RESERVATÓRIO DE FURNAS BATE BAIXA HISTÓRICA


 

Índice refere-se a fevereiro, e situação preocupa porque o mês, chuvoso, não deveria fechar com nível de água tão baixo


O reservatório da hidrelétrica de Furnas, localizada no rio Grande, no sudoeste de Minas Gerais, atingiu no mês passado o mais baixo nível de água da sua história na média dos meses de fevereiro: 22,6%. Esse é um mês de referência em que o volume d'água deve ser maior pelo fato de estar entrando no fim o período chuvoso.
Até então, a maior baixa registrada em fevereiro tinha sido em 1969, com 42,5%, segundo Carlos Eduardo de Almeida Silva, chefe do Departamento do Planejamento da Operação de Furnas.
O índice registrado no mês passado preocupa pelo fato de ser essa água reservada que vai alimentar a geração de energia elétrica daquela hidrelétrica pelos próximos oito meses, quando, espera-se, terá início novamente o período chuvoso.
Para suportar o período de estiagem, o ideal é que o reservatório -que comporta 17,2 bilhões de m3 de água- estivesse com volume próximo de 50% da sua capacidade.
No início de março, o índice chegou a 18%. Com as poucas chuvas dos últimos dias, o volume útil de água voltou a subir. Anteontem, estava em 21,77%.
Furnas Centrais Elétricas afirma que não há o risco de a hidrelétrica parar de produzir por falta de água suficiente no reservatório que alimenta as oito geradoras. Silva disse que pode acontecer de a geração de 1.216 MW ser reduzida, mas que não se pode fazer previsão neste momento.
"Parar não pára. Você sabe que está baixo e vai monitorando", disse ele, assinalando que em dezembro de 1999, no fim do período de estiagem, o volume útil de água chegou a 6,28%, o menor já registrado no levantamento de todos os meses, e nem assim a geração ficou prejudicada.
O chefe de produção da hidrelétrica, Joaquim Mateus de Sena, no entanto, havia dito, em entrevista à "TV Globo", na última segunda, que se a água baixar mais seis metros a usina poderia parar.
"A hidrelétrica foi projetada para trabalhar com variação de nível máximo e mínimo de até 18 metros. Hoje, nós estamos com 12,3 metros abaixo do nível máximo. Eu tenho uma coluna de água de seis metros ainda. Abaixo disso, não tem como eu gastar."
Em todo o Sudeste, o índice médio do volume útil de água dos reservatórios está em 34%. Isso significa, segundo os especialistas, que há riscos de pequenos apagões, já que a produção tende a ser reduzida. A racionalização de energia e racionamentos negociados são algumas saídas apontadas para este momento.

Causas do problema

Especialistas consultados pela Agência Folha afirmam que todo o problema se deve à falta de planejamento e de investimentos no setor, não à falta de chuvas.
"A culpa não é de são Pedro. Esses reservatórios foram construídos para acumular água por cinco anos, de maneira que não teria nenhum problema passar por um período mais seco. O problema é falta de usinas suficientes. Gastou-se a água dos próximos cinco anos de uma vez só", disse Luiz Pinguelli Rosa, vice-diretor da Coordenação de Pós-Graduação de Engenharia da UFRJ.
Roberto Araújo, do Ilumina (Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Elétrico) e ex-chefe do Departamento de Mercado de Furnas, também diz que a falta de investimentos e de planejamento está causando esse problema. "Não é possível culpar a operação. Se ela gastou a água é porque precisou gerar mais energia, já que não houve investimento no setor", disse.
Trabalhando a plena carga, a hidrelétrica passa a lançar água pelas turbinas em proporção maior à da vazante do rio. Por isso, Pinguelli e Araújo afirmam que com mais usinas operando a questão poderia estar sob controle.
De fato, o consumo tem sido maior que a produção de nova energia. Um estudo de Furnas, segundo Silva, mostra que no Sudeste, nos últimos cinco anos, a energia assegurada cresceu menos do que a carga (consumo): 18% e 23,9%, respectivamente.
Os dois especialistas, no entanto, acham que a hidrelétrica não pára de operar porque essa questão é monitorada. Por exemplo: Furnas pode limitar a produção ao mesmo volume de água que entra no reservatório. Se a água baixar muito, pode fechar as comportas para encher um pouco e manter a produção em uma escala menor.
O presidente da Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais), Djalma Morais, também credita à falta de investimentos os problemas atuais. Ele, no entanto, disse que há o risco de a usina de Furnas parar.

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