AGRONEGÓCIO DEVE REGISTRAR NOVO RECORDE

Mauro Zafalon

O ano de 2003 foi um período de recordes para o agronegócio brasileiro. Após patinar vários anos em volumes próximos de 90 milhões de toneladas de grãos, o país rompeu a barreira dos 100 milhões e atingiu 123 milhões, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). No próximo ano, a produção deverá chegar a 131 milhões de toneladas.
Essa boa disponibilidade de grãos, associada à evolução da produção no setor de carnes, permitirá ao país obter pelo menos US$ 30 bilhões neste ano com o setor de agronegócios. Em 2004 os ventos voltarão a ser favoráveis? Os principais analistas do setor são unânimes em dizer que o mercado externo será, mais uma vez, um caminho rentável para o agronegócio brasileiro.
Assim como tem ocorrido nos últimos anos, a líder do setor volta a ser a soja. O apetite chinês, que movimenta o mercado mundial nos últimos anos, deverá continuar grande, garantindo as exportações brasileiras. A produção nacional de soja deverá ficar próxima de 60 milhões de toneladas, e o país caminha para assumir a liderança mundial em produção mais cedo do que se esperava. Os EUA ainda lideram e, na safra deste ano, colheram 67 milhões de toneladas.
Em 2004, graças aos atuais bons preços registrados pelo produto, os norte-americanos deverão elevar a área plantada de soja em 2,5%, o que aumentaria a concorrência com os brasileiros. Mas se os norte-americanos ainda ganham dos brasileiros em volume produzido, perderam a liderança em receitas neste ano. O Brasil deverá exportar 21 milhões de toneladas nesta safra, 28% a mais do que no mesmo período de 2002. Já as receitas da soja em grãos deverão crescer 44%.
As receitas totais do complexo soja podem somar US$ 7,8 bilhões neste ano e subir para US$ 8,9 bilhões no próximo, segundo Anderson Galvão, da Céleres de Uberlândia (MG). Em 2004, as exportações do produto em grãos deverão atingir 23,5 milhões de toneladas, diz Galvão. Outras estimativas, como a da Abiove (reúne as indústrias de óleos vegetais), prevêem até 25 milhões de toneladas.
O milho é outro produto que deve render mais receitas para o Brasil em 2004. O país descobriu o mercado externo há três anos e vem consolidando esse caminho. A boa produtividade na safra de verão e o avanço da do período de inverno -a chamada safrinha- poderão garantir um volume maior disponível para o mercado externo em 2004. Neste ano, as receitas somavam US$ 289 milhões até outubro, acima dos US$ 217 milhões do igual período de 2002.
O Brasil poderá ter menos café para exportar em 2004 se for confirmada a estimativa de safra menor do que a esperada. Mesmo assim, as receitas poderão ser melhores devido aos preços. Guilherme Braga, do Cecafé (conselho dos exportadores), diz que as vendas externas de café poderão cair para 22,5 milhões de sacas, 10% a menos do que neste ano, mas as receitas poderão crescer 6,5%, para US$ 1,65 bilhão. Em 2002, elas totalizaram US$ 1,36 bilhão e, neste ano, US$ 1,55 bilhão.

Suco de laranja
Ao contrário dos demais setores, o de suco de laranja não será tão favorável. Na safra 2002/03, o rasil exportou 1,15 milhão de toneladas, com receitas de US$ 1 bilhão. Na safra 2003/4, com a supersafra a Flórida e a quebra na produção brasileira, devido à estiagem e a problemas fitossanitários, o Brasil deverá exportar apenas 1 milhão de toneladas, com receitas de US$ 800 milhões. A análise é de Waldir Fernandes Jr., professor da Esalq-USP e especialista em cítricos. Fernandes acredita, no entanto, que a demanda por suco de laranja, que caiu nos últimos anos, deverá passar por um período de melhora.
A recuperação da economia dos EUA e a desvalorização do dólar em relação ao euro, o que diminui os preços do suco no continente europeu, serão fatores de aumento no consumo, avalia. Por competência e por sorte, o Brasil assumiu importantes lideranças no setor de carnes neste ano. Com produto de qualidade e preços baixos, os brasileiros desbancaram os australianos no mercado mundial de carne bovina. No setor de avicultura, o país ganhou a liderança mundial em receitas, tomando o lugar dos norte-americanos.
A perspectiva pode ser ainda melhor depois da descoberta do primeiro caso de vaca louca nos Estados Unidos, o que pode elevar as exportações brasileiras. José Vicente Ferraz, da FNP Consultoria & Agroinformativos, diz que 2004 será mais um ano de ganho de produtividade para a pecuária e bom para as exportações. Ele estima que o país arrecadará de US$ 1,6 bilhão a US$ 1,7 bilhão com as vendas externas de carne bovina em 2004. Neste ano, as receitas devem chegar a US$ 1,5 bilhão -o dobro de 2000.
O setor de frango, apesar da imposição de cotas pela Rússia, o que diminui o volume brasileiro exportado para o país, deverá crescer 15% em 2004. Na avaliação de Deives Faria da Silva, analista da
FNP, a imposição de cotas prejudica, mas o Brasil está diversificando o mercado exportador. O Oriente Médio é outra região onde a participação brasileira deverá aumentar no próximo ano.




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