Com a divulgação ontem
do decepcionante resultado da economia no terceiro trimestre, o Palácio
do Planalto já teme que não haja crescimento neste ano
-há risco de "PIB zero" ou até de um índice
negativo de variação do Produto Interno Bruto. A Folha
apurou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou decepcionado
com o crescimento de apenas 0,4% do PIB no terceiro trimestre em relação
ao trimestre anterior, anunciado ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística). Estimava-se uma expansão
entre 1,5% e 2,4%. Agora, o governo acredita numa retomada do crescimento
mais demorada do que imaginava inicialmente. Com os novos dados do IBGE,
os mais otimistas da administração petista avaliam que,
na melhor das hipóteses, o crescimento do PIB vá ficar
entre 0,2% e 0,6% neste ano -a última previsão do Ministério
da Fazenda estava em 0,4%.
Os mais pessimistas estão prevendo um número próximo
a zero ou até negativo. Consultorias, institutos de pesquisa
e instituições financeiras já reviram ontem mesmo
suas previsões para o ano. A consultoria Tendências, por
exemplo, mudará sua estimativa de crescimento de 0,5% para algo
próximo a zero. A consultoria GlobalInvest reviu sua projeção
de aumento de 0,45% para queda de 0,2%. Já o Ipea (Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada), ligado ao Ministério do
Planejamento, deve mudar sua projeção de crescimento de
0,5% para um número próximo a 0,3%. Nesse novo contexto,
deve crescer a cobrança de Lula por maior rapidez no ritmo de
queda dos juros do BC, hoje em 17,5% ao ano. A taxa caiu 1,5 ponto percentual
neste mês por pressão do próprio presidente. É
possível que um novo corte de 1,5 ponto se repita em dezembro,
apesar das resistências no BC e do discurso oficial de que não
há interferência do Palácio do Planalto na política
monetária.
Lula já estava preparado para o baixo crescimento em 2003, resultado
da política de arrocho fiscal e monetário. No fim de semana,
o presidente do BC, Henrique Meirelles, disse em reunião com
o presidente e com ministros que a taxa do ano deveria ficar em 0,6%.
Ontem, Lula desabafou com interlocutores -dizendo que esperava um número
melhor do PIB- e lamentou que o resultado tenha ofuscado a repercussão
da aprovação da reforma da Previdência no Senado.
No entanto não passa pela cabeça de Lula enfraquecer o
ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho. No período de uma
semana, Lula defendeu Palocci publicamente e nos bastidores. Segundo
um auxiliar direto do presidente, Lula já espera um aumento das
críticas contra o ministro e está preparado para defendê-lo.
No Planalto, comenta-se que a Fazenda, que previra crescimento de 0,4%
no ano, foi mais realista do que o ministro Guido Mantega (Planejamento),
que falou em 0,8% e disse que a previsão de 0,4% fora feita num
momento de "mau humor". Estima-se que o crescimento necessário
no 4º trimestre (em relação ao mesmo período
de 2002) para chegar à alta de 0,8% em 2003 seja de 3,9%. A possibilidade
de queda do PIB, algo que ocorreu pela última vez em 1992 (governo
Collor), é vista com preocupação por Lula. Ele
sabe que sua política econômica estará no centro
do debate eleitoral e que o mote "PIB zero", variação
irônica do nome do programa Fome Zero, deverá ser usado
pela oposição em 2004 -embora, tecnicamente, não
exista PIB zero, ou crescimento nulo. Nas reuniões da cúpula
do governo, Palocci tem dito que a economia dará bons resultados
mais claramente a partir de maio de 2004, quando a campanha eleitoral
começar a esquentar.
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