VINHO CEARENSE ESTÁ |
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A primeira safra de vinho de Sobral já foi amassada, fermentada,
filtrada, desde a semana passada repousa para ser degustada nos próximos três meses. A produção
ainda é incipiente - cerca de 150 litros, que poderiam passar de mil se a uva tivesse sido colhida duas
semanas antes -, porém, segundo os envolvidos no projeto, atende plenamente os objetivos propostos: experimentar
a qualidade, visando uma possível produção em grande escala. A meta do projeto, que envolve
a prefeitura e um grupo de empresários da região do Alentejo, em Portugal, é chegar a 2006
com uma produção de 4,6 milhões de garrafas (de 750 mililitros cada). Na associação para viabilizar o projeto, os portugueses entraram, basicamente, com a orientação técnica e o fornecimento das mudas enxertadas (que vieram do Alentejo) e a prefeitura bancou a infra-estrutura, que além da preparação do campo incluiu a construção de uma câmara frígorica e um laboratório de microvinicação (uma pequena adega, que permitirá acompanhar a fermentação em diferentes condições e a degustação do produto). De acordo com o prefeito, Cid Ferreira Gomes, a contrapartida do município foi de R$ 150 mil e a intenção é utilizar a estrutura montada como uma "incubadora", que vai permitir disseminar a experiência na região. Na próxima safra (final deste ano) a previsão de colheita é de 20 toneladas de uva, o equivalente a 15 mil litros de vinho. "O mais importante não é quantidade nesse momento, mas provar que o semi-árido cearense tem condições de produzir vinhos de uva de qualidade", observa Ferreira Gomes. Para ele, que acompanhou (no dia 03 de junho) a colheita e prensagem das uvas, o sucesso do programa pode transformar o município em um grande centro vinícola nos próximos anos. "A segunda fase do projeto prevê a extensão da área plantada para 200 hectares. Mas com a mesma condições de produção, solos com características semelhantes e água abundante, podemos dispor de até 1,8 hectare ",diz. De acordo com o prefeito, o processo, que culminou com a primeira colheita, foi iniciado há 18 meses, fase dos primeiros contatos com produtores de uvas e vinhos portugueses. "Eles nos procuraram após visitar várias regiões vinícolas do País e, ao que tudo indica, encontraram as condições adequadas", comenta. Segundo o secretário municipal de Agricultura e Recursos Hídricos, Francisco Quintino Viera Neto, depois seis meses de negociações e estudos, foi iniciado o primeiro plantio - em um terreno na Escola Agrícola de Sobral, a 8 quilômetros da cidade, onde foram plantadas 10 castas, em 3,5 hectares de uvas tintas e brancas, irrigadas por gotejamento. Vinhos de mesa finos e secos, com teor alcoólico de cerca de 10%. Esse é o perfil do produto que os vinicultores portugueses pretendem fabricar às margens do Rio Jaibaras, em Sobral, segundo o coordenador do projeto, Barnabé Ramalho, que cultiva uma área de 18 hectares naquele país. "Ainda é cedo para assegurar resultados, mas a fase de sanidade e a parte vegetativa das plantas apresentaram resultados satisfatórios", observa. Conforme o especialista Jorge Santos, a atenção agora se direciona para as características da uva produzida na região, em termos de sabor, odor e coloração. "Todos os aspectos precisam ser levados em conta, porque trabalhamos em condições de clima diferente. Um atraso de 15 dias na colheita nos causou um prejuízo de cerca 70% na produção, que amadureceu rápido, coisa que não aconteceria em Portugal", explica. "Mesmo trabalhando com condições diferentes e, às vezes inusitadas, os portugueses estão animados com os primeiros resultados", afirma o secretário Quintino Neto Uma das explicações é o fato de o semi-árido de Sobral apresentar a mesma produtividade (de 7 a 12 toneladas por hectare), mas permitir a colheita de até duas safras por ano. Segundo Vieira Neto, a pretensão é produzir vinhos de qualidade na região, cujo preço pode variar de US$ 20 a US$ 40 por garrafa. |
Darlan Moreira (Fortaleza), Gazeta Mercantil Ceará - Maranhão - Piauí, 10 de julho de 2.000, p.7 |
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