Com
a revelação do IBGE de que o Brasil encolheu e empobreceu
em 2003, tem-se o elemento final e inquestionável para a avaliação
tanto do primeiro ano de governo petista, como de Lula presidente e
da equipe econômica com que Antonio Palocci subjuga toda a administração
federal.
Um breve retrospecto demonstra o que, em relação ao governo,
está por trás do absurdo encolhimento da economia brasileira,
expresso no PIB de menos 0,2% em comparação com a atividade
econômica em 2002.
Lula e quase todos os ministros queixaram-se de que o Orçamento
por eles recebido, para 2003, era excessivamente apertado, tendo em
vista as intenções do novo governo e, sobretudo, as imensas
e urgentes necessidades do país e sua população.
A reclamação era correta. Apesar disso, logo depois os
ministros Antonio Palocci e Guido Mantega iam juntos à TV para
comunicar o corte de mais R$ 14 bilhões. "Nenhuma verba
social está sendo cortada", disseram. Mentiam. Mais de um
terço dos cortes, R$ 5 bilhões, atingia verbas de finalidade
social.
Como complemento, Palocci viria a comunicar que o governo estava determinado
a economizar, para fazer maiores pagamentos de juros, ainda mais do
que o acertado com o FMI, ou de já fabulosos 3,75% do PIB para
4,25%.
A exigüidade do Orçamento, o corte adicional de verbas e
o aumento incrível do dinheiro destinado a juros não impediram
que Lula, os da área econômica e os palacianos e os áulicos
dos jornais continuassem falando, ainda por algum tempo, em crescimento
de 3,5%. Em breve passariam a falar em crescimento entre 3,5% e 3%.
De vez em quando desciam mais um pouco e, quando chegaram a 2%, fincaram
o pé. Alguns, já evitando falar nisso; outros, como Henrique
Meirelles do Banco Central, ainda falando em 2% mesmo com as suas taxas
de juros sufocantes.
A rarefeita discussão sobre o crescimento que de fato haveria,
no primeiro ano Lula, ficou por conta de uns poucos economistas. Não
realçados na mídia brasileira, que faz o jogo do "mercado",
das Bolsas, e também por isso tem favorecido Lula e protegido
Palocci.
Quando, mais recentemente, já era unânime a certeza de
desempenho econômico desastroso, Guido Mantega decidiu excluir-se
do faz-de-conta mantido por Palocci e Meirelles: declarou esperar crescimento
de apenas 0,5% do PIB. Esteve com o cargo em risco, tal foi fúria
desencadeada do gabinete de Palocci e encampada por Lula, para os quais
a previsão não tinha o menor fundamento. Palocci e seus
inspiradores não foram capazes de ver nem a evidência.
Não houve crescimento de 0,5%, nem do 0,2% que passara a freqüentar
as previsões não-oficiais das últimas semanas.
Como dizem os economistas na sua briga ininterrupta com a linguagem
e o senso, houve "crescimento negativo". De zero para baixo:
menos O,2%.
Da equipe econômica que levou a esse resultado miserável,
depois de imaginar que cortaria mais o anêmico Orçamento,
pagaria maior volume de juros e, ainda assim, produziria "crescimento
de 3 a 3,5%", não se precisa dizer muito. Eis o suficiente:
a política econômica está entregue a incompetentes
e irresponsáveis.
Em um país com tamanha massa de pobreza, desemprego em crescimento
incessante, favelas e falta de saneamento por toda parte, estradas em
ruínas, filas infinitas desde a madrugada nos hospitais e postos
de saúde -neste país assim o desempenho do governo Lula
define-se em uma palavra: vergonhoso.
No primeiro ano do governo Lula o ganho das famílias diminuiu,
o consumo geral diminuiu enquanto a população cresceu,
a possibilidade de emprego diminuiu enquanto mais 2 milhões de
jovens chegaram à idade de trabalho, o ganho do trabalhador diminuiu
6,6% na comparação janeiro a janeiro, os investimentos
diretos, mas os bancos obtiveram os maiores lucros de sua história.
Vergonhoso.
Está chegando aí o diretor do FMI, Horst Köhler.
Vem a convite de Lula, que quer pedir algum afrouxamento nas exigências
do fundo, para evitar pressões políticas decorrentes da
política econômica. Saudosos os tempos em que o FMI era
o problema. Hoje o problema está em outro lugar, está
aqui dentro.
Outro
O "braço direito" de José Dirceu, no Gabinete
Civil, nunca foi Waldomiro Diniz, como tem sido publicado. Chama-se
Marcelo Sereno, por cujo crivo passam, entre outras coisas, todas as
nomeações. Pois é este Marcelo Sereno que deverá
sair também, proximamente, do Gabinete Civil. E não só
daí, mas do governo. A decisão da saída foi tomada
no final da semana.
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