Os
novos guerreiros começaram a se aglutinar em fins dos anos 80. O país
estava sem rumo, sem comando, sem idéias. Na academia, os economistas
perdiam-se em discussões intermináveis sobre inflação inercial. Nas
empresas, atuavam apenas diretores financeiros e especialistas em indexação.
Os intelectuais de plantão discutiam furiosamente o presente, e o futuro
não era mais do que adivinhar a taxa do overnight da próxima semana.
Nos jornais e revistas, fontes em permanente disponibilidade davam palpite
sobre irrelevâncias, enquanto o futuro se esvaía na falta de pessoas
e de projetos.
Foi aí que, percebendo
a falta de rumos, o anjo da anunciação surgiu das brumas do futuro e
fez a revelação a um ministro de Ciências e Tecnologia antenado com
os tempos. Israel Vargas convocou, então, alguns dos guerreiros acantonados
na USP (Universidade de São Paulo) e na UFMG (Universidade Federal de
Minas Gerais) e incumbiu-os de seguir a estrela da produtividade. E,
tais quais os reis magos do Evangelho, eles partiram em direção ao Oriente
e foram dar no Japão.
De lá trouxeram os primeiros escritos prevendo os novos tempos, estudos,
esquemas, desenhos e novos paradigmas que, batizados de "qualidade total",
de início conquistaram poucos discípulos para a causa e expuseram muitos
deles à arena dos leões. Um grupo atrasado tomou a Fundação Cristiano
Ottoni, onde se abrigavam os primeiros devotos da nova ordem, e expulsou-os,
ainda que à custa do definhamento da instituição.
Adeptos de velhas verdades de esquerda os acusavam de explorar o trabalho.
Adeptos de velhíssimas verdades de direita duvidavam do que os novos
métodos prometiam.
Mas os que atuavam na linha de frente do trabalho entenderam o recado,
e os melhores dele rapidamente se integraram ao novo exército da modernização.
Engenheiros que haviam desenvolvido programas de qualidade para a Petrobras
anos antes, técnicos que conduziram o programa nuclear, empresas que
se enveredaram pela petroquímica e, especialmente, as siderúrgicas passaram
a chamá-los e a confabular, a montar a conspiração da modernização.
Em 1990 foi criado o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade,
primeira formalização do novo movimento.
Rapidamente a nova verdade foi se espalhando pelo país, como em uma
conspiração. Cada iniciado recebia os ensinamentos, as ferramentas de
gestão e a obrigação de repassá-las para a frente. E os círculos iniciais
de qualidade foram se ampliando por novos círculos, e dos generais as
novas verdades se espraiaram por toda a tropa, conquistando corações
e mentes da soldadesca.
Neste mês da graça de novembro de 2002, com o lançamento do Movimento
Brasil Competitivo, ganha escala e massa crítica o maior movimento espontâneo
de modernização da economia brasileira em todos os tempos. A "qualidade
total" tornou-se valor maior, desideologizado, cortejado por governos
de todas as cores políticas. Por seus méritos, impôs-se sobre o vão
do macroeconomismo das panelas acadêmicas que dominavam os partidos.
Em menos de 12 anos, o país criou uma das mais eficientes escolas de
gestão do mundo. No curto espaço de uma década, as maiores empresas
brasileiras deram um salto de qualidade sem precedentes, tornando-se
"benchmark" em várias áreas. Os novos processos estão ajudando a modernizar
a gestão privada, a administração pública, hospitais, escolas, ainda
que em escala menor.
Ontem, o lançamento do MBC em São Paulo, uma Oscip (Organização da Sociedade
Civil de Interesse Público), liderada pelo empresário Jorge Gerdau Johanpetter,
tendo em seu conselho os principais porta-vozes do movimento pela qualidade,
marca a tentativa de dar escala à qualidade. Seu objetivo será atuar
no âmbito das organizações, das regiões e das cadeias produtivas, monitorar
o desempenho dos fatores que afetam a competitividade nacional e estimular
a inovação e o marketing. E essas ferramentas deverão ser usadas tanto
para aumentar a competitividade das empresas como a eficácia dos programas
sociais. O Brasil entra no século 21 com as armas necessárias para vencer
a grande batalha da globalização e daTexto
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