Um dos principais produtos agropecuários brasileiros -a carne bovina- está prestes a ganhar maioridade,
comandada pelas grandes redes de supermercados do país, como Pão de Açúcar e Carrefour.
A conclusão é de um trabalho preparado pelo Grupo de Estudos de Agronegócios da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) sobre a cadeia produtiva do bovino.
A pesquisa analisou os cinco principais agentes da cadeia: produtores de insumos, pecuaristas, indústria
frigorífica, distribuidores e consumidores. A pesquisa se deu a partir da definição de regiões
sanitárias, que norteiam hoje o controle da aftosa no país, e dos cinco circuitos pecuários
brasileiros (sul, sudeste, centro-oeste, leste e norte).
O levantamento inicial mostra em Mato Grosso do Sul um parque produtivo potencialmente poderoso, mas fragilizado
pelo anacronismo na gestão das propriedades e pelo vício de ainda considerar o boi reserva de valor.
No Estado existem aproximadamente 50 mil produtores, com um patrimônio de R$ 18 bilhões, sendo R$
11,5 bilhões em terras e a parte restante em animais. No ano passado, o faturamento da pecuária foi
de R$ 1,9 bilhão, gerando 130 mil empregos diretos.
A indústria frigorífica do Estado tem 31 frigoríficos, com capacidade anual de abate de 4,5
milhões cabeças e o respeitável faturamento de R$ 300 milhões. Nove indústrias
estão habilitadas para exportações. Mas há pequena agregação de valor
de subprodutos: 30% abatem para terceiros; 40% são arrendadas (riscos e não investimentos). Existe
baixo nível de qualificação da mão-de-obra, e o pagamento da carne ainda é pelo
peso, e não por qualidade. Finalmente, existe um endividamento de R$ 25 milhões, 90% dos quais em
atraso.
Mudança no varejo
Até o início da década de 90 nenhum dos cinco principais elos da cadeia tinha maior poder
de mercado. A partir daí, as grandes redes varejistas passam, gradativamente, a dominar o setor, determinando
preço para os demais elos e apropriando-se da renda dos demais.
Segundo as estimativas do trabalho, nos próximos cinco anos, o Carrefour e a Cia. Brasileira de Distribuição
(Pão de Açúcar) deverão dominar cerca de 70% do mercado varejista da carne. Esse domínio
tem se consolidado a partir da busca pela qualidade. As redes buscam carnes de acordo com sabor; sanidade; critérios
ecológicos e sociais corretos; gestão em currais; exigência de contrato de trabalho; recolhimento
de encargos sociais; higiene e treinamentos.
Essas redes têm firmado parcerias com frigoríficos que passam a trabalhar exclusivamente para elas,
inclusive com cessão de mão-de-obra e técnicos especializados. Por sua vez, a indústria
frigorífica firma parceria com o pecuarista, que passa a atender apenas tais frigoríficos.
A inclusão do rebanho sul-mato-grossense na área livre de febre aftosa abre um mercado potencial
de mais de 22 milhões de animais sadios para o comércio internacional, já que o Carrefour
é a segunda maior rede varejista do mundo.
Na outra ponta, a carne distribuída
no mercado varejista, fora do controle das grandes redes, caracteriza-se pela falta de higiene, de cuidados sanitários
e de respeito com o consumidor final.
A partir daí, o estudo avança em propostas de ação, incluindo a necessidade da qualificação
da mão-de-obra; sustentabilidade da cadeia, com políticas de recuperação de solos e
novas ações ambientais; gestão da informação, com recadastramento das informações
da cadeia e articulação com demais dados econômicos; valorização da carne sul-mato-grossense,
com a criação de um selo de qualidade e a ampliação de mercados, a partir da certificação
de zona livre de febre aftosa (2001); melhoria da qualidade da carne e subprodutos, com rastreabilidade da cadeia
e melhor aproveitamento da carne e, essencialmente, dos subprodutos, que são subaproveitados.
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