INVESTIR NA AGRICULTURA DEVE SER A CHAVE PARA DIMINUIR A FOME

Robert Watson
 

Na recente Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, em Johannesburgo, a comunidade internacional renovou seu compromisso de reduzir a fome e a pobreza, e o cumprimento desse
acordo é fundamental para o futuro de nosso planeta. O ponto de partida para a maioria dos países pobres deve ser o desenvolvimento rural. A agricultura é essencial para a vida rural e, portanto, para o desenvolvimento sustentável e para uma geração responsável de riqueza. Nas próximas décadas precisaremos aumentar a produção de grãos e vegetais, gado, peixe, florestas e matérias-primas.
A tarefa que temos pela frente é tremenda por sua complexidade, já que devemos alimentar uma população que aumenta rapidamente, proteger o ambiente e promover a igualdade social num futuro que terá poucas semelhanças com o presente. Em 2050, a população mundial -atualmente de seis bilhões de pessoas- aumentará em três bilhões. Nosso planeta será mais quente e as inundações e secas serão mais frequentes e intensas. Precisaremos produzir mais com menos água em muitas áreas, e com menos trabalho onde o HIV/Aids e as enfermidades endêmicas abundam. Enfrentar esses desafios vai requerer acesso a novos avanços científicos em uma ampla série de usos agrícolas e gerar informação que os que têm poder de decisão devem conhecer para poder combater a pobreza com mais eficácia. As técnicas agrícolas que atualmente utilizamos procedem de investimentos públicos que levam aos cultivos mecanizados e à melhoria das variedades de cereais e vegetais e dos nutrientes das plantas, bem como das tecnologias de proteção das colheitas.
Esses avanços aumentaram os fornecimentos de alimentos e a renda. Na Revolução Verde, as colheitas de trigo na Índia quadruplicaram e os rendimentos do arroz na Indonésia se multiplicaram por sete. Muitos camponeses se beneficiaram, mas não todos, enquanto a África viu-se largamente marginalizada desses benefícios. Os avanços que necessitamos realizar nos próximos anos também precisarão do apoio de investimentos públicos em pesquisa e desenvolvimento agrícolas. Entretanto, nas últimas décadas a ciência e a tecnologia agrícolas praticamente foram retiradas da agenda pública. Atualmente, o investimento público está caindo, enquanto os do setor privado estão aumentando, e a pesquisa que este apóia centra-se principalmente em matérias-primas produzidas para os mercados dos países desenvolvidos. Os investimentos públicos em pesquisa e desenvolvimento agrícolas ocorrem apenas quando os que definem as políticas possuem a informação necessária para compreender os futuros desafios e as opções mais adequadas para enfrentá-los. Devido ao tempo requerido para trasladar a investigação de laboratório para a aplicação no campo, é necessário recolocar a ciência e a tecnologia agrícolas na agenda pública, de modo que se possa começar o trabalho de gerar o tipo de informação imprescindível para a tomada de decisões políticas.
Gerar essa informação requer os esforços conjuntos de governos, indústria, comunidade científica e sociedade civil de todo o mundo. Avaliações globais que permitam unir os esforços de todas essas
entidades podem contribuir para que o setor público e os que estabelecem as políticas centrem suas atenções na elaboração de estratégias para o futuro.
O Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática reúne a maioria dos cientistas e quase todos os governos do mundo com o objetivo de analisar e chegar a um acordo sobre a natureza e o alcance da alteração do clima. O que necessitamos agora é de uma valorização global que coloque firmemente a agricultura de novo na agenda pública e avalie as implicações econômicas, ambientais e sociais de todas as opções tecnológicas e políticas, desde a intensificação da produção orgânica e da biotecnologia até a redução ao mínimo do desperdício e um uso mais eficiente dos recursos naturais. Recentemente, cem dirigentes da sociedade civil, governos, setor privado e comunidade científica de países ricos e pobres do mundo se reuniram em Dublin, na primeira reunião de um processo de consultas organizado pelo Banco Mundial, com o objetivo de reunir os interessados com diferentes, e às vezes opostos, pontos de vistas, para trabalhar em conjunto no sentido de identificar o tipo de dúvida que deve ser respondido pelos que tomam as decisões. Nessa reunião de Dublin, obteve-se um acordo completo sobre como deve ser conduzido o processo consultivo de um modo aberto, transparente e inclusivo, e também debateu-se sobre uma série inicial de questões que pode servir de balizamento para uma valorização internacional do papel da ciência e da tecnologia agrícolas na redução da fome e na melhoria do nível de vida no meio rural.

Robert Watson é chefe do setor científico do Banco Mundial




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