Há
muito tempo, falava-se que a lavoura era a salvação nacional.
E foi mesmo. Mais importante. Nos últimos dez anos, a agropecuária,
agora adicionada pelo agribusiness, vem desempenhando um papel crucial
no desenvolvimento econômico. Sua taxa de crescimento tem ficado
sempre acima da do PIB nacional. Durante o Plano Real, a verdadeira
ferramenta na manutenção da estabilidade de preços
foi a chamada "âncora verde". Mais recentemente, o sucesso
das exportações tem sido fundamentalmente garantido pelo
setor do agronegócio.
Neste ano de 2005, estamos entrando em uma quadra preocupante para o
setor. Os preços internacionais da soja, do milho e do algodão
estão em baixa, e os custos de produção estão
em alta. O aumento nas exportações que pode ser conseguido
neste ano talvez não seja suficiente para compensar a elevação
daqueles custos. Além do mais -e apesar das promessas-, tanto
a União Européia como os Estados Unidos continuaram ferindo
neste ano de 2005 o desempenho da nossa agropecuária com subsídios
de alta monta.
O ministro Roberto Rodrigues, atento a todos os acontecimentos do mercado
interno e externo, sabe melhor do que ninguém que um fracasso
da agricultura poderá significar um fracasso nas nossas exportações,
no crescimento e no emprego.
Aos fatores acima mencionados, em importante entrevista concedida ao
jornal "O Estado de S. Paulo" no dia 22 de fevereiro, o ministro
da Agricultura foi enfático ao criticar a exorbitância
dos juros internos e a exagerada valorização do real perante
o dólar.
Usando uma linguagem franca e direta, Roberto Rodrigues afirmou: "Se
tudo continuar como está, vamos perder competitividade, e o processo
de avanço das exportações terá uma séria
reversão".
O seu raciocínio é límpido: juros altos demais
atraem dólares especulativos, que aqui chegam para serem aplicados
em títulos públicos que rendem quatro ou cinco vezes mais
do que os papéis dos países de origem e, com isso, rebaixam
a taxa de câmbio de forma artificial e inapelável para
um setor que tem tudo para continuar exportando e gerando empregos neste
país tão carente.
Roberto Rodrigues é um homem experiente e profundo conhecedor
dos assuntos agrícolas. O seu chamamento não tem tom de
crítica à política econômica. Constitui um
importante alerta para as autoridades monetárias, que reconhecidamente
enfrentam graves dilemas.
O fato concreto é que o setor que foi a âncora verde e
que agora é a locomotiva das exportações não
pode ser maltratado e muito menos destratado pela política monetária,
mesmo porque, conhecendo as potencialidades do Brasil nesse setor, o
ministro da Agricultura vem pensando grande e elaborando um plano agrícola
para os próximos 30 anos. Afinal, é certo que, nesse período,
o Brasil será chamado várias vezes a atender a demanda
do mundo como um grande celeiro de produção e exportação
de alimentos.
|