As
melhores esperanças do governo Lula estão nas costas de
Patrus Ananias, ministro do Desenvolvimento Social. Foi prefeito de
Belo Horizonte (1989-1992) e é uma personalidade curiosa. Foi
o primeiro administrador a criar restaurantes onde se podia comer por
R$ 1, mas não disputa a paternidade da iniciativa. Não
gosta de falar bem de si nem de reclamar dos outros. Poderia ter sido
candidato a vice-presidente, ministro das Cidades e presidente da Câmara.
Foi apenas deputado federal, eleito com 520 mil votos.
Na campanha municipal de 1996 o tucanato barrou-o no helicoptero de
FFHH que voaria a Betim, para uma cerimônia. Grosseria pura, porque
houve lugar no vôo para o candidato a prefeito do PSDB. Ananias
disse que preferia acreditar que houvera uma falha do cerimonial. No
ano passado foi relator da comissão de sindicância da Câmara,
instalada para investigar as denúncias contra o deputado Pinheiro
Landim. O acusado era um prato cheio. Estava envolvido com traficantes
de droga e não estava disposto a brigar.
O caso ficou algumas semanas na imprensa e raras foram as aparições
de Patrus Ananias. Ficou na dele, fazendo o certo, sem barulho. Esse
estilo faz com que os adversários o ataquem com luvas de pelica.
É verdade que como prefeito foi protegido por escandalosos índices
de popularidade (85% ao deixar o governo). O máximo que se disse
contra ele foi que, por ser petista, não conseguiria recursos
num governo do PSDB, um argumento que desqualificou os tucanos e não
o enfraqueceu.
Ananias é um daqueles políticos que deu certo porque fez
as coisas certas e foi bom administrador. Conseguiu isso com o mínimo
possível de marquetagem. Numa época em que a propaganda
ilude os governantes, levando-os a crer que ao fim das contas tudo se
resume às feitiçarias do marqueteiros mitômanos,
pode-se torcer para que o ministro ajude a baixar a taxa pluripartidária
de empulhação.
Fundador do PT, Ananias entrou no partido pela porta da militância
católica. As melhores esperanças do governo Lula estão
nas suas costas porque ele é capaz de dizer coisas que estão
saindo de moda. Falando da deputada Francisca Trindade, a militante
petista piauiense morta, em 2003, aos 38 anos de idade, Patrus Ananias
disse assim: "De repente a notícia brutal: um acidente vascular.
Era o adeus da Trindade. Fui a Teresina prestar-lhe a minha última
homenagem. Foi bom ter ido. Trindade era a irmã, a mãe,
a companheira daquela gente sofrida. Vereadora e deputada, deles não
se afastou. A deputada Trindade continuou morando entre eles. Fui para
me despedir, voltei com ela, viva, no coração e na memória.
Assumi um compromisso: não deixar esquecida ali a memória
irradiadora daquela mulher do povo brasileiro. Senti que era meu dever,
como fizeram os apóstolos com Jesus, integrá-la no acervo
dos santos vivos do meu altar interior. Voltei em paz de Teresina.
Reafirmei meu compromisso -onde quer que encontre uma mulher, independentemente
da idade, da cor, da condição social, estarei mais atento:
Trindade está presente. Quando confrontar, no mistério
das diferenças e da igualdade da condição humana,
um irmão negro descendente direto dos escravos, serei mais rigoroso
comigo mesmo e com a sociedade brasileira no resgate dessa dívida
histórica:
Trindade, mulher negra, está presente."
A íntregra
desse artigo de Ananias está no seguinte endereço: http://www.lainsignia.org/2003/agosto/ibe-038.htm |