INDÚSTRIA DA IRRIGAÇÃO JÁ FAZ PLANOS PARA 2004


Fortaleza, 5 de Setembro de 2003 - Retração econômica e falta de investimento provocaram frustração para fabricantes de equipamentos neste ano. As incertezas do período pré-eleitoral, ano passado, combinadas com a atual retração da economia e o contigenciamento dos investimentos públicos frustaram as expectativas, para este ano, de faturamento dos fabricantes de equipamentos de irrigação e tecnologias correlatas. E o Nordeste brasileiro - excetuando alguns segmentos, como flores no Ceará ou a produção de uvas de mesa em Petrolina (PE) - apresentou o menor dinamismo de mercado no período. A indústria, contudo, aposta que 2004 será promissor em relação às vendas em todo o País.
O setor avalia que será difícil repetir em 2003 a performance verificada no ano anterior - caracterizada por um volume expressivo de investimentos após a superação do "apagão" (2001). No primeiro semestre deste ano, algumas empresas limitaram-se a atender encomendas processadas ainda em 2002, especialmente no que se refera à região Nordeste.
"Este ano os setores tradicionais, a exemplo do cinturão hortifrutícola e de flores de Mogi das Cruzes, Atibaia, Ibiúna e Holambra, em São Paulo, mantiveram as encomendas. Nas demais regiões, ficamos distantes do crescimento que projetamos", observa Altair Zotti, gerente-comercial da Polysack Industria Ltda., empresa com presença em 50 países, que fabrica plásticos e malhas para cultivos em ambientes protegidos em Israel e na cidade paulista de Itápolis.
Mesmo em relação ao mercado nordestino, foi a disposição de investidores paulistas que evitou retração maior nas vendas. "Os produtores de flores de Holambra estão investindo bastante na região e compensaram o mercado", observa Altair Zotti.
Para 2004, além de investimentos nos segmento de flores nos estados do Ceará, Alagoas e Pernambuco, a Polysack aposta no mercado de citrus em São Paulo; maçãs em Santa Catarina; e frutas tropicais no Nordeste para expandir em cerca de 40% as vendas.

Mercados

A área comercial da Plastro do Brasil - que começou a fabricar equipamentos para irrigação localizada, há um mês, em Uberlândia (MG) - trabalha com projeções mais moderadas de crescimento das vendas. Avalia que o mercado vai se expandir entre 5% e 10% nos próximos anos. Porém converge na eleição dos segmentos que devem apresentar maior dinamismo, apontando as plantações paulistas de laranja como um nicho importante, por exemplo.
Além disso, a Plastro do Brasil identifica grande potencial de demanda no cultivo de uva de mesa em Petrolina (PE). "Esse negócio está indo muito bem. A colheita ocorre entre outubro e dezembro, quando Europa e Estados estão em entressafra e países como o Chile não têm como atender esses mercados", observa o gerente técnico-comercial da empresa, Luiz Lima.
Outro segmento promissor é representando pelas lavouras irrigadas de café, em Minas Gerais, em função da recuperação dos preços do produto no mercado, assinala o gerente da Plastro - indústria com sede em Israel e unidades, além do Brasil, no Chile, Argentina, Equador, Ucrânia, Turquia e China. Milho e algodão também teriam bom potencial no Centro-Oeste, mas utilizando equipamentos de irrigação específicos, baseados aspersão (pivô central).
Na avaliação do proprietário Isratec/Ceará, Carlos Pinheiro - que representa comercialmente os equipamentos da Plastro no mercado cearense, além do Piauí e Rio Grande do Norte - a tendência de retomada de investimentos públicos em irrigação podem elevar as vendas na região Nordeste. "Expandimos em 30% o mercado em 2002, não estamos crescendo este ano, mas em 2004 podemos avançar 20% sobre o faturamento de R$ 12 milhões (estimado para 2003)", pondera.

