ANALISTAS ERRAM E JÁ ESPERAM ATÉ RETRAÇÃO DO PIB EM 2003

Érica Fraga

Para os que gostam de dizer que economistas não acertam previsões, o último resultado do PIB (Produto Interno Bruto) foi um prato cheio. A expansão de 0,4% entre julho e setembro em relação ao segundo trimestre contrasta com as projeções que iam de 1,5% a 2,4%. Especialistas passaram o dia ontem avaliando onde erraram e refazendo as contas. Agora, já se espera estagnação ou até retração da economia em 2003. Mudança metodológica e revisão de dados passados foram citadas como principais causas das previsões frustradas. São fatores, se defendem os economistas, que não podiam antever. Mas alguns especialistas admitem também erros de cálculo, principalmente no caso do PIB agropecuário e de alguns subitens de serviços. "Fiquei estupefato com o resultado. Mas acho que boa parte se deve à revisão metodológica e à atualização de dados dos últimos trimestres", diz Francisco Pessoa, economista da LCA Consultores. A LCA esperava expansão de 0,9% do PIB no último trimestre em relação ao mesmo período de 2002. Outros bancos e consultorias contavam com expansão menor, entre 0,2% e 0,4%. Mas o dado divulgado pelo IBGE foi bem pior: uma queda de 1,5%.

Agropecuária
O desempenho do setor agropecuário foi o que mais surpreendeu analistas. Em relação ao terceiro trimestre de 2002, as estimativas iam de ligeira queda de 0,6% a alta de 7,8%. O resultado oficial foi uma retração de 2,8%. Segundo Paulo Levy, diretor do Ipea (Instituo de Pesquisa Econômica Aplicada), a produção do café veio abaixo do esperado. Juan Jensen, economista da consultoria Tendências, cita também a antecipação da safra de cana-de-açúcar do terceiro para o segundo trimestre como outro fator que teve impacto negativo no resultado da economia de julho a setembro. A Tendências esperava expansão de 2,3% do PIB em relação ao segundo trimestre. Além disso, a revisão para cima dos dados agropecuários em 2002 e dos primeiros trimestres deste ano acabou tornando a base de comparação mais elevada. Parcialmente, as projeções não se concretizaram por esse motivo. Economistas também subestimaram o efeito que a inclusão da telefonia móvel teria no cálculo de serviços. A expectativa era que o resultado positivo da expansão do consumo de celulares compensasse as recentes quedas da demanda por telefonia fixa. Erraram. Mesmo com a mudança, o subsetor de comunicações teve queda de 1% no terceiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2002.

Revisões
Com as previsões fortemente frustradas, economistas partiram ontem para rever seus cálculos. Como a maioria já esperava desempenho pífio entre 0,2% e 0,5% para 2003, as projeções caminham, agora, para 0% ou até para uma retração da economia. A Tendências mudará sua projeção de 0,5% para algo próximo a 0%. A GlobalInvest reviu seu número de 0,45% para queda de 0,2%. O Ipea deverá reduzir sua estimativa de 0,5% para 0,3%. Apesar disso, economistas ressalvam que a tendência para a economia continua sendo positiva. A expansão de 2,7% do PIB industrial no terceiro trimestre em relação ao segundo aponta o início de uma recuperação. "Embora decepcionantes, os dados não indicam inversão da tendência de recuperação. O PIB industrial prova isso", diz Alexandre Bassoli, economista-chefe do HSBC Investment Bank.

 
 
QUEBRA NA SAFRA DE CAFÉ DERRUBA PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA, DIZ IBGE
Uma quebra de 20% na safra de café deste ano foi, para o IBGE, a principal causa do mau desempenho da produção agropecuária brasileira no terceiro trimestre, que teve queda de 6,7% na comparação com o trimestre anterior. A redução foi a maior desde o primeiro trimestre de 1998 (-9,7%). Em relação ao mesmo trimestre de 2002, a queda foi de 2,8%. Os técnicos explicaram que o café é a principal safra do terceiro trimestre, período no qual várias outras safras importantes, como a de soja, já foram colhidas. "O resultado está fortemente influenciado por efeitos sazonais", disse Rebeca Palis, do IBGE, ressaltando que não há nada errado com o setor agropecuário, com exceção da quebra de safra do café. A produção agropecuária não apresentava resultado negativo em relação ao trimestre imediatamente anterior desde a queda de 1% ocorrida no primeiro trimestre de 2002. Já na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, o último resultado negativo havia sido no quarto trimestre de 2000 (-3,9%). Apesar do mau desempenho, a agropecuária continua sendo o principal ponto de sustentação da economia brasileira em 2003 do ponto de vista da produção. Ela cresceu 5,1% de janeiro a setembro, contra uma queda de 0,7% na indústria e de 0,3% nos serviços.
 



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