OS POLÍTICOS E A GESTÃO

 


Nas últimas semanas, dois presidenciáveis foram praticamente colocados fora de combate por terem deixado aberto o flanco da gestão. Cesar Maia (PFL), pelo descalabro da saúde na cidade do Rio de Janeiro; Geraldo Alckmin (PSDB), pelo descalabro da Febem no Estado de São Paulo.
Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva foram os dois últimos personagens de um processo de transição política moldado na luta contra a ditadura militar. E vieram montados em duas utopias: o primeiro, na estabilização inflacionária; o segundo, na utopia petista. Esse tempo acabou.
O próximo presidenciável que quiser conquistar a opinião pública consciente (para diferenciar daquela mais suscetível ao populismo) terá que mostrar outras qualidades.
Um governante é composto de três virtudes fundamentais. A primeira, a capacidade de falar com os eleitores, de ser percebido e acatado pelo homem comum, elemento essencial de governabilidade, muito mais ainda nas modernas sociedades de massa. Alckmin tem esse atributo, mais uma vida pessoal irrepreensível. Mas não consolidou os dois outros: a capacidade de definir um projeto de construção do futuro e a gestão e determinação política para implementá-lo.
Para resolver o caso Febem, havia a necessidade de um bom diagnóstico, um bom gestor e coragem política para bancá-lo. Nada se fez unicamente para não enfrentar o desgaste com as cidades do interior que deveriam receber as novas unidades. Agora vai enfrentar, mas em um quadro de crise. O que fará quando tiver de definir os grandes temas nacionais?
É aí que entram duas pragas nacionais: o modelo político capenga brasileiro, que gravita em torno de políticos, não de partidos; e o modelo de gestão pública, que joga nas costas de políticos sem experiência administrativa a responsabilidade pela gestão.
A função do político, governador ou presidente, é nobre. Cabe a ele pensar o futuro, identificar os melhores caminhos, montar alianças com partidos e sociedade civil e mobilizá-los em torno de um projeto de futuro. Debaixo dele, há a necessidade imperiosa de uma estrutura executiva, que irá executar os trabalhos, prestar contas, conduzir o dia-a-dia.
Caberia a essa estrutura levantar informações, acomodar as prioridades do governo no Orçamento, definir formas de acompanhamento dos trabalhos de cada secretário, para saber se estão cumprindo a missão que lhes foi delegada. Pergunte a qualquer ministro ou secretário de Estado, não apenas de São Paulo, mas da maioria dos Estados, qual a missão que receberam, quais as metas com as quais se comprometeram. Provavelmente receberam apenas o diploma de posse e a ordem: toque isso aí.
Se o modelo político brasileiro fosse mais moderno, o próprio partido trataria de fornecer essa estrutura a seus governadores, serem co-responsáveis pelo processo. No entanto, eleito -prefeito, governador ou presidente-, o político se desprega da estrutura partidária. E acaba ficando na primeira curva do rio, ou no primeiro motim de um reformatório.

 



UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA