Há
muito a humanidade sabe que a falta de água afeta o clima e as
condições de vida das populações e é
isso o que ocorre no Nordeste.
O presidente Lula tem a grande tarefa de atender à população
brasileira que sofre com a falta d'água e melhorar suas condições
de vida. Iniciou criando o Instituto Nacional do Semi-Árido,
onde pretende reunir técnicos para fazerem "estudos e apontar
soluções" para as regiões mais secas do norte
de Minas Gerais ao leste do Maranhão. Esse instituto é
parte do Plano Nacional de Reforma Agrária, esperado há
tantos anos.
É animadora a determinação do governo federal acerca
desse projeto, que pode elevar a produção nordestina,
melhorar a educação e as condições de vida
e trabalho de sua população. Além de evitar a migração
de famílias para o Sul, Centro e região amazônica.
Fará crescer a produção rural, o comércio
e as exportações nordestinas.
Será necessário levar ao semi-árido águas
de outros sistemas pluviais e planejar a implantação da
nova agropecuária. Serão altos os investimentos iniciais,
para reorganizar e instruir as populações na área.
Agora os devemos enfrentar, considerando seu grande potencial e o tempo
para a realização. Nosso governo poderia solicitar financiamento,
já oferecido por banco internacional, para pagamento em longo
prazo, como exige o projeto. Estruturado esse programa no sistema cooperativo,
organizada a economia rural, será possível aplicar modernas
técnicas, com equipamento mecânico de alto rendimento e
uso correto das águas, sem erosão. Além de estimular
a indústria e o comércio, o programa acionará a
circulação financeira, sem afetar as terras de cultura
nem a reserva legal.
Para esse trabalho, lembro, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues,
já tendo presidido a Aliança Cooperativa Internacional,
poderá indicar estrutura -técnicos e administradores jovens
e capazes, para darem partida a esse grande projeto de vida cooperativa
com o menor dispêndio.
A distribuição
racional das águas no Nordeste poderá levar alguns anos,
mas criará condições para a ativação
das cidades e do campo, da produção alimentar, com progresso
na vida familiar e atendimento à demanda externa de carnes, leite,
cereais, frutas, mel, fibras e seus subprodutos. No Piauí, com
seu grande aqüífero já sendo perfurado, será
possível iniciar a distribuição racional das águas,
preservando-as para a caatinga. Organizadas as cooperativas rurais,
com agrônomos, economistas, engenheiros e veterinários,
otbter-se-á sucesso.
Será fundamental organizar as cooperativas rurais, com famílias
em número suficiente para cada unidade. Cada cooperativa deverá
dispor de área, em dimensão adequada, para a mecanização,
em rotação de lavouras, com animais em pastos ou confinados
em áreas menores. Para ovinos, caprinos, suínos ou aves,
serão necessárias instalações cobertas e
parques. Com essas instalações, melhoraria rapidamente
a alimentação das famílias cooperadas e das populações
vizinhas. Produtos excedentes seriam vendidos em regiões próximas
do semi-árido, no mesmo princípio básico do Fome
Zero.
No Nordeste já se faz agricultura e pecuária de alto nível,
mas ainda é pouca e esparsa. A produtividade varia muito com
o regime de chuvas -passível de controle parcial, na preservação
dos solos em curvas de nível.
Será necessário trabalhar por etapas e começar
escolhendo grupos de trabalhadores de bom nível em conhecimento
rural para a gerência das cooperativas rurais. Seriam escolhidos
com cuidado os coordenadores das comunidades -pessoas experientes, com
disposição para a vida rural e disciplinados no trabalho.
As cooperativas de reforma agrária, instaladas em terras legalmente
adquiridas, administrando terras e águas hoje disponíveis,
com técnicas e equipamentos adequados, atingirão uma agropecuária
produtiva.
O trabalho de planejamento das unidades cooperativas e de treinamento
do pessoal administrativo e operacional deveria ser iniciado pelo Incra,
em uma das atuais unidades, passando o mais cedo possível à
central cooperativa. Esta coordenaria todas as implantações
de novas unidades, seu treinamento operacional e administrativo.
As cooperativas auxiliarão as famílias na construção
de suas casas, simples e confortáveis, nas "agrovilas",
providas de energia elétrica, instalações sanitárias,
coleta de água e área privativa para horta e pomar. Todas
as cooperativas terão escola primária para as crianças
e, ao entardecer, para a alfabetização de adultos. Os
que se destacassem nos cursos seriam inscritos nas universidades.
É urgente organizar, de início, 20 cooperativas rurais
no Nordeste, com média de 250 famílias, para constituir
e operar essas unidades econômicas e rentáveis. As famílias
ganhariam estabilidade e segurança econômica.
Rubens
Tellechea Clausell é Engenheiro Agrônomo
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