RACIONAMENTO
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O racionamento de água deve começar
a partir da segunda quinzena de abril na região abastecida pelo sistema Alto Cotia, afetando 200 mil pessoas
que vivem em Cotia, Embu, Embu-Guaçu e Itapecerica da Serra (todos na Grande São Paulo). A falta de água ameaça também os sistemas Guarapiranga e Cantareira e pode prejudicar até 12,7 milhões de pessoas -total servido pelos três sistemas, que equivale a 74,7% dos moradores da região metropolitana da capital. Pelo segundo ano consecutivo, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) atribui o fato a índices de chuva abaixo da média em janeiro, fevereiro e março. Em 2000, cerca de 4 milhões de pessoas enfrentaram racionamento na Grande São Paulo. A represa Pedro Beicht (que serve o sistema Alto Cotia) estava ontem com 28% de sua capacidade operacional -10,7 pontos percentuais a menos do que tinha em 11 de abril do ano passado, quando começou o racionamento. Desde segunda, o nível do reservatório caiu 0,6 ponto percentual. Para que o racionamento no Alto Cotia seja pelo menos adiado, é necessária uma chuva acumulada de 90 mm na Pedro Beicht até o dia 10 de abril. "A possibilidade de isso acontecer é muito pequena", afirmou o presidente da Sabesp, Ariovaldo Carmignani. "Certamente teremos de fazer racionamento. Os níveis das represas estão muito baixos", disse o governador Geraldo Alckmin. Até ontem, a chuva acumulada no Alto Cotia tinha sido de 68,8 mm, quando a média do mês de março é de 156,8 mm. Cada milímetro equivale à queda de um litro de água sobre uma superfície plana de um metro quadrado. A partir de meados de abril, é comum que as chuvas sejam cada vez mais escassas, em razão da progressiva queda de temperatura e da umidade do ar, explica o especialista em hidrometeorologia Augusto José Pereira Filho, professor do Departamento de Ciências Atmosféricas da USP. "Mantida a tendência, caminhamos naturalmente para o racionamento", conclui Carmignani. O Cantareira, que abastece 53% da Grande São Paulo, seria o segundo a entrar em rodízio, mas a Sabesp ainda tem esperança de que isso não aconteça porque o sistema é formado por rios que vêm até do sul de Minas Gerais e, por isso, tem mais possibilidade de receber chuvas. Para o professor Aldo Rebouças, especialista em recursos hídricos do Instituto de Estudos Avançados da USP, a Sabesp "usa a estratégia da escassez" em vez de resolver definitivamente o problema do gerenciamento dos mananciais na Grande São Paulo. "Não houve grande investimento para se prevenir da seca, tampouco ações não-estruturais para combater o desperdício." Segundo a Sabesp, desde 2000 foram investidos R$ 81,2 milhões na instalação de novas estações de bombeamento na região do Butantã, a construção da estação elevatória Cadiriri, e a construção do sistema de reversão das águas do braço Taquacetuba. |
Mariana Viveiros e Sérgio Duran, Folha de São Paulo, 23 de março de 2001, p.C6 |
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