UMA VISÃO SOBRE VARGAS

 


O desenvolvimento de um país é composto por etapas que se sucedem e se superam permanentemente. Cada etapa traz um conjunto de novas forças que se estabelecem, se consolidam e, depois de completado o ciclo, tornam-se os maiores fatores de resistência para a passagem para a etapa seguinte. Cabe ao estadista identificar o novo e criar as condições políticas para a superação do velho e o início da nova etapa.
O estadista não é o pensador, é o que faz. Vale-se muito mais da intuição do que da teoria, das idéias existentes do que das suas próprias idéias. A construção do seu projeto é o resultado da intuição para o novo e das saídas políticas que encontra para os impasses do dia-a-dia.
Foi o que Getúlio Vargas fez permanentemente. O Vargas dos anos 30 se valeu do início da criação da nacionalidade, a partir dos tenentistas, da Semana de 22 e dos pensadores que, nos anos 30, escreveriam as obras clássicas sobre o país. Estava preocupado em criar uma burocracia profissional, formas de regulação da ação do Estado e substituição incipiente das importações.
Com o Estado montado, o Vargas dos anos 50 se via em condições de criar a grande empresa nacional para investir em infra-estrutura. Foi estatal por absoluta falta de capitais privados, não por opção ideológica. O estadista não é um ideólogo, é um animal político com faro especial para analisar a realidade e encontrar novos caminhos. Quem pensou as formas de financiamento da Petrobras foram Horacio Lafer, o patriarca dos Klabin, Roberto Campos e Glycon de Paiva, justamente a ala internacionalista de Vargas.
Ao lado dela, havia uma ala nacionalista, de uma assessoria econômica composta por nomes que ele foi buscar com Roberto Simonsen, o maior dos industrialistas brasileiros -composta por Rômulo de Almeida, Cleantho de Paiva Leite e Jesus Soares Pereira, esse filho direto da profissionalização do serviço público. O projeto de Petrobras, pensado por Rômulo, previa a estatal, mas não o monopólio -que foi instituído pela UDN liberal de Bilac Pinto.
Isso posto, não se pode entender o varguismo como um conjunto de conceitos estáticos e/ ou ideológicos. A sua ideologia era a do desenvolvimento. As ferramentas, as que tivesse à mão.
Com a infra-estrutura encaminhada, seu herdeiro político, Juscelino Kubitschek, promoveu a atração de capitais produtivos internacionais. Assim como Vargas, JK se valia da intuição e do pragmatismo para escolher as grandes idéias de seu tempo e montar o pacto político capaz de transformá-las em ação.
Não dá nem para desqualificar nem qualificar sua obra econômica pelo fato de ter sido um ditador. Hitler foi um inovador fantástico e um ditador sanguinário.
Vargas foi o maior estadista brasileiro do século e foi um ditador sanguinário, filho da cultura violenta, dos gaúchos da fronteira, que aprenderam a lavar a honra com sangue. Ainda adolescentes, ele e os irmãos participaram do assassinato de um colega em Ouro Preto, quando lá estudavam.

 



UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA