Ministro fez cartilha
do "pão-duro"

Ao se eleger prefeito, Palocci
escreveu texto com 13 dicas a colegas


Otávio Cabralosso

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Não dar aumento salarial ao funcionalismo público no início do governo.
Demitir secretários que insistem em contratar funcionários.
Não brigar com o PT. Ouvir o empresariado.
Livrar-se dos responsáveis pelas finanças que não conseguirem dinheiro.
Esses devem ser alguns dos conselhos que Antonio Palocci Filho, futuro ministro da Fazenda, dará a seus colegas de Esplanada na reunião de hoje em Brasília.
Pelo menos é o que sugere o texto "13 Dicas para o Prefeito 13", apresentado por Palocci aos prefeitos eleitos pelo PT na eleição de outubro de 2000. Recém-eleito em Ribeirão Preto (SP), Palocci preparou à época por iniciativa própria um texto de cinco páginas para entregar aos futuros colegas prefeitos.
Do início ao fim, aconselha austeridade e moralidade com os gastos públicos.
A partir do texto, percebe-se que uma fixação de Palocci é pela contenção de gastos no início do mandato.
"O funcionário novo que seu secretário vai lhe pedir hoje não é necessário. Se ele continuar insistindo e quiser o tempo todo contratar novos funcionários, demita o secretário", aconselha o futuro ministro, que também se mostra contrário a aumentar o funcionalismo logo de cara. Palocci não poupa nem mesmo o secretário das Finanças, equivalente municipal ao seu cargo no governo Lula: "Cuidado, muito cuidado com o setor de finanças.
Se no primeiro dia de governo o secretário disser que você tem muito dinheiro para investir, tenha certeza de que ele está enganado.
Se ele passar meses dizendo que você não tem nada para investir, pergunte o que ele anda fazendo que não resolve o problema. Se passar o tempo e continuar sem recursos, troque de secretário".
Para Palocci, o administrador deve evitar fixar datas e metas numéricas: "Em política não se marcam datas. Você nunca conseguirá cumpri-las.
Não se comprometa com metas numéricas, como "criarei 2.000 empregos'". Para não cair no descrédito, o administrador petista deve "andar sempre na rua, ao lado do povo", manter uma boa relação com o PT, realizar todos os compromissos de campanha e fazer parcerias com a sociedade civil e com o empresariado. Palocci sugere que o governo seja plural, representando o eleitorado, fugindo da idéia do governo "puro-sangue".
Lula não deve ter seguido o conselho de Palocci, pois, dos 36 cargos de primeiro escalão de seu governo, 20 foram para o PT.

Folha de São Paulo, 27 de dezembro de 2002.



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