Suspeito
de que pouca gente séria discordará do senador Aloizio
Mercadante (PT-SP), líder do governo, quando ele ataca o excesso
de medidas provisórias editadas pelo governo do qual é
líder.
Até seu chefe, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
concorda com a crítica, como se pode deduzir de texto do hoje
presidente, divulgado pelo Instituto da Cidadania, por ele dirigido,
em fevereiro de 2001:
"O presidente FHC quer manter as medidas provisórias porque
deseja completar o seu modelo econômico, subordinado ao FMI, sem
submeter as decisões ao Congresso Nacional. É o que pretende,
por exemplo, com as anunciadas alterações no Banco Central
e com a regulamentação do sistema financeiro. Uma espécie
de "blindagem da economia" para dificultar as mudanças
de rumo do país em um futuro governo das atuais oposições",
escrevia Lula.
Não, não ria ainda. Tem mais:
"Isso está sendo tentado porque os dirigentes neoliberais
estão começando a enfrentar sérias crises em conseqüência
das suas políticas anti-sociais, tanto aqui no Brasil como em
outras partes do mundo".
Pode começar a esboçar um sorriso de escárnio.
Mas, para completá-lo, leia mais um pouco do velho Lula: "Nós
temos compromissos de princípio com a democracia e com o fortalecimento
e autonomia dos poderes da República. Penso que há um
claro sentimento de saturação na maioria dos partidos,
no Congresso, em boa parte da imprensa e nos setores organizados da
população, em relação à essa forma
autoritária de governar por meio de medidas provisórias,
levada a extremos pelo presidente Fernando Henrique".
Pois é. Dá para levar a sério um governo cujo chefe
faz tudo, rigorosamente tudo, o que criticava com tanto ardor no antecessor?
Dá para levar a sério um governo cujo líder é
obrigado a levar seus resmungos para a mídia porque ninguém
lhe dá bola no próprio governo?
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