No
início da safra de 1998, diversos produtores da região
de Jales, Palmeira D´Oeste e Marinópolis notificaram o
Laboratório de Hidráulica e Irrigação da
Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, que, após a poda de
produção, ocorreu uma baixa formação de
cachos em seus parreirais.
Após uma análise das possíveis causas para
este fenômeno, concluímos que existiam dois motivos principais:
a) a não indução fisiológica, causada principalmente,
por fatores climáticos; b) a falhas no procedimento da técnica
de poda.
A indução fisiológica para a formação
de cachos no interior da gema ocorre por ocasião do florescimento
dos ramos que estão se formando, quando as gemas ainda estão
verdes e o crescimento e desenvolvimento destes somente ocorrerá
na maturação das gemas. Os aspectos climáticos
que influenciam este processo são: temperatura, luminosidade,
chuva e nutrição da planta. No entanto, esta indução
não ocorre em todos as gemas, pois depende também, da
posição desta no ramo, ou seja, nas uvas finas as gemas
terminais ou apicais normalmente são mais aptas do que as basais.
Com relação à técnica de poda praticada
nesta região, o sistema consiste na realização
da poda de formação (deixam-se duas a três gemas),
realizada em outubro a dezembro, visando à renovação
dos ramos, e a de produção (deixam-se, em média,
de oito a dezoito gemas), realizada de fevereiro a maio, que será
a responsável pela produção do parreiral. Contra
esta amplitude no número de gemas a ser deixado na poda de produção,
a única ferramenta que os viticultores utilizam é a sua
experiência.
No entanto, os fatores envolvidos são muitos, desde o porta-enxerto
utilizado, estado nutricional da planta, controle fitossanitário,
entre outros. Portanto, a produção pode ficar comprometida
por uma pequena variação em quaisquer destes fatores.
De maneira prática, suponha você produtor que, após
uma análise visual do ramo, determinou que o mesmo fosse podado
com dez gemas, mas na realidade somente a partir da décima segunda
gema, se confirma a presença de cachos em seu interior. Como
conseqüência, todo o trabalho e custo para manter a parreira
com os ramos formados na poda de renovação foram por água,
ou melhor, poda abaixo.
Tentando consertar o estrago, muitas vezes o produtor repete a operação
de poda, só que as suas chances ainda serão menores pois
vimos que, à medida que caminhamos para a base do ramo, o número
de gemas induzidas diminui. Então, os desavisados poderiam recomendar
uma poda longa, pois se não vierem cachos na primeira poda, você
ainda terá uma segunda chance. Isto pode ser verdadeiro, mas
à medida que caminhamos para o ápice, as gemas estão
mais verdes e se maduras, não têm cachos e além
disso, a aplicação do regulador de crescimento acaba por
danificá-las. Logo, vai ser muito difícil você não
realizar uma segunda poda, debilitando a planta e, conseqüentemente,
prejudicando a produção de cachos pela mesma.
No Simpósio Internacional em Fruticultura Irrigada, realizado
em Jales-SP, o pesquisador e professor Dr. Larry Williams da Universidade
da Califórnia-Davis-USA comentou sobre a existência de
uma técnica muito comum em seu país e que poderia ser
utilizada aqui para resolver este problema. Esta técnica consiste
na avaliação de uma amostra de ramos maduros pouco antes
da poda de produção, para verificar a presença
do cacho no interior da gema ainda dormente, via estereoscópio
(lupa) e a conseqüente determinação precisa do número
de gemas a ser deixado no ramo.
Infelizmente, devido à falta de tempo, não foi possível
que este pesquisador demonstrasse a técnica. No entanto, após
o seu regresso ao E.U.A, continuamos em contato via Internet e com a
ajuda também de outras entidades conseguimos, após um
período de buscas e incertezas, disponibilizar esta técnica
para alguns agricultores da região de Marinópolis na safra
de 99.
Atualmente, estamos trabalhando para determinar um padrão
de amostragem para a retirada dos ramos nos parreirais, reduzir o tempo
gasto para análise e ainda padronizar a classificação
de cachos formados no interior das gemas, tendo em vista que existe
uma variabilidade significativa na formação da inflorescência.
Desde que disponibilizamos esta técnica, ainda que em caráter
experimental, o número de agricultores interessados vem aumentando
a cada dia, justificando e compensando todo o esforço gasto e
ainda, estimulando novas pesquisas nesta área.
Outrossim, a UNESP - Ilha Solteira, através da Área
de Hidráulica e Irrigação, tem como objetivo repassar
esta técnica a outros profissionais que se habilitarão
a proceder a dissecação de gemas, prática que se
constituirá em importante instrumento para assegurar a safra
dos viticultores.
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