Novas fronteiras

Carlos Pinheiro não identifica um cultura específica, mas novas regiões geográficas que podem evidenciar dinamismo, como o Piauí. "O estado tem rios importantes e uma das maiores reservas hídricas subterrâneas do Nordeste. Além disso, o governo local está empenhado em incentivar o setor", assinala. Ele também aponta os projetos cearenses de irrigação do Baixo Acaraú e Tabuleiro de Russas, que somam 18,3 mil hectares, como mercados latentes - caso retornem os investimentos públicos e linhas de financiamento.Na avaliação dos executivos da Netafim Brasil o Centro-Oeste é região que se desenha com melhor potencial para equipamentos de irrigação. "Além do cultivo do algodão, há oportunidades no segmento de hortaliças e café", afirma Marcus Tessler, diretor-comercial da companhia no país, que desde o ano 2000 fábrica equipamentos para irrigação localizada em Ribeirão Preto (SP), que se somam à produção de unidades em Israel, Estados Unidos, Austrália, África do Sul, China e Índia.
De acordo com Tessler, a tendência é que a região Sudeste continue apresentando bom desempenho na área de citrus, café e tomate e o Nordeste comece a reagir, após quase dois anos de estagnação. "No geral, estamos muito otimistas com a agricultura irrigada no país. Tanto que, há um mês, investimos US$ 500 mil para aumentar em 50% a nossa capacidade fabril." Em 2004, pretende faturar US$ 3 milhões adicionais sobre os US$ 55 milhões para este ano.
Na projeções da Netafim, o mercado nordestino pode crescer até 40% no próximo ano. "A meta é contratar negócios da ordem de US$ 5 milhões", revela o gerente em Fortaleza (CE), Flávio Miranda. Na região as apostas recaem principalmente sobre o cultivo do melão, em relação ao qual a empresa calcula deter 80% do mercado. Além disso, confia no lançamento de novos produtos - alguns até pouco tempo inacessíveis no mercado brasileiro.

Empresas mantêm investimentos
5 de Setembro de 2003 - A julgar pela quantidade de novidades no mercado, os fornecedores equipamentos para agricultura irrigada acreditam que o acanhamento das vendas verificada os últimos meses é um fato conjuntural. De maneira geral, as empresas estão investindo forte em lançamentos, seja para consolidar nichos tradicionais ou cativar novos clientes.
Para a fruticultura praticada em solos arenosos, que demanda vários ciclos de irrigação por dia, a Plastro investe no "gotejador anti-drenante". A tecnologia evita que os dutos se esvaziem ao fim de cada etapa do processo, conservando água na tubulação. "Isso permite retomar com grande rapidez o ciclo de irrigação seguinte", explica Luiz Lima.
A empresa também tem no catálogo equipamentos para manejo do sistema de irrigação - sensores de umidade, por exemplo. Segundo Luiz Lima, na dúvida, o agricultor tende a irrigar entre 20% e 30% mais do que o necessário. "A tecnologia aponta necessidades da lavoura, evitando desperdício de água energia."

Seduzir o mercado

A Netafim, por sua vez, arma-se com o gotejador "anti-drenante a vácuo" para seduzir o mercado. De acordo com a empresa, a tecnologia - que vai estar disponível no início do ano, oferece maior segurança para os sistemas de gotejamento enterrado, evitando risco de entupimento ou intrusão de raízes.
Além disso, o equipamento foi desenvolvido para trabalhar com águas residuais, de baixa qualidade. "Com esse sistema a vinhaça da cana-de-açúcar, o resíduo de fábricas de papel e celulose ou o esgoto tratado podem ser utilizados na irrigação por gotejamento. Essa é a tendên-cia mundial, face a escassez de água", diz o diretor da empresa Marcus Tessler.

Economia

Outra novidade da firma é o início da comercialização, no Brasil, de tubos para irrigação com espessura de 0,6 milímetro (mm) - o produto convencional tem 1 mm. "A espessura menor significa custo 15% inferior na montagem do sistema, sem incluir o ganho com a fabricação dessa tecnologia em todo o País", ressalta Flávio Miranda, gerente da Netafin.
Com custos menores, a estratégia da empresa é expandir mercados, alcançado produtores de menor renda. Essa a mesma filosofia resultou no sistema KifNet, que permite irrigar por gotejamento área de até 2 mil metros quadrados, sem a utilização de bombas, que encarecem substancialmente os projetos. O custo do para atender 500 metros quadrados é de R$ 800 e a montagem, por uma única pessoa, pode ser feita em uma hora, de acordo com a empresa.
Esse sistema, conforme o fabricante, ganhou prêmio do Banco Mundial como tecnologia inovadora de combate à miséria. O equipamento, que promete a mesma eficiência e qualidade dos utilizados em grandes projetos de irrigação, já está disponível no país e foi apresentado pela Netafim Brasil como opção no âmbito do programa federal Fome Zero. As empresas participaram da décima semana internacional da fruticultura, floricultura e agroindústria (Frutal), que terminou na última quinta-feira, em Fortaleza (CE).

Gazeta do Brasil, Fortaleza, 05 de Setembro de 2003



UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA