ENCHENTE ARTIFICIAL TENTA SALVAR GRAND CANYON

 

John HIscock

Uma onda de água está avançando para dentro do Grand Canyon em um audacioso experimento para restaurar as margens do rio Colorado e salvar peixes e plantas que têm rareado ao longo dos últimos 40 anos.
A cheia artificial está descendo pelo rio, para dentro do desfiladeiro, a partir de quatro tubos de aço gigantes, carregando sedimentos naturais bastante requisitados junto com eles.
O empreendimento de quase 3 milhões de dólares, apoiado por mais de uma dúzia de agências governamentais e grupos dos EUA, já terminou, mas o quanto ele irá funcionar ainda exigirá meses de observação.
Cerca de 50 cientistas já começaram a navegar rio abaixo para estudar os efeitos imediatos do experimento. Eles continuarão a fazer isso nos próximos 18 meses.
Os campistas foram alertados a permanecer longe, porque seus locais de acampamento podem ser alagados na operação.
Estimadas 800 mil toneladas de sedimento devem ser arrastadas pela água corrente, no ritmo alucinado de 1.160 metros cúbicos por segundo. Espera-se que o sedimento recrie as margens de areia, as águas calmas e as praias necessárias para peixes, pássaros, cobras e plantas que estão morrendo atualmente. Quatro de oito espécies de peixe nativas do Grand Canyon já foram extintas e as chances de sobrevivência de uma quinta são pequenas.
Por milhares de anos, a neve derretida carregou vastas quantidades de areia corrente abaixo, criando barreiras, canais de água parada para peixes e um habitat arenoso para animais terrestres. Mais recentemente, forneceu praias para praticantes de rafting e pescadores.
Mas em 1963 o fluxo natural de areia e água foi alterado permanentemente pela construção da barragem Glen Canyon, logo acima do Grand Canyon. A represa agora prende todo o sedimento que deveria ter fluído para dentro do desfiladeiro, deixando o rio Colorado sem areia e fluindo com água gelada e cristalina usada para gerar eletricidade.
Os peixes nativos, que evoluíram em águas mais quentes e arenosas, estão desaparecendo e suas crias são consumidas por trutas de água gelada que agora dominam o rio. Os bancos de areia nas margens do rio estão erodindo e nos que sobram abunda vegetação invasora.
"O sedimento, areia, lama e lodo, tem um papel importante no ecossistema", disse Chip Groat, diretor do USGS (Serviço Geológico dos Estados Unidos).
O momento é considerado ideal porque as chuvas torrenciais em outubro agitaram o sedimento da água na barragem Glen Canyon, e os cientistas agora estão agindo depressa para soltar os milhões de toneladas de sedimento no desfiladeiro, antes que se assente.
"O ecossistema foi prejudicado pela represa e esse é um esforço para imitar o que a natureza não tem a chance de fazer", disse a porta-voz da Geological Survey A.B. Wade. "Esse é um experimento. Se funcionar, consideraremos realizar mais liberações nos próximos 18 meses. Esse é apenas o começo."
Um experimento similar em 1996, durante 18 dias, foi malogrado, porque era baseado em premissas errôneas. Mas os cientistas estão otimistas de que desta vez, com um planejamento diferente e com o auxílio de novos instrumentos, eles terão um efeito quase imediato e alguns lugares no rio deverão ter barreiras de areia em pouco mais de 13 horas.
"A meta é jogar tanta areia quanto pudermos nos bancos de areia, sem empurrar mais do que você precisa", disse David Rubin, especialista em sedimentologia do USGS.
Bennett Raley, secretário-assistente para água e ciência no Departamento do Interior, disse que o experimento era um processo em que os cientistas tentam algo, aprendem com seus erros e então tentam algo diferente. "Brincar de Deus é mais difícil do que parece", ironizou Raley.
O Parque Nacional do Grand Canyon foi designado um sítio do Patrimônio Mundial e a lei federal americana determina que as autoridades locais devem fazer tudo que puderem para preservá-lo.

 
 



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