Estimativas
indicam safra de 140 milhões de toneladas, cerca de15% a mais
em relação à anterior. O Brasil pode colher uma
safra de 140 milhões de toneladas no próximo ano, 15%
mais que no ano passado em uma área 4% maior. Para analistas,
com o resultado das vendas de insumos, a área da soja tende a
aumentar. Mas os produtores devem investir menos tecnologia na safra
2004/05, pois a estimativa é de que o custo de produção
suba até 40%. Espera-se, porém, redução
de área do milho, em razão dos baixos preços alcançados
na colheita da safrinha. Segundo analistas, consolida-se a tendência
de o produtor, principalmente o do Centro-Oeste, optar pelo grão
na segunda safra.
A comercialização
de sementes, fertilizantes e agrotóxicos está sendo considerada
fraca para a época. De acordo com fontes do mercado, por causa
dos baixos preços das commodities os produtores estão
hesitando em tomar decisão.
Estima-se
que a venda de semente de milho esteja entre 10% e 15% inferior ao mesmo
período de 2003. Apesar do atraso, o diretor-executivo da Associação
Paulista de Produtores de Sementes (APPS), Cássio Camargo, acredita
que poderá haver manutenção da área cultivada
com o grão. Segundo ele, o que poderá crescer é
o cultivo da safrinha, que hoje responde por um terço das vendas
de semente de milho.
No Paraná,
o Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Agricultura,
estima uma redução de 4,3% na área plantada com
o grão, chegando a 1,28 milhão de hectares. "Como
o milho usa mais fertilizante que a soja, e o preço subiu muito,
ficou complicado plantar o grão", afirma Vera Zardo, engenheira-agrônoma
do Deral. O consultor Carlos Cogo acredita que poderá haver aumento
de área na média nacional, com crescimento em alguns estados
do Sul e na Bahia e queda no Centro-Oeste, onde há maior preferência
para a segunda safra.
No setor de
agrotóxicos, a expectativa é de crescimento, em 2004,
de 8% nas vendas, que totalizaram US$ 3,2 bilhões em 2003. Para
o vice-presidente do Sindicato Nacional das Indústrias de Produtos
para Defesa Agrícola (Sindag), José Roberto Da Ros - vice-presidente
do Sindag, soja, algodão e cana-de-açúcar, principais
produtos que consomem defensivos agrícolas, podem ter aumento
de área neste ano. Entre analistas de mercado é certo
que a soja terá grande crescimento, com o Brasil podendo colher
até 65 milhões de toneladas - em relação
às 49,7 milhões em 2003/04.
"O único
fator retardador das vendas de sementes de soja é a questão
do financiamento", afirma Camargo. O chefe do Departamento Econômico
da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
(CNA), Getúlio Pernambuco, tem opinião semelhante. Segundo
ele, sem isso, a área poderia crescer. Apesar das dificuldades
em obter crédito junto aos bancos e tradings, em Mato Grosso
espera-se um aumento de área de 12% na soja, segundo a Federação
de Agricultura do estado (Famato). No Paraná, de acordo com o
Deral, o crescimento do cultivo será de 3,2%. "A produtividade,
no entanto, vai depender do clima. Se houver El Niño, milho e
soja aumentam a produção e o arroz sofre", afirma
Cogo.
Uma incógnita
para o setor é quanto à área plantada com algodão.
Para alguns analistas, poderia haver aumento. Outros, no entanto, diante
da perspectiva de queda no preço internacional, apostam em redução
no plantio. "Imaginávamos manutenção da área,
mas com o aumento do custo dos insumos e a baixa do preço da
commodity, fica difícil prever", diz Décio Tocantins,
diretor-executivo da Associação Mato-grossense de Produtores
de Algodão (Ampa). Segundo ele, o produtor tem que decidir até
outubro, quando inicia o plantio de soja.
Miguel Biegai
Júnior, analista da Safras & Mercado, diz que a expectativa
é de, até o momento, a área manter-se estável,
com aumento no Oeste da Bahia. "Aquele produtor que está
envolvido estruturalmente com a cultura não tem como abandonar",
avalia.
Para o arroz,
a Associação Brasileira da Cadeia Produtiva do Arroz (Abrarroz)
espera produção de 12 milhões de toneladas (redução
de 5,6%). De acordo com o presidente da Abrarroz, Arthur Albuquerque,
esta queda é resultado da menor área cultivada em Mato
Grosso (33,4% inferior). "A pauta do ICMS e os problemas com armazenagem
estão desestimulando o plantio", avalia.
As vendas
de fertilizantes também indicam uma hesitação do
produtor quanto à tomada de decisão. Segundo dados da
Associação Nacional dos Difusores de Adubos (Anda), as
entregas em julho foram 10% inferiores ao mesmo período de 2003.
Para o diretor-executivo da Anda, Eduardo Daher, com a mudança
da alíquota da PIS/Cofins, muitos produtores esperaram para fazer
as compras a partir de agosto. Além disso, outro fator limitante
é o aumento do preço do produto (entre 30% e 40%), devido
à alta do petróleo. Para Pernambuco, isso indica que o
produtor vai investir menos.
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Os Estados Unidos reduziram a projeção para sua safra
de soja, o que causou estranheza e provocou forte alta de 5,5% dos preços
da soja na bolsa de Chicago. "Sem dúvida, foi o grande destaque
do relatório do Departamento de Agricultura dos EUA (Usda)",
diz Renato Sayeg, da Tetras Corretora.
