise pode ser enorme,
mas perde a gravidade quando o governo muda o rumo da agenda. Uma coisa
é certa: o rosto do rei é o rosto da crise. Ele precisa
ser a imagem da tranqüilidade. Essa parte é a mais dura.
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