Abundância
de terras, pioneirismo de agricultores, pesquisas da Embrapa e câmbio
favorável produziram uma revolução no agronegócio.
Mesmo a terrível política cambial que assolou o setor
a partir de 1994 contribuiu para que se avançasse na modernização
do campo. Agora é preciso ir além, agregando um novo componente
de valor ao produto brasileiro: o marketing.
Esse alerta consta de estudo de Carlos Capps e Marcos Macedo, da A.T.
Kearney, que levanta dados relevantes sobre o comportamento da moderna
agricultura nos países desenvolvidos.
A lógica é simples. O Brasil avançou em pesquisa
e em crédito. São vantagens que, com o tempo, podem ser
acompanhadas por outros competidores. Há a necessidade de uma
política comercial agrícola, que contemple o consumidor
e o marketing.
Um caminho seria criar uma marca de commodity brasileira, através
de uma política de disseminação de informações
sobre os atributos de um novo produto. Nessa estratégia, não
se divulga a marca privada, mas o produto em si. Vale para o mercado
externo e para o mercado interno, já que a apreciação
do câmbio pode produzir novamente o fenômeno da importação
de alimentos estrangeiros.
A Inglaterra é um país com alto custo de produção.
A forma para se diferenciar é um selo chamado "Little Red
Tractor" (www.littleredtractor.org.uk). Esse selo foi instituído
em junho de 2000, idealizado pela Associação Nacional
dos Agricultores, e, nos dois primeiros anos, contou com apoio financeiro
do Ministério da Agricultura.
O certificado garante que os produtos satisfazem pré-requisitos
relevantes, hoje em dia, como a preservação do ambiente
e a sanidade do alimento. A certificação já atingiu
78 mil produtores, que representam de 65% a 90% da produção
inglesa, dependendo do setor, movimentando 5 bilhões de libras
esterlinas (cerca de R$ 25,5 bilhões) por ano em vendas no varejo.
Nos EUA, esses programas podem ser estaduais ou federais, dependendo
do grau de dispersão da produção. Com base em referendo,
a contribuição passa a ser obrigatória e incide
sobre produtores e importadores.
Só para promover o algodão, o investimento anual é
em torno de US$ 62 milhões, 30% para pesquisa, 65% em marketing
e comunicação de massa e 5% na administração
do programa e na manutenção dos quatro escritórios:
Cidade do México, Osaka, Xangai e Cingapura.
Um estudo de avaliação da promoção da carne
bovina revelou que, de 1987 a 2000, para cada US$ 1 arrecadado houve
o retorno de US$ 5,67. No período de 1991 a 2003, no caso da
soja houve o retorno de US$ 8 para cada US$ 1 arrecadado.
Obviamente -indicam os autores- programas, mesmo de marketing, não
podem abrir mão de um acompanhamento detalhado de resultados,
monitoramento e controle. E devem ser integrados ao longo da cadeia
de suprimentos. Além de ser investimento pesado, que precisa
ser dividido, é importante que cada elo entenda a dinâmica
do agronegócio para ampliar as chances de sucesso.
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