De acordo
com a agência, os EUA deverão colher 78,29 milhões
de toneladas de soja em 2004/05, previsão 2% menor que a divulgada
em julho, de 80 milhões de toneladas. O número surpreendeu
o mercado, que esperava uma safra entre 78,5 milhões e 82,7 milhões
de toneladas. "O Usda foi mais pessimista que o mercado, contrariando
todas as expectativas, já que alguns dias antes eles haviam informado
que a lavoura está em grande forma", diz Sayeg. No início
da semana passada, o governo norte-americano informou que 73% das plantações
estavam em situação de ótima a excelente, ajudadas
pelo clima mais do que perfeito que tem predominado na região
do Meio-Oeste.
A euforia
com a safra norte-americana já vinha se refletindo nos preços.
Entre meados de maio - quando foi anunciada a primeira estimativa de
supersafra dos EUA - e a quarta-feira, antes da divulgação
do relatório de agosto, os preços haviam caído
45%.
A queda da
produtividade, em meio a um quadro climático tão favorável,
causou estranheza. O rendimento da lavoura foi reduzido em 2%, de 2.684
quilos (44,7 sacas) por hectare na estimativa de julho para os atuais
2.630 quilos (43,8 sacas). Em seu relatório, o Usda informa em
nota de rodapé que a produtividade registrada em julho não
foi feita com pesquisa em campo, mas com base em uma média histórica
apurada entre os anos de 1978 e 2002, e aplicada às áreas
cultivadas em cada estado.
Ainda assim,
o governo norte-americano reduziu sua projeção de preços
para a safra 2004/05. A cotação média deve ficar
entre 540 e 640 centavos de dólar o bushel (US$ 11,90 e US$ 14,11
a saca), 30 centavos abaixo da projeção anterior.
Logo após
o anúncio do relatório do Usda, os contratos da soja da
safra nova, com vencimento em novembro, abriram em forte alta e fecharam
a 585,25 centavos de dólar o bushel, ou US$ 12,90 a saca. Contratos
da safra velha, para setembro, encerraram o dia a 590 centavos de dólar
o bushel, ou US$ 13 a saca na bolsa de Chicago.
Para o Brasil,
a agência manteve sua previsão de safra de 66 milhões
de toneladas, porém reduziu as projeções de esmagamento,
exportações e elevou os estoques finais. Os embarques
foram reduzidos em 1,2%, para 23,07 milhões de toneladas de soja
em grão e os estoques finais foram revistos em 15,5% para cima.
Eles devem chegar a 21,47 milhões de toneladas.
O processamento
previsto é 1% menor na comparação com julho e deve
ser de 34,66 milhões de toneladas. Com isso, a produção
brasileira de farelo e óleo foi reduzida na mesma proporção
e deve ser de 27,37 milhões e 6,62 milhões de toneladas,
respectivamente.
O consumo
de farelo deve aumentar com o consumo de ração de aves
e suínos para exportação. O Usda prevê que
o consumo brasileiro de farelo será 3,2% maior em agosto, na
comparação com julho, alcançando 9,65 milhões
de toneladas. As exportações devem cair 3%, para 17,6
milhões de toneladas.
O consumo
interno de óleo foi mantido em 3,35 milhões de toneladas
e as exportações foram revisadas em 1,8% para baixo, para
3,31 milhões de toneladas.
"O quadro
mundial de oferta de soja continua muito confortável e aparentemente
a demanda não deve mostrar grandes picos", diz um trader,
de São Paulo. A China, que comandou a alta de cotações
no ano passado, teve sua projeção de importações
reduzida de 24 milhões para 23 milhões de toneladas.
O esmagamento
mundial de soja também foi reduzido em 1% na comparação
com julho e deve ser de 179,70 milhões de toneladas. O estoque
final é recorde, superando a marca de 50 milhões de toneladas
(50,20 milhões de toneladas) pela primeira vez na história.
Milho
O governo
elevou sua estimativa para a safra norte-americana de milho em 2,7%,
na comparação com julho, e prevê que a produção
poderá chegar a 277,46 milhões de toneladas. O número
foi revisado graças ao aumento da produtividade.
A produtividade
estimada para os EUA é de 9.345 quilos por hectare, 2,7% maior
que a de julho. A exemplo da soja, o rendimento de julho foi construído
a partir de uma série histórica apurada entre os anos
de 1960 e 2003 (com exceção do ano de 1988). Porém
enquanto na soja houve uma redução de produtividade, no
milho houve um aumento.
No Brasil,
a safra foi mantida em 43 milhões de toneladas, o consumo para
ração animal em 36,20 milhões e as exportações,
em 4 milhões de toneladas. A produção argentina
foi mantida, em 15,5 milhões de toneladas e as vendas externas,
em 11 milhões de toneladas.
A China deverá
produzir 120 milhões de toneladas, ou 4,3% acima da estimativa
de julho.
Algodão
No
algodão, o Usda surpreendeu e elevou a safra norte-americana
além do que esperava o mercado. Enquanto analistas apostavam
em volume entre 18,25 milhões e 19,3 milhões de fardos,
o governo norte-americano informou que os EUA deverão colher
20,18 milhões de fardos em 2004/05. O volume é superior
em 12,1% à estimativa de julho, de 18 milhões de fardos
de algodão.
A agência
prevê que o consumo norte-americano deve passar de 5,8 milhões
para 5,9 milhões de fardos e as exportações podem
ser 6,2% maiores na comparação com a estimativa de julho,
chegando a 12 milhões de fardos.
Para o Brasil,
o Usda reduziu a safra de 6,5 milhões para 6 milhões de
toneladas. Já as exportações foram revistas em
15% para cima, para 2,3 milhões de fardos.
Trigo
O
Usda não trouxe nenhuma novidade para o Brasil. A safra foi mantida
em 5 milhões de toneladas, as importações em 5,5
milhões e as exportações, em 100 mil toneladas
para 2004/05.
A safra argentina
foi revista em 3,5% para cima, para 14,5 milhões de toneladas.
As exportações devem ser de 8,5 milhões de toneladas.
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