ESTUDO VÊ PONTOS NEGATIVOS NO SÃO FRANCISCO

 

Marta Salomon

TRANSPOSIÇÃO DAS ÁGUAS: Conclusão consta de relatório ambiental encomendado pelo Ministério da Integração Nacional

Obra dos sonhos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o desvio das águas do São Francisco por 720 quilômetros de canais de concreto abertos na caatinga vai reduzir a geração de energia no rio e provocar desemprego antes de combater a seca no Nordeste.
Esses são apenas dois dos efeitos negativos da obra listados no Rima (Relatório de Impacto Ambiental) encomendado pelo Ministério da Integração Nacional. O documento, disponível no endereço eletrônico do ministério, é o primeiro passo para o licenciamento ambiental em análise no IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
Embora não haja prazo para a licença sair, o governo espera começar a obra no início de 2005, com o R$ 1,073 bilhão que o projeto de Orçamento lhe destina no ano que vem. Ao final de 136 páginas de considerações sobre prós e contras, o Relatório de Impacto Ambiental afirma que a transposição das águas do São Francisco "apresenta uma solução eficiente e estruturante para aumentar a oferta de água" na região da seca.
Os contras (maioria entre 23 impactos considerados "mais relevantes") começam pela perda de 2.300 empregos diretos durante a desapropriação de terras, antes do início das obras. O Rima calcula que 3.500 pessoas tenham de ser remanejadas para dar espaço aos canteiros de obras e à construção dos canais, estações de bombeamento de água, aquedutos, túneis e reservatórios. "Durante a construção do empreendimento, está prevista a geração de cerca de 5.000 postos de trabalho. Esses postos deverão ser abertos somente nesse período, não representando um grande incremento em relação ao emprego total", diz o texto, que recomenda às empreiteiras a contratação de trabalhadores das próprias comunidades para a obra, cuja duração prevista é de quatro anos.
Depois de pronta, a obra permitiria a criação de 240 mil empregos diretos e indiretos em projetos de irrigação e, com isso, reduziria a migração para os centros urbanos. A redução em 35% do êxodo rural previsto para acontecer até 2025 é uma das principais justificativas do projeto e foi mencionada na mensagem do presidente Lula ao Congresso.

Mais piranhas
Os impactos negativos, sobre os quais não há nenhuma referência na mensagem de Lula, vão do aumento da população de piranhas e pirampebas, peixes que podem prejudicar a pesca pelos desvios do São Francisco, até a redução da energia elétrica gerada no rio.
Esse último impacto é uma das principais críticas à obra. O Rima confirma: o desvio das águas prejudicará a geração de energia das usinas hidrelétricas localizadas depois de Sobradinho. A perda é estimada em 137 MWh/h. "Essa redução poderá ser compensada com a produção gerada pelas usinas termelétricas que estão sendo instaladas na região ou por usinas localizadas em outras bacias", recomenda o relatório, que prevê também a queda da receita de municípios que hoje recebem compensações pela inundação de parte de seus territórios.
Diante das alternativas consideradas para combater a seca, como a dessalinização de água do mar, o Relatório de Impacto Ambiental releva a possibilidade de perda de sítios arqueológicos e de interferência em duas comunidades indígenas da região -os pipipan e os truká, outros dois impactos negativos anotados no Rima.

 

* Consiste na construção de 720 quilômetros de canais para desviar águas do Rio São Francisco beneficiando quatro Estados (CE, PB, PE e RN)

* A produção agrícola será a maior beneficiada

* A água será utilizada também pela população urbana e pelo setor industrial

* Para chegar aos rios que irão receber as águas do São Francisco serão necessárias várias obras para atravessar as serras e planaltos

 



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