Num
futuro não muito distante, imagens de satélite vão
fornecer a estudiosos do cerrado e do semi-árido e a plantadores
de milho e soja informações preciosas, como uma previsão
do rendimento da safra e a hora mais adequada para irrigar os campos.
Antes que os dados enviados do espaço sejam transformados em
algo útil à agricultura, no entanto, será preciso
conduzir dois anos de pesquisa. O objetivo é justamente descobrir
a fórmula matemática que "traduz" o que se vê
no satélite na informação que realmente os plantadores
querem saber: quanta umidade existe num dado território? "É
um algoritmo, que deve ser diferente dependendo do tipo de solo observado",
explica Edson Sano, da Embrapa, instituição que está
liderando os trabalhos no Brasil. A pesquisa envolve pesquisadores da
Embrapa, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e de universidades,
em parceria com a Nasa (agência espacial americana) e o USDA (Departamento
de Agricultura dos Estados Unidos).
Do próximo domingo até 9 de dezembro, um avião
da Nasa será usado para coletar imagens da região de Barreiras
(no oeste baiano), uma área de transição entre
o cerrado e o semi-árido. A esses dados serão reunidos
os obtidos pelo satélite Aqua, projeto internacional liderado
pela Nasa para estudar o ciclo hidrológico do planeta. Ambos
os resultados serão comparados aos de coletas de amostras no
local. Com isso, será possível estabelecer uma correlação
precisa entre o que se vê de cima e o que existe embaixo. Ao estabelecer
o algoritmo (conjunto de instruções para processamento
de dados) que ajuda a converter as leituras brutas do satélite
em informações sobre umidade do solo, será possível
dispensar análises futuras com base em amostras, que tornam as
avaliações mais lentas e caras. "O uso só
das imagens de satélite torna tudo muito mais dinâmico",
diz Sano. "Não será preciso passar toda vez pelo
processo de análise de amostras."
Origem
americana
O projeto originalmente foi concebido nos Estados Unidos, onde está
sendo executado desde 2002. "Nisso nós não tivemos
participação nenhuma, foi inteiramente feito lá",
afirma Sano. Entretanto, com o sucesso do modelo, os pesquisadores brasileiros
decidiram propor a implementação de um estudo similar
em território nacional. Nada mais justo, uma vez que o Aqua possui
um instrumento brasileiro a bordo e tem suas imagens recebidas também
pelas instalações do Inpe em Cachoeira Paulista. O Brasil
será o primeiro país a se beneficiar dessa missão
estendida do projeto americano. Em 2004, será a vez do México.
O enfoque brasileiro será nas áreas semi-áridas
e de cerrado. Não é possível executar o estudo
em região de floresta tropical, uma vez que as árvores
da mata impedem a observação do solo pelo satélite.
"Temos quatro cenários para investigar", afirma Sano.
"Cerrado, semi-árido e plantações de milho
e soja." Nos dois primeiros casos, a aplicação é
ambiental -entender melhor como a água flui (ou não flui)
em regiões desse tipo. Mas, nos dois últimos, o uso vai
além dos estudos acadêmicos. Para o pesquisador da Embrapa,
existem três aplicações. "A primeira é
identificar os momentos mais adequados para a irrigação,
com base na umidade do solo. A segunda é oferecer previsões
das safras. E a terceira é acompanhar o rendimento da produção,
que é muito importante para o [programa" Fome Zero."
O estudo em campo deve acontecer até o final de dezembro. Depois
disso, a pesquisa entrará na fase de processamento dos dados
colhidos, o que deve durar aproximadamente dois anos.
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