MONSANTO FIXA ROYALTY EM R$ 0,88 POR KILO

 

Mauro Zafalon

O produtor que optar pela soja transgênica nesta safra vai pagar R$ 0,88 por quilo de royalties. Esse foi o valor divulgado ontem pela Monsanto. Com isso, o custo da saca de 40 quilos será de R$ 35,20 apenas por conta do uso da tecnologia Roundup Ready (RR).
O custo total de uma saca de semente transgênica poderá subir, portanto, para R$ 100 a R$ 115, dependendo da região. O quilo da soja convencional já está em torno de R$ 1,50 a R$ 2,00 nesta safra.
Para José Carlos Carramate, gerente de Negócios de Soja da Monsanto do Brasil, "o valor [de R$ 0,88 por quilo] é justo diante das várias vantagens econômicas e sociais que a tecnologia proporciona aos agricultores". Esse valor contempla, ainda, os investimentos feitos pela empresa para desenvolver o produto, diz ele.
Para Carramate, os gastos dos agricultores com a soja RR serão de R$ 50 por hectare, mas vão ter um retorno aproximado de quatro vezes o valor investido com o menor uso de herbicidas.
O valor anunciado ontem pela Monsanto será dividido entre a multinacional e as empresas que desenvolvem suas próprias variedades (Embrapa, Coodetec e Fundação MT) e seus multiplicadores licenciados.
A definição da cobrança de royalties para os produtores que optarem pela soja RR certificada não elimina a indenização de 2% do valor das vendas para os que utilizam a semente transgênica ilegal. Essa indenização continuará nas próximas safras, mas o valor ainda não foi definido. "Será o equivalente ao pagamento dos royalties", diz Carramate.

Mercado não gostou
A reação do mercado ao valor a ser pago pela semente transgênica não foi boa. "Faltou sensibilidade à Monsanto porque o momento é de baratear. Temos reuniões a fazer e vamos provocar novas reuniões", diz Carlos Sperotto, presidente da Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul). "Não era o momento para um anúncio desses."
Iwao Miyamoto, da Abrasem, também não gostou do novo valor dos royalties. "Escrevemos cartas, fizemos a defesa técnica e, na hora de falar do usufruto do resultado, a gente não pode sentar para conversar", afirmou. "Esperávamos negociações, mas a Monsanto definiu o valor."
O produtor paranaense Roberto Pozzi, ainda não optante da soja transgênica, diz que a Monsanto deve cobrar royalties, mas que R$ 0,88 por quilo é "um absurdo". Ele diz que o valor é a metade do que pagou por uma semente de soja precoce, de R$ 1,76 por quilo.
Para o analista de soja José Pitoli, R$ 0,88 é "muito caro". Os royalties vão representar 30% do custo da semente, diz ele, percentual superior ao do total dos impostos pagos pelo setor.
A Monsanto conseguiu desagradar também aos multiplicadores. Um deles, da região Centro-Oeste, diz que ainda não tem os detalhes das negociações com a Monsanto, mas "pelo jeito ela descarta o risco de crédito e o transfere ao multiplicador, que deve cadastrar produtores, faturar vendas e recolher impostos".
Esse multiplicador, que preferiu não se identificar, dá o exemplo de uma venda de 300 mil sacas para um grande produtor. Só os royalties vão ter custo extra de R$ 10 milhões na operação, valor muito elevado para ficar com o repassador final da semente, diz ele.

Semente "pirata"
Plínio Itamar de Mello de Souza, pesquisador da Embrapa, vê um sério perigo para a pesquisa nacional, dependendo da reação dos produtores. Se esse custo levar os produtores para a semente "pirata", as instituições públicas e privadas de pesquisa serão afetadas.
A definição dos royalties deve dar um rumo para o mercado de soja, que estava parado até o momento. Sergino Ribeiro de Mendonça Neto, diretor-geral da Agromen Sementes Ltda., diz que a indecisão dos produtores já se refletia nos números das empresas. No ano passado, neste período, a Agromen já tinha feito cerca de 10% dos negócios que seriam realizados durante toda a safra. Neste ano, os produtores ainda não apareceram para as compras.
Para Antônio Eduardo Pipolo, pesquisador da Embrapa Soja, os produtores agora podem comparar entre os custos da soja convencional e da transgênica.
A Monsanto diz que a disponibilidade de sementes transgênicas é de 3 milhões de sacas para esta safra, o que garante o plantio de 2 milhões de hectares. A estimativa do mercado é que o país vá plantar 6 milhões de hectares de soja transgênica neste ano.
Colaborou Leo Gerchmann, da Agência Folha, em Porto Alegre

 



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