NÍVEL DE RESERVATÓRIOS JÁ PREOCUPA TÉCNICOS


 

ONS diz que problemas estão em Furnas, Nova Ponte, Emborcação e Itumbiara, que estão muito abaixo da média

O nível de quatro reservatórios importantes da região Sudeste, que está bem abaixo da média da região, preocupa os técnicos do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).
Os reservatórios das hidrelétricas de Furnas, no rio Grande, Nova Ponte e Emborcação, no rio Paranaíba, e Itumbiara, no rio Paraná, estão muito abaixo da média de 34,66% dos reservatórios da região.
De acordo com o último relatório do ONS, os baixos índices dos reservatórios dessas usinas preocupam pela alta capacidade de armazenagem de água e por se localizarem na cabeceira dos rios -ou seja, ficam situados antes dos reservatórios de outras usinas.
O reservatório de Furnas, de acordo com o último relatório do ONS, está com 21,7% de sua capacidade. Nesse caso, a preocupação se deve ao fato de o reservatório ser um dos maiores da região e ficar na cabeceira do rio Grande.
No rio Paranaíba, a situação é preocupante nos reservatórios das usinas de Nova Ponte (20,95% da capacidade) e Itumbiara (14,81% da capacidade).
Nesses casos, a preocupação se deve ao fato de os reservatórios dessas usinas terem capacidade para grandes volumes de água.
Outro reservatório que preocupa na região Sudeste é o da usina de Emborcação (31% da capacidade).
Nesse caso, a situação é preocupante pelo tamanho e pelo fato de os reservatórios estarem na cabeceira do rio Paranaíba.


Soma

O número que o governo normalmente divulga como sendo o das regiões Sudeste e Centro-Oeste na verdade é a soma da quantidade de água em todos os reservatórios em relação à soma da capacidade de armazenamento.
A justificativa para adotar esse critério é que o sistema de geração e distribuição de energia é interligado. Isso significa que, se a falta de água inviabilizar a geração em uma usina da região Sudeste, outras usinas com reservatórios cheios podem gerar mais para compensar.

Governo descarta racionamento já

O porta-voz da Presidência, Georges Lamazière, afirmou ontem que "o governo não está preparando nada relacionado a racionamento". Segundo ele, a discussão sobre a geração de energia não depende do governo, mas sim das chuvas, especialmente nas regiões Sul e Sudeste. Para o governo, não é o momento ainda de se falar em racionamento. "É preciso esperar o término da estação chuvosa, previsto para abril."

Furnas tem sobrecarga há anos, diz engenheiro

O racionamento de energia no Sudeste é inevitável este ano, segundo o engenheiro Ataíde Vilela, 48, presidente do Sindefurnas, sindicato dos 1.500 funcionários do sistema Furnas. Segundo ele, a usina opera com sobrecarga há pelo menos quatro anos, devido à falta de investimentos e ao aumento do consumo de energia.
Ele afirma que o déficit entre consumo e produção nos últimos seis anos chega a 18% e que o governo está "tapando o sol com a peneira" ao pedir racionalização.
O reservatório de Furnas alcançou em fevereiro o nível mais baixo de sua história para o período anterior à estiagem: 12 metros abaixo do normal. Esse volume de água, na marca de 21,7%, só seria suportável em dezembro, no final da estiagem. Agora o ideal seria estar com 50% da capacidade para suportar os oito meses de seca.
Vilela diz que se o reservatório baixar mais três metros, a operação das turbinas ficará prejudicada. Se baixar cinco metros (ficaria no limite de 750 m acima do nível do mar), a produção teria que parar. Ele prevê que, sem chuvas, o limite seja alcançado por volta de agosto ou setembro.
A direção de Furnas negou anteontem que a usina possa parar, porque o volume é sempre monitorado. A Agência Folha tentou ontem à tarde, sem sucesso, falar com o chefe do Departamento do Planejamento da Operação de Furnas, Carlos Eduardo da Silva, responsável pelas informações à imprensa sobre a usina.
Vilela diz que o racionamento só será evitado se o governo determinar imediatamente um corte seletivo de energia. "Tem que determinar quem tem prioridade no uso. As indústrias de eletro-intensivos (produtoras de alumínio), chamadas lá fora de eletrolixo, por exemplo, devem ser as primeiras a sofrer o corte porque consomem demais", diz.
Agenor de Oliveira, sócio do Ilumina (Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Elétrico), considera "perigosas" as alternativas de corte seletivo de energia direcionado a alguns setores da indústria para evitar racionamento. "Eu não tenho nada que defendê-los, mas acho que fechar uma empresa no atual momento, de desemprego e falta de dinheiro das pessoas, precisa ser avaliado com mais cuidado".
Em função da pouca chuva, é "provável que a usina de Furnas tenha sérias dificuldades", diz. E diante do atual quadro, ele diz que racionamento é "inevitável".

Eliane Silva, Folha de São Paulo, 23 de março de 2001, p.B16




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