Os
índices de popularidade de Lula e do governo caíram semana
passada. A queda foi saudada com foguetório pela oposição
e minimizada pela situação -até aí nenhuma
novidade. Mas há um dado novo na recente pesquisa de opinião.
Já lembrei aqui o comentário do Paulo Francis a respeito
de um filme brasileiro, considerado na época como a pedra angular
do cinema mundial. Encontrou um amigo à saída do Metro
Passeio, que lhe pediu a opinião sobre a obra-prima que acabara
de ver. Paulo respondeu: "O filme é uma boa droga, mas o
diretor é um gênio".
Lula e o governo merecem o mesmo comentário. Bem verdade que
o índice de aprovação ao presidente continua alto.
Mas caiu nove pontos e isso me parece perigoso.
Explico: o governo revela-se incapaz, desorientado, sem saber o que
fazer e fazendo o que não sabe. Corremos o risco de uma grave
crise institucional. não digo um golpe político-militar
no estilo de 1964. Creio que não há clima para isso. Mas
haverá uma turbulência que não se sabe no que vai
dar.
Para tranqüilidade nossa, temos a figura carismática de
Lula, que até agora parece estar desempenhando um papel moderador
de rainha da Inglaterra, sem cheirar nem feder, mas servindo de âncora
para a canoa do governo não virar de todo. É lícito
esperar dele uma volta por cima que, pessoalmente, me parece improvável.
Se perder o carisma que a liderança operária lhe deu,
se tiver arranhada a sua credibilidade pessoal, haverá um vazio
na vida pública, que ficará mais oca do que está.
Não se trata de considerar Lula o salvador da pátria.
Por bem ou por mal, ele representou a esperança nacional numa
fase de sucessivos fracassos.
Popularidade se perde e se ganha de um dia para o outro. Contudo a vulnerabilidade
do mito é preocupante. Da parte de um eleitor que não
votou nele nem em candidato nenhum na última eleição,
a preocupação é anterior à atual crise que
ele atravessa.
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