Na
recente Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável,
em Johannesburgo, a comunidade internacional renovou seu compromisso
de reduzir a fome e a pobreza, e o cumprimento desse
acordo é fundamental para o futuro de nosso planeta. O ponto
de partida para a maioria dos países pobres deve ser o desenvolvimento
rural. A agricultura é essencial para a vida rural e, portanto,
para o desenvolvimento sustentável e para uma geração
responsável de riqueza. Nas próximas décadas precisaremos
aumentar a produção de grãos e vegetais, gado,
peixe, florestas e matérias-primas.
A tarefa que temos pela frente é tremenda por sua complexidade,
já que devemos alimentar uma população que aumenta
rapidamente, proteger o ambiente e promover a igualdade social num futuro
que terá poucas semelhanças com o presente. Em 2050, a
população mundial -atualmente de seis bilhões de
pessoas- aumentará em três bilhões. Nosso planeta
será mais quente e as inundações e secas serão
mais frequentes e intensas. Precisaremos produzir mais com menos água
em muitas áreas, e com menos trabalho onde o HIV/Aids e as enfermidades
endêmicas abundam. Enfrentar esses desafios vai requerer acesso
a novos avanços científicos em uma ampla série
de usos agrícolas e gerar informação que os que
têm poder de decisão devem conhecer para poder combater
a pobreza com mais eficácia. As técnicas agrícolas
que atualmente utilizamos procedem de investimentos públicos
que levam aos cultivos mecanizados e à melhoria das variedades
de cereais e vegetais e dos nutrientes das plantas, bem como das tecnologias
de proteção das colheitas.
Esses avanços aumentaram os fornecimentos de alimentos e a renda.
Na Revolução Verde, as colheitas de trigo na Índia
quadruplicaram e os rendimentos do arroz na Indonésia se multiplicaram
por sete. Muitos camponeses se beneficiaram, mas não todos, enquanto
a África viu-se largamente marginalizada desses benefícios.
Os avanços que necessitamos realizar nos próximos anos
também precisarão do apoio de investimentos públicos
em pesquisa e desenvolvimento agrícolas. Entretanto, nas últimas
décadas a ciência e a tecnologia agrícolas praticamente
foram retiradas da agenda pública. Atualmente, o investimento
público está caindo, enquanto os do setor privado estão
aumentando, e a pesquisa que este apóia centra-se principalmente
em matérias-primas produzidas para os mercados dos países
desenvolvidos. Os investimentos públicos em pesquisa e desenvolvimento
agrícolas ocorrem apenas quando os que definem as políticas
possuem a informação necessária para compreender
os futuros desafios e as opções mais adequadas para enfrentá-los.
Devido ao tempo requerido para trasladar a investigação
de laboratório para a aplicação no campo, é
necessário recolocar a ciência e a tecnologia agrícolas
na agenda pública, de modo que se possa começar o trabalho
de gerar o tipo de informação imprescindível para
a tomada de decisões políticas.
Gerar essa informação requer os esforços conjuntos
de governos, indústria, comunidade científica e sociedade
civil de todo o mundo. Avaliações globais que permitam
unir os esforços de todas essas
entidades podem contribuir para que o setor público e os que
estabelecem as políticas centrem suas atenções
na elaboração de estratégias para o futuro.
O Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática
reúne a maioria dos cientistas e quase todos os governos do mundo
com o objetivo de analisar e chegar a um acordo sobre a natureza e o
alcance da alteração do clima. O que necessitamos agora
é de uma valorização global que coloque firmemente
a agricultura de novo na agenda pública e avalie as implicações
econômicas, ambientais e sociais de todas as opções
tecnológicas e políticas, desde a intensificação
da produção orgânica e da biotecnologia até
a redução ao mínimo do desperdício e um
uso mais eficiente dos recursos naturais. Recentemente, cem dirigentes
da sociedade civil, governos, setor privado e comunidade científica
de países ricos e pobres do mundo se reuniram em Dublin, na primeira
reunião de um processo de consultas organizado pelo Banco Mundial,
com o objetivo de reunir os interessados com diferentes, e às
vezes opostos, pontos de vistas, para trabalhar em conjunto no sentido
de identificar o tipo de dúvida que deve ser respondido pelos
que tomam as decisões. Nessa reunião de Dublin, obteve-se
um acordo completo sobre como deve ser conduzido o processo consultivo
de um modo aberto, transparente e inclusivo, e também debateu-se
sobre uma série inicial de questões que pode servir de
balizamento para uma valorização internacional do papel
da ciência e da tecnologia agrícolas na redução
da fome e na melhoria do nível de vida no meio rural.
Robert
Watson é chefe do setor científico do Banco Mundial
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